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Muita gente teme a verdadeira intimidade enquanto, ao mesmo tempo, teme a solidão. Esse paradoxo emocional frequentemente leva as pessoas a formarem o que é chamado de “vínculo de fantasia” — uma ilusão de conexão que faz com que se sintam próximas, mas mantendo uma distância emocional.
O vínculo de fantasia atua como um mecanismo de defesa: ele oferece uma falsa sensação de segurança e proteção, mas, no fim das contas, impede que a intimidade genuína se desenvolva. Esse padrão tem origem em nossas primeiras experiências e nos leva a recriar dinâmicas defensivas de relacionamento que aprendemos na infância.
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Com o tempo, esse comportamento nos impede de experimentar a plenitude do amor e da intimidade. Embora possamos nos sentir superficialmente conectados, a distância emocional acabará crescendo, deixando-nos com a sensação de sermos incompreendidos ou insatisfeitos em nossos relacionamentos. Sem reconhecer o vínculo de fantasia e o papel que ele desempenha, corremos o risco de permanecer presos em um ciclo de conexões superficiais.
Veja duas formas que o vínculo de fantasia pode prejudicar seu relacionamento:
1. Evitar Conflitos Reais e Manter uma Harmonia Superficial
Em um vínculo de fantasia, ambos os parceiros podem evitar conflitos reais para preservar a ilusão de conexão e segurança emocional. Eles podem ignorar problemas ou cair em um padrão passivo de coexistência, em vez de enfrentarem os problemas.
Embora evitar conflitos possa aparentemente preservar a harmonia, uma pesquisa de 2002 publicada no The International Journal of Conflict Management sugere que isso pode ter diferentes efeitos dependendo da força do relacionamento.
Em relacionamentos com uma base sólida de confiança e respeito, evitar conflitos pode temporariamente manter a paz e a produtividade.
Contudo, em relacionamentos mais frágeis, essa evitação tende a ser contraproducente, já que problemas não resolvidos podem crescer e causar mais danos.
No contexto de um vínculo de fantasia — onde a distância emocional e a defensividade já estão presentes — evitar conflitos reais impede uma comunicação saudável e a resolução de questões que poderiam fortalecer o relacionamento. Com o tempo, isso reforça a ilusão de proximidade enquanto mantém a verdadeira intimidade fora de alcance.
Para resolver conflitos de maneira eficaz, considere estas abordagens:
Mentalidade de resolução de problemas: Encare os desentendimentos com foco em soluções, evitando posturas defensivas. Técnicas como: escuta ativa, uso de declarações com “eu” para expressar sentimentos e busca de compromissos podem ajudar.
Expressar a raiva: Apesar do que muitos pensam, expressar raiva pode ser transformador para romper barreiras à intimidade genuína. Essas emoções, frequentemente enraizadas em experiências passadas não resolvidas, são comuns em relacionamentos onde o vínculo de fantasia está presente.
Abraçar a vulnerabilidade: Expressar emoções exige vulnerabilidade, o que pode ser desafiador, mas é essencial para uma conexão autêntica. Ambos os parceiros precisam sentir-se seguros para compartilhar seus sentimentos sem medo de julgamento ou retaliação.
Uma pesquisa publicada em 2022 revelou que, ao abraçar a vulnerabilidade, os casais podem romper padrões habituais e não saudáveis, substituindo-os por conexões mais conscientes e satisfatórias.
2. Perda da Identidade Individual
No vínculo de fantasia, há uma tendência de os parceiros perderem de vista suas próprias identidades em favor de criar a ilusão de um relacionamento ideal. Isso ocorre quando os indivíduos começam a fundir seu senso de identidade com o relacionamento, negligenciando seus desejos, interesses e crescimento pessoal em prol de objetivos compartilhados.
Por exemplo, um parceiro pode suprimir suas próprias necessidades ou paixões para agradar o outro ou evitar conflitos. Com o tempo, reprimir seus desejos pode levar a um sentimento de desconexão com seu verdadeiro eu. Em casos mais graves, essa dinâmica pode gerar dependência emocional, onde um ou ambos os parceiros sentem que precisam do relacionamento para se sentirem completos ou validados.
Quando os parceiros não alimentam seu crescimento individual, isso cria um desequilíbrio. Um dos sinais mais evidentes dessa codependência é quando os indivíduos começam a falar como uma unidade — usando “nós” em vez de “eu” ou “mim”.
De acordo com uma pesquisa de 2015 publicada no Journal of Family Issues, o casamento e a coabitação causam mudanças na identidade tanto pública quanto privada, deslocando o foco de “eu” para “nós”. As entrevistas realizadas no estudo mostram que as pessoas passam por uma “dupla transformação”:
Como veem a si mesmas: Podem enxergar sua identidade mais como parte de um casal ou entidade compartilhada do que como indivíduos.
Como são vistas pelos outros: A sociedade e os círculos sociais esperam que ajam conforme seu novo status de casados ou coabitantes, moldando como se apresentam publicamente.
Para evitar a perda de identidade, os casais podem investir em atividades individuais (como hobbies ou metas pessoais), ao mesmo tempo que criam experiências compartilhadas que reflitam ambas as identidades. Assim, a transição de “eu” para “nós” não precisa significar a completa perda da individualidade.
Encontrando as Origens do Vínculo de Fantasia
Se você está preocupado com a possibilidade de estar em um vínculo de fantasia, é essencial observar sinais como distância emocional, interações baseadas em rotinas e falta de engajamento emocional profundo. Esse processo de autoanálise pode ser desconfortável, mas conversas abertas e reflexivas entre os parceiros são necessárias.
Acima de tudo, os casais devem focar nas origens do vínculo de fantasia. Isso inclui examinar experiências passadas — como dinâmicas da infância, relacionamentos anteriores e inseguranças individuais — que possam ter influenciado a criação dessa conexão idealizada. A terapia e a autorreflexão são soluções ideais para desvendar essas origens e também oferecem um caminho para romper com as restrições impostas pelo vínculo de fantasia.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.
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