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O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) alerta que incêndios florestais como os que assolam Los Angeles podem envenenar os alimentos nas residências. E considerando que a fumaça pode chegar a 23 quilômetros na estratosfera—afetando residências a milhares de quilômetros de distância—mesmo casas relativamente distantes podem estar em risco.
Impulsionados pelos intensos ventos de Santa Ana e pela vegetação seca após uma longa estiagem, os incêndios florestais explodiram em Los Angeles na terça-feira (7), queimando dezenas de quilômetros quadrados e entrando para a história como alguns dos mais destrutivos da Califórnia. O xerife do Condado de Los Angeles, Robert Luna, descreveu a devastação como semelhante ao cenário de uma bomba atômica.
A intoxicação alimentar ocorre quando indivíduos consomem alimentos ou bebidas contaminados por bactérias, vírus ou outros patógenos nocivos. Fumaça, calor extremo e produtos químicos usados no combate a incêndios podem introduzir esses contaminantes prejudiciais.
“Os incêndios florestais afetam principalmente a costa oeste e os estados do norte dos Estados Unidos”, diz Mark Davidson, Gerente de Marketing e Materiais Técnicos da Camfil, um provedor de soluções de filtragem de ar interno e sistemas de ar limpo. “A fumaça pode ser levada a grandes distâncias pelo vento.”
Pior que poluição
A fumaça dos incêndios florestais é mais tóxica do que a poluição do ar típica, pois contém gases nocivos e partículas provenientes não apenas da queima de vegetação, mas também de plásticos, borracha e asfalto. Em Los Angeles, a matéria particulada fina atingiu recentemente níveis perigosos de 40 a 100 microgramas por metro cúbico, que é entre 8 e 20 vezes o nível máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O perigo está na própria fumaça. De acordo com a Camfil, mais de 90% da massa da fumaça dos incêndios florestais consiste em partículas PM2.5—poluentes ultrafinos menores que 2,5 microns.
Essas partículas podem viajar longas distâncias nas correntes de ar, prejudicando residentes a quilômetros de distância. Elas podem se infiltrar em embalagens de alimentos comuns, incluindo plástico, caixas de papelão e recipientes com tampa de rosca. Uma vez contaminados, os alimentos não podem ser descontaminados, representando riscos para a saúde humana.
O Departamento de Saúde Pública de Los Angeles aconselha a descartar garrafas de água de plástico cobertas de cinzas, pois as partículas podem contaminar as tampas. Alimentos expostos a cinzas e não armazenados em recipientes à prova d’água ou herméticos também devem ser descartados, enquanto potes de vidro ou metal selados podem ser limpos e reutilizados.
Gases nocivos
Os incêndios florestais também emitem gases nocivos, como óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) cancerígenos que, após infiltrar-se nos ambientes internos—frequentemente através de sistemas de climatização sem filtragem adequada—podem se acumular em alimentos e superfícies de alimentos por meio da deposição de partículas.
A Camfil aconselha que os riscos domésticos da fumaça de incêndios florestais podem ser mitigados utilizando “uma combinação de filtração de carbono para controlar odores e contaminantes gasosos e filtros de ar de alta eficiência em partículas PM2.5.”
Devido à proximidade com áreas densamente povoadas, os incêndios florestais em Los Angeles destruíram milhares de edifícios. Produtos químicos de combate a incêndios, de construção e plásticos podem contaminar tanto os alimentos quanto os utensílios de cozinha, deixando toxinas que não podem ser removidas com lavagem.
Os incêndios podem causar a vaporização de produtos químicos, transformando-os em gases, enquanto outros se ligam às partículas. O calor intenso e o processo de combustão também podem alterar os produtos químicos existentes, quebrando-os ou combinando-os em novos compostos potencialmente nocivos.
Retardantes de fogo, como o Phos-Chek, usados para controlar os incêndios florestais em Los Angeles, também contribuem com quantidades significativas de metais tóxicos para o meio ambiente, com 380 toneladas liberadas nos EUA entre 2009 e 2021.
Contaminação por bactérias
O calor dos incêndios agrava ainda mais os riscos. As temperaturas extremas podem comprometer os selos de latas e potes, permitindo que bactérias se infiltrem. Em alguns casos, o calor ativa patógenos dormentes, aumentando significativamente a probabilidade de doenças transmitidas por alimentos.
E os riscos não terminam aí.
Um estudo publicado na Ecosphere revelou que a fumaça dos incêndios florestais pode servir como veículo para bactérias e fungos, transportando vida microbiana por vastas distâncias. Pesquisadores expuseram placas de Petri à fumaça em diferentes distâncias de um incêndio e identificaram mais de 70 tipos de bactérias e fungos crescendo nas placas, com a abundância microbiana diminuindo à medida que a distância do incêndio aumentava, levantando preocupações sobre o potencial dos incêndios florestais para espalhar patógenos transmitidos por alimentos.
Pesquisas adicionais revelam que os incêndios florestais podem contribuir para doenças transmitidas por alimentos ao espalhar micróbios resistentes ao calor para os alimentos. Embora as chamas dos incêndios florestais geralmente alcancem temperaturas de 300 a 1.100 graus Celsius, alguns micróbios do solo podem sobreviver em calor extremo, com certas cepas tolerando até 800 graus Celsius.
200 mil deslocados
Até sexta-feira, havia centenas de milhares de pessoas na área de Los Angeles sem energia em suas casas. O número de pessoas deslocadas está se aproximando de 200 mil e os oficiais esperam que o número de mortos aumente nos próximos dias. Entre os seis incêndios ativos no condado de Los Angeles, os incêndios Palisades e Eaton foram registrados como os mais destrutivos na história da Califórnia.
Os incêndios florestais em Los Angeles são um lembrete marcante dos impactos de longo alcance dos desastres relacionados ao clima, destacando a fragilidade de nossos sistemas alimentares e a necessidade urgente de uma preparação robusta para desastres. A conexão entre desastres ambientais e segurança alimentar exige tanto ação imediata quanto soluções de longo prazo para proteger a saúde pública.
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