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O Brasil se tornou o maior exportador mundial de algodão em 2024, o que significou um ano para a fibra brilhar não somente nas passarelas do São Paulo Fashion Week, promovido pelo movimento Sou de Algodão, como ocorreu em novembro, mas no mundo. Os créditos para o feito são do investimento em tecnologia na cadeia e na sustentabilidade: 82% do algodão possuem certificação socioambiental Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e licenciamento Better Cotton, e 100% da produção é rastreada.
No ano passado, o Brasil faturou US$ 5,2 bilhões (R$ 31,8 bilhões na cotação atual) com as exportações de 2,8 milhões de toneladas de algodão não cardado e não penteado. Os principais mercados importadores da fibra foram China (US$ 1,7 bilhão ou R$ 10,4 bilhões), Vietnã (US$ 1 bilhão ou R$ 6 bilhões), Bangladesh (US$ 604,4 milhões ou R$ 3,7 bilhões), Paquistão (US$ 519,9 milhões ou R$ 3,1 bilhões) e Turquia (US$ 460,9 milhões ou R$ 2,8 bilhões).
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Em entrevista à Forbes Agro, Gustavo Piccoli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), comemorou o resultado do ano e contou o que espera para 2025.
Quais as suas perspectivas para a produção de algodão em 2025
A Abrapa prevê um aumento de aproximadamente 5,8% no volume de algodão a ser produzido em 2025, devendo saltar de 3,69 milhões de toneladas, no ciclo anterior, para 3,91 milhões de toneladas, no próximo. A área destinada ao cultivo também deverá crescer, alcançando 2,12 milhões de hectares, o que representa um incremento de 6,6%.
Embora ainda seja cedo para determinar a produtividade exata, as projeções iniciais da Abrapa e suas associações estaduais indicam que esta será discretamente inferior (-0,7%) à registrada na safra 2023/24, quando o país colheu aproximadamente 1.844 kg de algodão por hectare.
Quais devem ser as tendências com relação à sustentabilidade e inovação tecnológica na cadeia?
O Algodão Brasileiro Responsável (ABR) é o programa de sustentabilidade da Abrapa, consolidado no Brasil e cada vez mais conhecido e respeitado no mercado global. Na safra 2023/24, 82% do volume de algodão brasileiro foi produzido em fazendas auditadas e aprovadas pelo programa.
Uma novidade promissora para este ano é parceria da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Bayer, que lançou um projeto pioneiro para desenvolver perfis ambientais e calcular as pegadas de carbono do algodão em caroço, pluma e óleo, abrangendo as principais regiões produtoras do Brasil.
Com duração de 24 meses, o projeto busca estabelecer uma referência nacional, e referências regionais para diferentes modelos de produção para a pegada de carbono do algodão brasileiro, utilizando dados primários de cotonicultores e metodologias reconhecidas internacionalmente, como a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV).
Sobre inovação tecnológica, com ênfase na sustentabilidade, pretendemos dar continuidade às ações do projeto SouABR, uma experiência pioneira na indústria têxtil nacional, de rastreabilidade total de uma coleção, desde a semente até o guarda-roupa, através da tecnologia de blockchain.
O projeto piloto do SouABR foi implantado em 2021, em parceria com a varejista de roupas masculinas Reserva. Em 2022, com a maior loja de departamentos nacional, a Renner, foi criada uma coleção feminina. O consumidor lá na loja, com o próprio celular, abre o QR Code e pode saber tudo sobre de onde veio aquela peça, a localização exata da fazenda, a foto do produtor, onde foi beneficiado, onde foi feito o tecido, quem confeccionou. Isso está totalmente em linha com a agenda mundial. Agora muitas outras marcas estão se habilitando a participar.
Quais são os desafios que a cultura deve enfrentar em 2025?
Infelizmente, o baixo preço da fibra, que achata as margens dos produtores. Os preços em NY, que estavam perto dos USDc 85/lb (centavos de dólar por libra) no começo de 2024, atualmente, são negociados abaixo de USDc 70/lb. Uma outra questão é que estamos produzindo mais, e naturalmente, exportando mais, também, já que a indústria têxtil nacional consome cerca de 700 mil toneladas de algodão, e nós produzimos quase quatro milhões de toneladas.
Isso aumenta a pressão sobre o porto de Santos, que concentra quase 100% dos embarques. É preciso rever este modelo e investir em alternativas. Já estamos vendo resultados interessantes com a entrada do Porto de Salvador nas exportações de algodão. É importante lembrar que isso não depende apenas da decisão do produtor ou mesmo do governo. É preciso um movimento de mercado, para garantir rotas marítimas constantes partindo desses portos alternativos, o que tem a ver também com o movimento e disponibilidade de contêineres. É complexo, leva tempo, mas precisa acontecer.
Um desafio global ao algodão é a alta competitividade das fibras sintéticas fósseis, na matriz têxtil, que dificultam o aumento da demanda do algodão em um contexto global. Isso tem sido tema central nas discussões em todo o mundo. Fazer o algodão voltar a ser a fibra preferida dos consumidores passa por uma mudança de mentalidade. O algodão é uma fibra milenar, mas, ao mesmo tempo, absolutamente em dia com as pautas da contemporaneidade. É natural, biodegradável, reciclável, sustentável, mais saudável, e vem perdendo participação de mercado para um produto feito à base de petróleo, poluente, gerador de microplásticos. Precisamos investir em conscientização do consumidor.
Quais são as expectativas para as exportações?
De acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), para a safra 2024/25, as projeções indicam exportações na faixa de 2,8 milhões de toneladas, consolidando o país como o maior exportador mundial de algodão.
O foco é aumentar a participação em países que já compram algodão brasileiro. O Egito foi um mercado de destaque recente. Reconhecido por ser um algodão de algodão de qualidade, o país abriu as importações para o algodão brasileiro apenas no início de 2023. No período comercial 2023/24 o Egito foi o nono maior importador do algodão brasileiro e continua aumentando as importações em 2024/25.
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