Começo afirmando o óbvio: eu não sou especialista em guerras. Não sou especialista em nada, que dirá sobre guerras.
A verdade é que esse texto é sobre um estômago revirado. Sobre um desconforto que me impede de ignorar o assunto. Que me dói na alma. Da minha incapacidade de escrever uma coluna falando sobre qualquer assunto trivial e ignorar que em algum lugar existe um pai que não retornará a casa, uma mãe que eternamente sofrerá com a dor da saudade do filho, pessoas que perderão suas casas, que sentirão eternamente os efeitos do egoísmo de alguns. Uma guerra torna todo o resto irrelevante. O mundo perde o brilho.
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Não pretendo ser pessimista aqui, em cada situação que foge do meu controle, busco sempre enxergar o aprendizado ou o lado positivo. Aqui não há.
O ano é 2022. Acabamos de passar por uma pandemia. Na verdade, ainda não passamos. Estamos aqui lutando para retomar o que chamamos de normalidade, ou será que o que vivemos já é a normalidade?
Fico me lembrando de todos os textos, das pessoas cantando nas janelas, de tanta gente jurando que sairíamos dessa melhores do que entramos. Do quanto acreditamos que as pessoas a partir daquele momento se tornariam mais humanas, mais empáticas, mais generosas. Que finalmente os interesses coletivos prevaleceriam sobre os individuais.
E aqui estamos, vivendo uma guerra. Algo tão primitivo que achei que meus filhos apenas saberiam a respeito pelos livros de História. E então, pensariam: “imagina que absurdo, antigamente se matava como forma de solucionar conflitos”.
Me sinto frustrada, como se os últimos anos de nada tivessem servido. Como se fosse aceitável causar dor ao outro. Como se a vida já não oferecesse desafios por si só e precisássemos buscar outros problemas para preencher um vazio.
Leio livros, assisto documentários, fico aqui tentando explicar o inexplicável. Como se fosse possível compreender uma mente doente. A sede de poder, a falta de sensibilidade. O momento em que dominar passou a ser mais importante que vidas.
É, Lulu Santos. Sei que a música foi lançada em 1994, mas nunca foi tão atual: “e assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade”.
Paula Drumond Setubal é advogada, mãe de gêmeos e produtora de conteúdo.
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