Outro dia, recebi de um amigo uma entrevista muito interessante de Robert Pattinson. O ator, que ficou famoso pela sua interpretação de Edward Cullen no filme “Crepúsculo”, agora encarna o Batman.
Nessa entrevista, o ator dizia que tinha procurado entender a motivação psicológica de Bruce Wayne (a figura “pública” de Batman) para a sua busca por justiça na figura do super-herói e que havia se lembrado de uma cena em que Batman é inquirido sobre o que a sua família diria se um dia ele manchasse, como Batman, o legado que seus pais tinham deixado para ele. Batman responde no filme: “Se eu não fizer isso, não há mais nada para mim”. Robert disse ao entrevistador que via essa ligação de Batman com a procura obsessiva por justiça quase como se fosse um vício em drogas.
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Em outra entrevista, o diretor dessa versão de Batman, Matt Reeves, confessou ter se baseado no cantor Kurt Cobain (já morto devido à dependência de drogas) para construir uma personalidade mais sombria do super-herói. Reeves disse que a droga da qual Batman é viciado é o desejo dele por vingança. É possível fazer uma comparação como essa?
Em geral, quem se vicia em uma droga já fez uso dela no passado. Quem experimenta uma droga busca uma forma de prazer, que, claro, o psicoativo dá. A sensação é tão gostosa que a pessoa volta a buscá-la mais e mais vezes. Até que chega uma hora em que ela para de dar prazer.
Melhor dizendo, a droga continua a gerar prazer, mas a pessoa não busca mais isso. Ela busca se livrar da sensação ruim, do desconforto que a falta daquela substância traz.
O dependente passa, então, a ser “obrigado” a usar a droga, sob o risco de ter um desprazer enorme que ele não quer sentir. Quando isso acontece, o mal que a droga traz a alguém já não afeta apenas ele, mas quem vive com ele ou ao seu redor. É nesse momento que podemos dizer que esse alguém está dependente.
O jovem Bruce Wayne viu seus pais serem assassinados por um assaltante e fez um juramento de passar o resto da vida combatendo o crime. Nada mais importa para ele, nem a própria vida.
Qualquer comportamento que torna uma pessoa obsessiva a ponto de perder elos sociais – afinal, Batman não é um sujeito solitário? -, a ponto de perder a si própria, como se nada mais importasse que não aquele único impulso (droga, no caso do dependente; retaliação, no caso do herói) é um comportamento igual ao de um viciado.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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