Inquieta com as Desigualdades, Ana Maria Diniz Abraçou a Filantropia

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Ana Maria Diniz lançou uma série documental sobre a cultura de doação no Brasil, destacando personagens como a indigenista Neidinha Suruí, mãe de Txai Suruí. Por trás de cada gesto altruísta há um intricado caldo de motivações, interesses, inquietações e, por vezes, uma pitada de vaidade. Impelida a entender melhor os ingredientes que alimentam a cultura de doação em um país marcado por séculos de desigualdade, Diniz concebeu uma série documental que apresenta exemplos concretos e bem-sucedidos de filantropia Brasil afora.

Lançada no streaming Aquarius, com direção de Marcos Prado (Tropa de Elite, Estamira), “Meu, Seu, Nosso” acompanha sete personagens que vêm impulsionando transformações significativas em suas comunidades. Entre eles estão a indigenista Neidinha Suruí, que dedicou a vida à proteção do povo Uru-Eu-Wau-Wau, denunciando e expulsando invasores de terra, e o rapper Lemaestro, cofundador da ONG Gerando Falcões e reitor da Falcons University, que acelera o poder de impacto de líderes em favelas.

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“A discussão sobre por que praticar filantropia e qual é o seu impacto não é simples. Não existe uma receita. A motivação vem de uma parte muito íntima das pessoas, às vezes até do ego”, diz Diniz, que destaca a participação no seriado de 16 especialistas em áreas como neurociência, psicanálise e empreendedorismo social. “Há pontos de vista muito diversos, inclusive opiniões com as quais não me identifico, mas isso é importante, pois mostra a isenção do documentário”, diz a empresária, que assina a produção da série.

Disparidade causa inquietação

Herdeira de uma fortuna bilionária, a primogênita de Abilio Diniz, fundador do Grupo Pão de Açúcar, encontrou na filantropia, há 30 anos, um modo de canalizar sua inquietação perante a desigualdade. “Sempre me incomodei muito com a disparidade de renda que há no Brasil, com a existência de gente muito pobre em contraste com riquezas muito grandes. Cheguei à conclusão de que a melhor forma de tentar fechar um pouco esse gap social era por meio da educação, por isso me envolvi de corpo e alma nessa área”, conta. Foi assim que encabeçou a fundação do Instituto Pão de Açúcar, que promove programas educacionais para jovens nos anos 1990; do movimento Todos Pela Educação, parceria público-privada que visa melhorar a qualidade da educação básica em 2006; e do Instituto Península, que atua nas áreas de educação e esporte para aprimorar a formação de professores em 2011.

Além disso, ela criou, em 2021, o Polvo Lab, catalisador de negócios que estimula a autonomia de produtos genuinamente brasileiros, como mel da Caatinga e amêndoa de licuri. A iniciativa já impactou cerca de 14 mil pessoas, das quais 70% são mulheres. “Acredito muito no papel das mulheres como elo impulsionador dos negócios sociais. Já temos a característica de exercer várias funções ao mesmo tempo, de nos responsabilizar por diversas coisas de naturezas diferentes, e por isso acabamos lidando com a complexidade da vida moderna de uma forma natural. É importante fortalecer as mulheres para que elas se sintam capazes, completas, respeitadas, para que possam ter voz e receber recompensas à altura de sua contribuição”, explica.

Para Ana Maria Diniz, as iniciativas voltadas ao bem-estar social não devem ficar à margem do setor privado, mas sim ser vistas como parte fundamental do negócio. “Toda empresa tem uma responsabilidade que vai além do seu core business, que é ganhar dinheiro: ela deve fazer com que seu negócio impulsione um bom ambiente social. Dá para as empresas fazerem muita coisa para ajudar a melhorar as condições sociais sem fugir da natureza daquilo que produzem.” No Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, esse movimento começou com trabalhos de conscientização dos clientes sobre cadeias produtivas, sustentabilidade e descarte apropriado de embalagens. “Isso era algo inovador nos anos 90, quando nem se falava em aquecimento global ou crise climática.”

Provocando o sistema

A inovação, aliás, é tida pela empresária como peça-chave na busca por impacto positivo. “O papel das empresas no setor social é de provocar o sistema. Muitos problemas na área social são responsabilidade pública, mas as empresas podem trazer inovação e provocar melhorias nas políticas públicas.” O desejo de ver evoluir questões sociais pela esfera política é algo que Ana Maria Diniz diz partilhar com o marido, Felipe d’Avila. “Somos muito afinados nas ideias, apesar de ser difícil ser casada com um político – as pessoas não querem se envolver com isso, querem distância, ainda mais empresários. Mas, no fundo, a política é o contorno do contexto onde fazemos nossos negócios, então é muito importante que ela evolua”, pontua.

A estrutura familiar exerce grande influência sobre sua visão de mundo. A cada ano, a família Diniz reúne seus membros para um fim de semana na fazenda, onde discutem negócios, dividem dificuldades e preparam os mais jovens para serem acionistas responsáveis. A ideia de criar um conselho de família veio de John Davis, professor de Harvard que fundou a área de gestão de empresas familiares da universidade e assessorou os Diniz durante a profissionalização do Grupo Pão de Açúcar, quando saíram da gestão executiva para ficar apenas no conselho. “Fizemos nossa nona assembleia neste ano. É muito legal. Mistura um pouco de psicologia com conteúdo empresarial. Nós nos unimos muito e sentimos que há a sustentação da família em um ambiente seguro”, afirma.

Com a morte do pai, em fevereiro deste ano, Ana Maria Diniz vem sentindo o peso de preservar o legado familiar. “Eu me sinto bastante responsável com a ausência dele. Agora vamos desenhar o próximo capítulo de atuação dessa família, não mais centralizado na visão e no poder de decisão de um homem tão forte como meu pai, mas de um colegiado – e isso é um grande aprendizado”, diz ela, que compõe a terceira geração – seus netos já formam a quinta.

Mãe de quatro filhos, ela considera a maternidade um ponto de virada na sua trajetória filantrópica: “Foi como um catalisador, algo que potencializou minha vontade de me dedicar a esses trabalhos”. Já com os pais, aprendeu a prezar por viver experiências na prática. “Só podemos atuar bem em algo quando vamos àquele território, quando compreendemos aquela dinâmica, quando temos humildade para entender como aquela pessoa vive, que tipo de problema ela tem. Entender realidades que não vivemos é um enriquecimento pessoal gigantesco. Eu não seria quem eu sou se não tivesse vivenciado isso”, reflete. Quanto aos próximos passos, declara: “Vou parar de inventar e fortalecer o que já tenho! [risos]”.

Reportagem publicada na edição 124 da Forbes, lançada em outubro de 2024.

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