Wellness em Alta, Saúde Mental em Baixa: o Paradoxo por trás do Mercado de Bem-estar

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O mercado de wellness, que abrange práticas voltadas ao cuidado físico e mental, está em plena expansão – e com números impressionantes. Entre 2020 e 2022, o setor cresceu 12%, movimentando cerca de 5,6 trilhões de dólares globalmente. No Brasil, o mercado atingiu aproximadamente 96 bilhões de dólares, com destaque para os segmentos de cuidados pessoais e alimentação saudável, que juntos somam 69,6 bilhões – colocando o país em 12º lugar no ranking mundial, segundo o Global Wellness Institute (GWI).

Apesar desse crescimento, o desafio de melhorar a saúde mental persiste. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o Brasil lidera o ranking global de estresse, com 74% da população enfrentando episódios que comprometem a qualidade de vida. Além disso, o Ministério da Saúde apontou que 45% dos brasileiros relatam sintomas de ansiedade, sobretudo mulheres e jovens de 18 a 24 anos, que são os mais impactados.

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Para o Dr. Arthur Guerra, psiquiatra especialista em saúde mental e estilo de vida, esse cenário está diretamente ligado às desigualdades socioeconômicas. “Os índices alarmantes de saúde mental estão profundamente conectados a fatores como pobreza, desemprego e insegurança econômica”, afirma. Além disso, ele aponta que a falta de estrutura e os desafios ambientais, aliados ao uso excessivo da tecnologia, também contribuem para esse quadro.

Em uma conversa exclusiva, Guerra detalhou como o conceito de wellness se difere das práticas tradicionais de saúde. “Wellness vai além da ausência de doenças; ele envolve um bem-estar integral, que contempla a saúde física, mental, emocional, social e financeira. Não se trata apenas de tratar problemas pontuais, mas de cultivar uma vida equilibrada. Já as práticas tradicionais, muitas vezes, se concentram no tratamento de doenças instaladas”, explica o especialista.

Divulgação

Arthur Guerra, médico psiquiatra e colunista da Forbes

Por outro lado, Mari Krüger, cientista e influencer, adota uma visão mais crítica sobre o mercado de wellness, especialmente quando o assunto é o uso de suplementos e produtos que prometem resultados rápidos. “O mercado de suplementos está avaliado em trilhões, enquanto a indústria farmacêutica gira em torno de bilhões”, observa. Ela alerta que, apesar dos grandes investimentos, muitas dessas promessas acabam não entregando o esperado. “Estamos gastando muito, mas o retorno é pouco. O problema é a falta de personalização. O que funciona para todos, na verdade, não funciona para ninguém”, destaca Krüger, defendendo a necessidade de soluções adaptadas a cada indivíduo.

A falta de personalização preocupa a especialista, que observa que muitas pessoas buscam alternativas rápidas sem antes consultar um diagnóstico adequado. “Procurar suplementos sem um diagnóstico preciso apenas adia o tratamento correto e pode tornar a solução do problema ainda mais difícil”, explica. Ela também alerta sobre os riscos da suplementação descontrolada, especialmente com vitaminas lipossolúveis, que podem causar intoxicação e até complicações graves. “Suplementação não é brincadeira. Ela deve ser feita sob orientação especializada. No pior cenário, pode até levar à falência renal”, alerta.

Reprodução/Instagram

Mari Krüger, cientista e influencer

Dr. Arthur Guerra também aponta as limitações dos produtos dentro do mercado de wellness. “Suplementos e dietas podem ser úteis para quem já tem hábitos saudáveis, mas por si só não são soluções milagrosas. Eles têm um papel importante, mas precisam de acompanhamento profissional”, afirma. Para ele, o foco deve ser nas práticas respaldadas pela ciência, como a atividade física regular, uma alimentação balanceada e a qualidade do sono, todas com comprovação científica de benefícios para a saúde mental e física. “Exercícios regulares, tanto aeróbicos quanto anaeróbicos, têm comprovação científica de eficácia, como a redução de doenças crônicas, o controle de peso e a melhoria do humor e da autoestima”, explica.

Krüger, por sua vez, critica a busca incessante por soluções rápidas. “Vivemos em um mundo acelerado, onde a saúde virou mais um produto. Como se pudéssemos simplesmente comprar bem-estar”, observa. Ela traça um paralelo entre o mercado de wellness e as apostas, ressaltando a obsessão por padrões idealizados, seja no corpo ou nas finanças. “Hoje, vemos nas redes sociais pessoas vendendo a ideia do corpo perfeito e da saúde ideal com suplementos ou dietas milagrosas. Mas muitas vezes, a realidade está distante disso, com intervenções como cirurgias e outros métodos que nada têm a ver com o que é mostrado”, critica.

Apesar das críticas de especialistas como Krüger e Dr. Arthur Guerra, a busca por práticas de wellness continua forte, muitas vezes sem uma análise crítica sobre seus reais benefícios. Como Krüger bem pontua, “a experiência pessoal é sempre tendenciosa”, e o efeito placebo desempenha um papel importante nesse processo. “As pessoas estão atrás de soluções milagrosas para problemas complexos”, afirma. A resposta, para ela, está em uma abordagem mais consciente, que envolva o diagnóstico médico adequado e o entendimento dos limites de cada prática, para promover a saúde física e mental de maneira eficaz e sustentável.

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