Para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores belgas, o país europeu anunciou recentemente que milhares de servidores federais não vão mais precisar responder ligações e e-mails de seus chefes fora do horário de trabalho. Cerca de 65 mil trabalhadores do governo ganharam “o direito de se desconectar”, na esperança de ter um melhor equilíbrio entre vida e trabalho.
Agora, em outra política de valorização do colaborador, os trabalhadores na Bélgica terão uma semana útil de quatro dias. O pacote de reformas acordado pela coalizão multipartidária do governo do país vai dar também aos trabalhadores o direito de desligar dispositivos de trabalho e de ignorar mensagens relacionadas ao trabalho depois do expediente, sem que tenham medo de ser repreendidos.
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O primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, disse em uma coletiva de imprensa anunciando o pacote de reformas: “Passamos dois anos difíceis. Com este acordo, estabelecemos um farol para uma economia mais inovadora, sustentável e digital. O objetivo é poder tornar as pessoas e os negócios mais fortes.” O ministro do trabalho belga, Pierre-Yves Dermagne, disse que a decisão cabe ao trabalhador: “Isso deve ser feito a pedido do empregado, com o empregador apresentando razões sólidas para qualquer recusa”.
Os colaboradores poderiam requisitar uma semana de quatro dias como um teste dentro de seis meses. Se assim desejarem, podem permanecer com a jornada encurtada ou voltarem ao normal. A semana abreviada é diferente se comparada com o que outros países e empresas têm anunciado. Os países e empreendimentos têm tirado um dos dias da semana sem fazer com que se pague em horas a mais nos outros quatro dias.
O programa belga condensa a atual semana de cinco dias em quatro dias de trabalho. Na prática, isso significa que uma carga de 38 horas semanais seria mantida, com um dia a mais de folga a compensar a jornada mais longa. Os colaboradores trabalhariam mais horas em cada um dos quatro dias.
Confira outros 5 países que estão testando uma semana mais curta:
1 – Escócia
A Escócia já aderiu à semana de quatro dias antes. A decisão foi o resultado de uma promessa de campanha do partido vencedor das eleições. Os trabalhadores terão suas horas reduzidas em 20%, mas não vão sofrer nenhuma perda em compensação. O programa será patrocinado pelo partido, que tem um fundo de R$ 69,8 milhões (valor das libras esterlinas convertidas hoje, 19). Algumas empresas escocesas já tinham testado o modelo.
2 – Espanha
A Espanha anunciou que faria um teste com a semana de quatro dias. O governo espanhol concordou com uma carga horária semanal de 32 horas, ao longo de três anos, sem cortar as compensações dos trabalhadores. O programa piloto, similar ao da Escócia, pretende reduzir o risco dos empregadores com um auxílio governamental que paga a diferença quando os colaboradores optarem pela semana de quatro dias.
3 – Japão
O Japão segue o exemplo da Espanha. O país está considerando implementar uma semana de trabalho de quatro dias, com o governo liderando esse movimento. O que é surpreendente, dada a cultura de trabalho frenético do Japão, que é tão ruim ou pior do que a propensão dos Estados Unidos de trabalhar arduamente por longas horas, com pouco ou nenhum tempo de férias. No Japão, as longas horas extenuantes dos assalariados levavam à morte por excesso de trabalho. É tão comum que no Japão há um termo para isso – “karōshi”.
A Microsoft local já tentou uma semana menor, anteriormente, em um programa chamado “Work-Life Choice Challenge 2019 Summer”. A companhia deu a seus 2.300 funcionários a oportunidade de “escolher uma variedade de formas de trabalhar, de acordo com as circunstâncias da função e da vida de cada um.” O objetivo era ver se haveria um aumento correspondente na produtividade com a redução das horas. Os resultados do experimento foram positivos, indicando que os funcionários estavam mais felizes e 40% mais produtivos.
4 – Islândia
A Escócia se inspirou nos resultados satisfatórios da Islândia para experimentar o modelo de quatro dias. Um estudo recente feito com 2.500 trabalhadores islandeses, mais de 1% da força de trabalho, pretendia identificar se a jornada reduzida levava à maior produtividade e a mais qualidade de vida. Os testes foram feitos em diferentes locais de trabalho.
Entre 2015 e 2019, a Islândia fez testes de 35 a 36 horas de jornada semanal, sem nenhum corte no pagamento. Para garantir o controle de qualidade, os resultados foram analisados pela Autonomy e pela Associação pela Sustentabilidade e Democracia. Baseadas nos resultados surpreendentes, os sindicatos islandeses negociaram a redução na jornada. O estudo também levou a uma mudança significativa na Islândia, em que aproximadamente 90% da população trabalhadora agora têm jornada reduzida ou outras flexibilizações. As taxas de estresse laboral e burnout caíram. Houve uma melhora no equilíbrio entre vida e trabalho.
5 – Emirados Árabes Unidos
Os Emirados Árabes começaram 2022 como a primeira nação no mundo a adotar uma jornada semanal de quatro dias e meio. “O governo do país e as entidades locais vão operar em uma jornada semanal de quatro dias e meio, com o fim de semana começando ao meio dia da sexta-feira até o domingo.
Enquanto isso, nos Estados Unidos a bola está com o congresso
O deputado democrata Mark Takano fez um projeto de lei que reduziria a jornada habitual de 40 horas semanais nos Estados Unidos para 32 horas semanais. Takano disse em uma coletiva de imprensa: “Uma semana de trabalho mais curta vai beneficiar empregadores e empregados”.
Takano acrescentou: “Programas pilotos liderados por governos e empresas ao redor do mundo têm mostrado resultados promissores, ao mesmo tempo em que a produtividade subiu e os trabalhadores alegaram ter um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida fora dele, além de menor necessidade de atestados, de disposição crescente e menores custos com cuidados com os filhos, porque eles têm passado mais tempo com a família.”
O deputado disse: “Jornadas semanais menores também têm mostrado que haverá uma redução no uso de planos de saúde, menores custos operacionais para as empresas e com um impacto positivo no meio ambiente, como mostram alguns estudos.” Takano ressalta que os trabalhadores se beneficiariam dessa mudança, assim como a proposta vai permitir que trabalhadores não isentos recebam hora extra para qualquer hora trabalhada a mais que as 32 horas semanais. Uma jornada semanal reduzida seria um grande passo para promover um maior equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
*Jack Kelly é colaborador da Forbes EUA e tem 20 anos de experiência em recrutamento. É fundador da start-up WeCruitr, que atua no setor.
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