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A história de jovens empreendedores de tecnologia lançando ideias bilionárias a partir de suas garagens já virou praticamente uma lenda. É um enredo conhecido. Mas, de vez em quando, alguém foge desse padrão. É o caso de Gabriel Llaurado, americano nascido na Flórida, um clássico empreendedor de tecnologia em muitos aspectos. Ele começou como cientista da computação, teve uma ideia brilhante e transformou um closet de sua casa no ponto de partida para uma nova empreitada, que envolve a criação de algo para o prato das pessoas. Especificamente, carne bovina. E não qualquer carne: são cortes premium e especiais, difíceis de encontrar em qualquer supermercado de bairro.
A inspiração veio durante o tempo em que Llaurado viveu em Nova York. Enquanto trabalhava como consultor de tecnologia e na rede de televisão americana CNN, ele se viu cercado pelas riquezas culinárias da cidade, que a cada esquina tem açougues especializados oferecendo cortes raros e carnes de alta qualidade para consumidores exigentes.
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Mas, ao se afastar para os subúrbios ou cidades menores, era sorte encontrar algo melhor do que um filé embalado a vácuo. Essa lacuna não saiu da cabeça de Llaurado, que voltou para casa com a visão de democratizar a carne gourmet. Armado apenas com ambição e uma paixão por ribeye, um corte de carne bovina conhecido por sua suculência, sabor marcante e maciez, ele começou a construir seu sonho.
Foi daí que veio o projeto de reunir dois amigos, apresentar sua ideia, e assim nasceu a Meat N’ Bone, que, no final de 2016 já era uma operação incipiente. Mas, como a maioria das startups, não deslanchou da noite para o dia. Só em 2018 as coisas realmente começaram a decolar.
A empresa começou a entregar carnes premium em todo o sul da Flórida e abriu uma loja física. O negócio ia bem, mas Llaurado não estava satisfeito. Ele queria mais — mais crescimento, mais clientes, mais alcance. Para isso, precisavam de capital. E rápido.
Então entrou em cena um investidor transformador com uma ideia que parecia tão ousada quanto intrigante. “Ele disse: ‘Olha, a NASCAR é um dos esportes com maior exposição,’” contou Llaurado. “‘Mas as marcas que estão lá não precisam disso.’ Estamos falando de Comcast e Ally Bank, por exemplo. Talvez, de alguma forma, eles precisem disso, mas é uma exposição que uma marca menor poderia aproveitar muito melhor.”
A National Association for Stock Car Auto Racing (NASCAR) é uma organização americana que sanciona e regula corridas de carros de turismo, e uma das entidades mais conhecidas e importantes do automobilismo mundial.
Llaurado ficou cético. O mundo de alta octanagem e curvas à esquerda não parecia gritar “carne premium”. E ele não é do tipo que salta sem olhar. Então, mergulhou na pesquisa e descobriu que os fãs da NASCAR não são apenas espectadores passivos — eles são profundamente engajados, incrivelmente leais e apoiam marcas que apoiam seu esporte. Ainda assim, os dados contavam apenas parte da história. Para realmente entender, Llaurado sabia que precisava vivenciar aquilo por si mesmo.
Então veio sua primeira corrida. E, como a maioria dos novatos, ele ficou imediatamente fisgado. “Tecnicamente, eu não era um grande fã da NASCAR,” admitiu. “Eu tinha uma ideia, mas mudou até eu ir em uma competição em Charlotte, e então simplesmente me atingiu. Eu pensei: isso é um Super Bowl todo domingo. É insano. A quantidade de pessoas que estão envolvidas, elas assistem, elas veem isso na TV.”
A partir desse momento, Llaurado e a Meat N’ Bone estavam prontos para dar uma chance à NASCAR. Em junho, eles fizeram uma parceria com a Rick Ware Racing, uma equipe profissional de automobilismo que compete em várias categorias do automobilismo, patrocinando Kaz Grala, piloto americano, conhecido por competir em várias categorias da associação, em 25 corridas.
Foi um movimento ousado, mas suas expectativas eram realistas. Eles não estavam buscando estrelato instantâneo. Então veio a corrida de estreia em New Hampshire, e com ela, uma surpresa: o 22º lugar. Mas a verdadeira vitória veio na forma de tráfego no site da Meat N’ Bone — algo crucial, já que grande parte dos negócios da empresa é feita pela internet. “Resumindo, New Hampshire foi provavelmente um aumento de 500 a 800% no tráfego,” disse Llaurado.
Neste dia, Llaurado aprendeu uma lição: colocar seu logotipo em um carro é apenas parte do quebra-cabeça. “O carro será de 30 a 50%,” explicou Llaurado. “Mas há de 20 a 30% no que você faz de ativações que garantem algum tipo de presença.”
A Meat N’ Bone não estava satisfeita com apenas um adesivo em um veículo em alta velocidade. Eles apareceram na pista com estandes pop-up, oferecendo aos fãs a chance de provar suas carnes em primeira mão. E funcionou.
Mas não foram apenas as amostras gratuitas que impressionaram os fãs; muitos não se contentaram em apenas experimentar — eles queriam comprar. Llaurado lembrou uma interação particularmente memorável com um fã que estava degustando: “Ele disse, ‘Obrigado pela amostra, mas eu vou comprar um sanduíche,’” Llaurado recordou, acrescentando que perguntou ao fã por quê. “‘Porque eu quero que vocês continuem aqui.’”
Foi aí que ele viu que os fãs da NASCAR não são como o público de outros esportes. “Em nenhum outro esporte eu vi esse engajamento,” disse ele. “Eles sentem que estão investindo na NASCAR quando compram um produto de um patrocinador, e sinto que isso faz uma enorme diferença quando se trata de uma marca porque você não consegue construir essa lealdade com outros públicos tão facilmente.”
O primeiro ano de patrocínio na NASCAR foi um sucesso absoluto. E a Meat N’ Bone não está diminuindo o ritmo. Para este ano, eles têm planos maiores para expandir sua presença, tanto na pista quanto fora dela. Para Gabriel Llaurado, trata-se de mais do que vender carnes premium. É sobre criar um movimento, levando bifes de classe mundial às massas — e fazendo isso com a ajuda dos fãs mais leais do esporte.
* Greg Engle é colaborador da Forbes EUA, baseado na Flórida, que escreve sobre esportes há décadas. Ele também é colaborador de dois livros Chicken Soup for the Soul, incluindo a edição NASCAR, publicada em 2010, e autor de “The Nuts and Bolts of NASCAR: The Definitive Viewers’ Guide to Big-Time Stock Car Auto Racing”
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