O setor industrial do Brasil registrou perdas bem acima do esperado em janeiro depois de um respiro no mês anterior, em um início de 2022 ainda com gargalos nas cadeias de insumo e dificuldades de retomada.
A produção industrial brasileira teve em janeiro queda de 2,4% na comparação com o mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) hoje.
O resultado marcou a perda mais intensa para um mês de janeiro desde 2018 (2,6%) e foi bem pior do que expectativa em pesquisa da Reuters de contração de 1,9%. Também elimina grande parte do ganho de 2,9% registrado em dezembro.
Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a produção despencou 7,2%, contra projeção de queda de 6,0%.
Com esses resultados, o setor fica 3,5% abaixo do patamar de pré-pandemia, em fevereiro de 2020, destacou o IBGE.
“(…) o mês de janeiro está bem caracterizado pela perda de dinamismo e perfil disseminado de queda”, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo, explicando que o avanço de dezembro pode estar relacionado à antecipação da produção antes de férias coletivas e paralisações em janeiro.
“De forma geral, começamos 2022 num padrão parecido com o ano de 2021, dezembro do ano passado foi um ponto fora da curva”, completou ele, lembrando que o ano passado foi marcado por oito taxas mensais negativas.
A indústria brasileira registrou em 2021 crescimento de 4,5%, recuperando as perdas de 3,4% de 2020, de acordo com os dados do PIB divulgados pelo IBGE. Mas terminou o ano passado com contração de 1,2% no quarto trimestre sobre os três meses anteriores.
No fim de fevereiro, o governo reduziu as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25% para todos os produtos com exceção de tabaco. Com a medida, o governo espera ajudar a conter a inflação e dar um impulso à indústria.
Com a perspectiva para 2022 de juros altos e inflação persistente, a indústria brasileira iniciou o ano com 20 das 26 atividades registrando contração da produção. O cenário pode ainda se agravar depois de a Rússia invadir a Ucrânia, com potenciais efeitos sobre a inflação e o crescimento mundial.
“Há questões conjunturais como encarecimento do custo de produção, escassez de insumos e matérias-primas por conta da pandemia e juros e inflação mais altos, salários menores e precarização do emprego”, completou Macedo.
“Sabemos que o conflito geopolítico vai trazer dificuldades na obtenção de insmuos, componentes e matérias-primas, e intensificar um movimento que já vem ocorrendo por conta da pandemia. Quais setores serão mais ou menos atingidos temos que aguardar.”
Em janeiro, as principais influências negativas vieram das contrações na fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (-17,4%) e indústrias extrativas (-5,2%).
Nos dois últimos meses de 2021, essas duas atividades haviam acumulado ganhos de 18,2% e de 6,0%, respectivamente.
Entre as grandes categorias econômicas, as produções de bens de consumo duráveis (-11,5%) e de bens de capital (-5,6%) tiveram as maiores perdas em relação a dezembro. Bens intermediários recuaram 1,9% e bens de consumo semi e não duráveis apresentaram queda de 0,5%.
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