Democrático e Desigual Ao Mesmo Tempo

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O tempo, embora objetivo em sua contagem, carrega uma subjetividade imensurável pelo impacto que nossas escolhas exercem em nossas vidas e na daqueles que nos cercam. Subestimado quando sua noção de fim parece distante e superestimado à medida que sua finitude se torna tangível, o tempo desponta como um dos maiores desafios da existência humana. As vinte e três horas, cinquenta e seis minutos e quatro segundos que compõem cada dia são, paradoxalmente, o recurso mais democrático e o mais desigualmente utilizado. Refletir sobre seu uso não é apenas uma questão prática; é um convite à liberdade – a oportunidade de decidir como vivemos e para o que vivemos.

No mercado de trabalho, as discussões contemporâneas refletem essa complexa relação com o tempo. Uma pesquisa recente da Associação Médica Americana exemplifica esse dilema ao expor a disparidade geracional na percepção da carga horária. Enquanto médicos mais experientes, habituados a longos plantões, consideram os sacrifícios essenciais para a dedicação à profissão, os mais jovens defendem a necessidade de um equilíbrio maior entre trabalho e família. Para alguns, 59 horas semanais são uma extensão natural de seu propósito; para outros, essa carga perde o sentido quando exige a abdicação de momentos em família. Essa divergência não trata de certo ou errado, mas de como cada geração atribui valor ao tempo – uma construção tão pessoal quanto intransferível.

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Esse choque geracional se estende para além da medicina. Os mais jovens, moldados por uma cultura just in time, frequentemente enfrentam dificuldade de compreender processos que dependem da passagem do tempo para maturar. Aprendizados que surgem de forma gradual, sem uma lógica explícita ou imediata, desafiam um mundo acostumado a respostas instantâneas. Por outro lado, gerações mais velhas, que dedicaram décadas para conquistar o que têm, podem não reconhecer que o progresso atual pode ser menos árduo e mais acelerado. No fim das contas, o tempo é finito, e ninguém quer a sensação de que o está desperdiçando.

O debate entre trabalho presencial e home office ilustra claramente esse dilema. Em 2018, paulistanos gastavam, em média, quase duas horas diárias em deslocamentos para atividades essenciais, como trabalho ou estudo – tempo que poderia ser dedicado a atividades mais significativas. O fim da escala 6×1 no Brasil também promete devolver dias de descanso aos trabalhadores, mas levanta uma questão crucial: esses dias serão realmente utilizados para bem-estar ou preenchidos por novas jornadas de trabalho, aumentando ainda mais a exaustão? Em um país onde cerca de 40% da força de trabalho está na informalidade, a forma como o tempo é distribuído e aproveitado impacta profundamente a qualidade de vida. Importar modelos de países com infraestrutura e condições de trabalho superiores, sem considerar as especificidades brasileiras, pode levar a soluções desalinhadas e ineficazes.

Diante desse cenário, surge uma reflexão essencial: quais padrões estamos dispostos a adotar em nossas vidas de acordo com nossos objetivos? Os sacrifícios relacionados ao uso do tempo só fazem sentido quando alinhados a um propósito claro. Para um empreendedor, que dedica longas horas ao crescimento de sua empresa, o valor do tempo reside no potencial de retorno em longo prazo. Por outro lado, para as novas gerações que priorizam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a pergunta provocativa é: quais sacrifícios ainda fazem sentido? Reconhecer que o tempo carrega significados diferentes para cada indivíduo, dependendo de suas metas e valores, é o primeiro passo para utilizá-lo de forma mais consciente e significativa.

Essa reflexão é um convite para que cada leitor reconheça o poder da sua liberdade de fazer escolhas e descubra o que realmente valoriza. Afinal, o tempo é aquilo que fazemos dele: um aliado poderoso ou um tirano implacável. Que, no ano que se inicia, possamos escolher o primeiro, guiados por propósito e significado – e, como nos lembra Pedro Bial, sem esquecer o filtro solar.

*Por Amanda Cornélio, associada do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

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