Recentemente, um importante jornal americano trouxe uma reportagem inusitada, que tratava do uso potencial de uma droga ilegal, o MDMA (ou ecstasy, como é conhecido), como ferramenta para auxiliar casais que estão com problemas no casamento. Existe, de fato, um ramo da Medicina e, também, da Psiquiatria que estuda o uso controlado de drogas psicotrópicas para ajudar pessoas com vários tipos de condição, entre elas o estresse pós-traumático e casos graves de ansiedade e de depressão.
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Drogas psicotrópicas, ou psicoativas, são aquelas que agem no sistema nervoso central e alteram a função do cérebro, de modo que a percepção, o humor e mesmo a consciência mudam. Um exemplo é a psilocibina, a substância encontrada nos “cogumelos mágicos”, que vem sendo estudada como auxiliar do tratamento da depressão. Outros exemplos bem conhecidos são o uso de pequena quantidade de maconha ou de álcool para relaxar.
E o MDMA? De que forma, em tese, ele poderia ajudar um casamento? Pesquisadores que estudam o assunto justificam que, quando usado, por exemplo, durante uma sessão de terapia de casal, a droga aumentaria a capacidade de comunicação e até a empatia, ajudando o casal a se conectar.
A terapia de casal assistida por MDMA, inclusive, chegou a ser realizada nos Estados Unidos até os anos 1980, quando a droga se tornou ilegal. Entretanto, não há consenso, nem sequer um número grande de estudos, capazes de validar o uso de ecstasy por um casal que está infeliz.
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A verdade é que muita gente sonha resolver questões do amor com um comprimido ou uma droga. Seria infinitamente mais fácil, mais rápido, mais barato e menos trabalhoso. E nem só questões do amor. Anos atrás, chegou-se a falar em uma pílula que replicaria os benefícios que a atividade física traz ao corpo. Evidentemente, nada saiu do papel.
A pergunta que devemos nos fazer é: onde está o problema? É no cérebro de cada uma das pessoas que forma o casal, cuja função precisa ser alterada por uma droga para que o casamento entre nos eixos? Ou os problemas vêm de outro lugar? Assim analisada, a primeira hipótese dificilmente se mantém.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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