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Imagine um post cuidadosamente elaborado para irritar, dividir opiniões e mexer com os nervos do público. O objetivo é claro: gerar engajamento a qualquer custo. O mundo digital vive da atenção – e nada chama mais atenção do que a polêmica. O conceito de Rage Bait (“atrair o público pela raiva”, em tradução livre para o português) nasce dessa premissa: uma técnica que manipula a indignação e as expressões públicas de ódio para garantir o máximo de reações.
Em um mundo onde o engajamento digital é um dos ativos mais valiosos para marcas e influenciadores, essa abordagem pode ser eficaz. Mas quando se trata do mercado de luxo, que se fundamenta na busca incessante pela elegância, exclusividade e reputação imaculada, o rage bait teria realmente algum espaço?
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Provocação calculada ou risco desnecessário?
A visão sobre o uso de rage bait no segmento de luxo divide opiniões. Para Jorge Grimberg, escritor, especialista em tendências e mentor de carreiras criativas, é possível usar a estratégia de forma provocativa e inteligente. “Funciona como uma provocação planejada, geralmente relacionada a temas sensíveis, como gênero ou sexualidade”, diz.
“Porém, é fundamental que a marca esteja preparada para lidar com as consequências de uma polêmica que possa fugir ao controle”, explica Grimberg. Ele cita a Balenciaga como exemplo de uma grife que abraçou a ironia sem perder o tom exclusivo, criando peças que vão de bolsas inspiradas em sacolas do Ikea a tênis desgastados vendidos por cifras altíssimas.
Por outro lado, Malu Albertotti, consultora em mercado de luxo e CEO do Instituto do Luxo, vê o rage bait como incompatível com os valores do setor. “Marcas de luxo constroem relações emocionais positivas com seus consumidores, baseadas em tradição e sofisticação. Depender da raiva para gerar atenção vai na contramão dessa essência”, defende. Para ela, essa abordagem pode corroer o significado do luxo, prejudicando sua imagem no longo prazo.
Enquanto o rage bait atrai olhares pelo choque, o luxo prospera em um universo onde autenticidade e desejo são cuidadosamente cultivados. Apostar em táticas sensacionalistas, que muitas vezes beiram o oportunismo, pode acabar afastando um público que valoriza exclusividade e refinamento.
Luxo e as consequências de provocar o público errado
No curto prazo, o rage bait pode gerar picos de visibilidade, mas o impacto para marcas de luxo pode ser severo. Grimberg alerta que essa estratégia pode diluir o valor intrínseco de uma marca, transformando o que deveria ser desejável em algo que perde relevância cultural. “O risco está em desviar o significado do luxo e torná-lo superficial, algo que vai contra os princípios desse mercado”, ressalta.
Albertotti é ainda mais enfática. Para ela, o rage bait pode colocar em xeque a credibilidade de marcas consolidadas. “O luxo é sustentado por um pilar de confiança e um vínculo emocional que ultrapassa o ato de consumo. Atitudes sensacionalistas podem comprometer essa conexão, afastando consumidores leais e exigentes”, afirma. Além disso, em um cenário onde consumidores esperam ética e responsabilidade, uma postura incoerente pode gerar críticas contundentes.
Engajamento com autenticidade e propósito
Como, então, gerar engajamento sem abrir mão dos valores centrais do luxo? Grimberg acredita que a resposta está em criar conteúdos que conversem com o público de maneira genuína, mantendo a essência da marca. Ele cita exemplos como a Loewe, que utiliza o TikTok para explorar temas introspectivos, e a Bottega Veneta, que adotou o silêncio estratégico ao abandonar o Instagram, transformando sua comunicação em uma experiência alinhada à sua identidade.
Para Albertotti, a fusão de inovação e tradição é o caminho ideal. “As marcas precisam dialogar com o momento atual sem abandonar suas raízes. É possível criar campanhas inspiradoras, visualmente marcantes, que reforcem valores sólidos”, destaca. A personalização, por exemplo, tem sido um diferencial, fortalecendo a conexão com consumidores em um nível mais íntimo e exclusivo.
A nova geração e o futuro do marketing de luxo
Mesmo com um público jovem mais receptivo a provocações, Albertotti acredita que a abordagem ética e ponderada ainda é a mais promissora. “As novas gerações valorizam marcas que defendem causas e se posicionam com responsabilidade. Provocação pelo simples choque dificilmente construirá um legado sólido”, analisa.
No fim das contas, a verdadeira inovação no luxo passa por equilibrar modernidade e tradição, sem comprometer a essência. Evoluir é necessário, mas sempre com respeito à base de consumidores que, mais do que produtos, buscam histórias, valores e autenticidade.
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