Igualdade de gênero pode impulsionar o crescimento econômico?

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Por Carolina Cavenaghi*

Frequentemente sou questionada: “por que investir em diversidade de gênero?”. A resposta óbvia e correta é dizer que essa é a coisa certa a ser feita. Podemos ir além, destacando que a igualdade de gênero está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento sustentável. Porém, apesar de representar metade da população mundial, as mulheres enfrentam privações sistêmicas em relação aos homens em todas as sociedades. E nós só temos a perder com isso.

Segundo Maurice Obstfeld, ex-economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), “a igualdade de gênero é mais do que uma questão moral, é uma questão econômica vital. Para que a economia global alcance seu potencial, precisamos criar condições nas quais todas as mulheres possam atingir o seu potencial”.

A criação de condições para o atingimento dos potenciais começa pela base, pela educação. Um estudo recente do Citigroup e da Plan International estimou que, se um grupo de economias emergentes garantisse que 100% de suas meninas concluíssem o ensino médio, isso poderia levar a um aumento duradouro de seu PIB de 10% até 2030. E isso é extremamente relevante.

Mas a realidade é bem diferente. Ainda há muitas mulheres e meninas com 15 anos ou mais que são analfabetas, sujeitas à extrema pobreza e ao casamento infantil. A desigualdade educacional é uma das grandes infrações dos direitos das mulheres e uma barreira importante ao desenvolvimento social e econômico.

 

A pandemia provocada pelo Covid-19 agravou ainda mais essa situação. Segundo pesquisa do Fundo Malala, 129 milhões de meninas já estavam fora da escola em todo o mundo antes da pandemia. E o pior: estima-se que outras 20 milhões podem nunca mais voltar para a sala de aula após a pandemia.

A revista britânica “The Economist” publicou um artigo intitulado “Covid-19 threatens girls’ gigantic global gains” (“Covid-19 ameaça grandes conquistas globais das garotas”, em tradução livre), que trata sobre o risco que a pandemia representa globalmente para que as meninas realizem todo seu potencial.

O artigo defende que estamos vivendo um momento crucial, no qual todos os países precisam investir em suas jovens. Caso contrário, o risco de regressão é real sobre tudo aquilo que tudo foi conquistado até aqui.

Portanto, é crucial investir na educação e no futuro das meninas. Afinal, quando falamos em jovens que não vão realizar o seu potencial, estamos colocando não só o futuro delas mas o de todos em jogo. De acordo com a Iniciativa de Educação de Meninas das Nações Unidas, quando a renda de uma mulher instruída aumenta, ela investe 90% dessa renda de volta em sua família.

Oferecer mais acesso a educação, oportunidade financeira e saúde permite que as mulheres tenham mais oportunidades em posições de liderança em suas comunidades locais. Investir em mulheres significa amplificar suas vozes, gerando impactos sociais positivos e crescimento econômico.

Esse número é um dos muitos que sustentam a conclusão de que educar uma mulher gera crescimento econômico. Quanto de crescimento, exatamente? Segundo uma estimativa do McKinsey Global Institute, US$ 12 trilhões poderiam ser adicionados ao PIB global até 2025 por meio da paridade de gênero, considerando o melhor cenário de crescimento.

Perguntaram a Malala Yousafzai, a ativista paquistanesa conhecida mundialmente pela defesa dos direitos humanos das mulheres e do acesso à educação, que tipo de mundo ela gostaria de ver para as meninas e as mulheres à medida que nos reconstruímos da Covid-19. E ela respondeu: “Não quero voltar ao normal”. Malala acredita que esta crise ofereceu ao nosso mundo uma chance de mudar para melhor. E eu concordo com ela.

Desde que comecei a estudar e a pesquisar sobre equidade de gênero, aprendi que esse tema vai muito além do que podemos imaginar. Se queremos avançar nessa agenda, é preciso ampliar o nosso olhar.

Portanto, por que investir em diversidade de gênero?

Porque igualdade de gênero não é somente a coisa certa a ser feita.

Mas, também, a mais inteligente.

**Carolina Cavenaghi é cofundadora e CEO da Fin4she, uma plataforma que conecta e impulsiona negócios e pessoas através da diversidade. É responsável por liderar e implementar projetos que promovem o protagonismo e a independência financeira feminina, buscando ampliar e fortalecer a presença de mulheres no mercado de trabalho. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil e do Young Women Summit, eventos que já reuniram milhares de pessoas. Foi executiva da Franklin Templeton por mais de dez anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. Atualmente mora em Teresina, no Piauí, é mãe do Tom e do Martin e, através da Fin4she, tem a missão de transformar a forma como o mercado e as pessoas se conectam com a equidade de gênero. Escreve mensalmente para a EXAME Invest.

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