Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Há pouco mais de um ano, Sarah Buchwitz deixou a vice-presidência de marketing da Mastercard, após uma carreira de mais de duas décadas em multinacionais americanas, para assumir como CEO de uma startup de mídia brasileira. Ela chegou para liderar o recém-criado Grupo Flow, que começava a estruturar em uma holding o podcast apresentado pelo fundador, Igor Coelho, e outras verticais de negócios. “Tomei um risco, mas hoje vejo que foi uma decisão acertada na minha carreira.”
No seu primeiro ano no cargo, aumentou o faturamento da empresa em 50%. “No ano passado, fechamos um pouco acima do breakeven. Este será o primeiro ano em que teremos um lucro significativo”, diz a executiva, sem abrir números.
Leia também
O grupo pega carona no crescimento da creator economy, um mercado que deve dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, passando de US$ 250 bilhões (R$ 1,5 trilhão) para US$ 480 bilhões (R$ 2,9 trilhões) até 2027, segundo projeções do Goldman Sachs.
Atenta a esse potencial, Sarah se dedicou a conhecer e reestruturar a operação, avaliar o portfólio e traçar estratégias de expansão. “Comecei analisando os principais produtos, os mais e menos lucrativos, e os que se alinham com nossa estratégia de longo prazo.”
Grande parte do seu trabalho no último ano foi aproximar o grupo do mercado publicitário, um setor que ela conhece bem. “Usei a experiência e o relacionamento que já tinha como CMO para apresentar o Grupo Flow como um ecossistema de mídia digital.”
Essa aproximação gerou parcerias estratégicas, como com KitKat, da Nestlé, no Rock in Rio, e com a Amazon durante a Prime Week. “Tudo isso é resultado de uma reorganização interna da empresa, um olhar operacional e também da conexão com os principais players do mercado publicitário e outros parceiros.”
A CEO também atribui o bom desempenho à sua intenção de contratar mais mulheres para a equipe de 180 funcionários. “Dobramos o número de mulheres no Flow, chegando a 33%, mas ainda não é o suficiente”, reconhece. Hoje, todo processo de contratação no grupo deve ter pelo menos uma mulher finalista. “Só depende de mim que as mudanças aconteçam.”
De olho em novos negócios
Habituada às rotinas de grandes multinacionais, a executiva encontrou no Flow uma cultura diferente e, com a caneta na mão, a possibilidade de tomar decisões rápidas. “Essa é a beleza de ser uma startup. Estamos muito abertos para ouvir novas ideias”, diz ela, que quer atrair novos públicos trazendo programas para todos os gostos e em diferentes segmentos.
Com o objetivo de dobrar a receita no próximo ano, o grupo vai investir em conteúdos verticais, como TikTok e Shorts do YouTube, lançar um canal linear para TVs conectadas e o reality show A República, transmitido 100% online, 24 horas por dia, com episódios diários ao vivo. “A ideia é simular dinâmicas políticas com participantes dentro de uma casa.”
Embora os homens ainda liderem a audiência dos programas, a CEO vê um grande potencial de crescimento apostando no fortalecimento do portfólio de produtos femininos. “Há uma oportunidade de mercado para falar com novos públicos, especialmente o feminino”, afirma Sarah. No próximo ano, o grupo lançará um videocast em parceria com a plataforma Mulheres Inspiradoras, co-apresentado pela fundadora Geovana Quadros.
Boom dos videocasts
O Grupo Flow hoje é dividido em diferentes verticais: um canal de games, um de notícias, os Estúdios – que engloba Flow Podcast, Vênus, entre outros –, um braço de serviços corporativos, o Flow S.A., a agência de publicidade digital Golden Pill e a empresa de tecnologia Wolf Vision. Esses braços da empresa desenvolvem soluções internas e também para a concorrência.
No total, a empresa produz 70 horas de conteúdo por semana e alcança mais de 70 milhões de views mensais só no YouTube. Na contramão da era dos vídeos curtíssimos, os videocasts com mais de uma hora de duração têm registrado bons números: segundo a CEO, os ouvintes ficam em média 30 minutos em cada programa e muitas entrevistas têm milhões de visualizações. “O videocast consegue proporcionar duas coisas difíceis de encontrar em outros meios: audiência e tempo para gerar engajamento e contar a história da marca.”
Os brasileiros estão entre os maiores consumidores desse formato no mundo: o país é o segundo em consumo e criação de podcasts no Spotify e o terceiro em usuários no YouTube. “Estamos liderando uma transformação cultural entre os anunciantes, ajudando as marcas a compreenderem como esse é um canal poderoso para se conectar com o público.”
Economista marqueteira
Antes de se tornar CEO do grupo, Sarah chegou ao Flow como entrevistada de um programa. Foi ao estúdio participar do podcast Kritikê, apresentado pelo então CEO dos Estúdios Flow, Andre Gaigher. Ele contou que estavam buscando um executivo do mercado, mas que ninguém tinha coragem de deixar o mundo corporativo. “Quando ouvi a palavra coragem, pensei ‘isso eu acho que tenho’”, lembra ela, que mais tarde entrou em contato pelo LinkedIn para conversar sobre a vaga.
Formada em economia, a executiva construiu toda a sua carreira no marketing. “Queria trabalhar em planejamento financeiro, mas a empresa onde tentei entrar não contratava mulheres naquela época.”
Em 20 anos de carreira, começou como estagiária na PepsiCo e saiu como líder de marca sete anos depois. Após uma breve passagem pela Kraft, voltou para assumir uma posição em um time global da PepsiCo, em Nova York. “Eu materializava exatamente o que eles precisavam no Flow: tinha conhecimento do mercado publicitário e experiência em veículo”, diz Sarah, que foi head de marketing da ESPN antes de chegar à Mastercard.
Uma mudança significativa na sua vida pessoal chacoalhou também o profissional, e a executiva começou a se preparar para dar um novo passo na carreira. Já se via assumindo uma posição de CEO ou conselheira, em um momento em que profissionais de marketing ganham mais espaço no mercado e assumem cadeiras estratégicas. “Fui construindo esse caminho para estar preparada para o momento em que essa oportunidade surgisse.”
A trajetória de Sarah Buchwitz, CEO do Grupo Flow
Primeiro cargo de liderança
“Meu primeiro cargo de liderança foi como líder da área de pesquisa na Spencer Stuart, alcançado aos 20 anos após uma rápida trajetória como estagiária. Essa experiência inicial foi fundamental para desenvolver minhas habilidades de gestão e liderança.”
Quem me ajudou
“Minha jornada foi influenciada por mulheres inspiradoras, incluindo colegas, líderes, amigas e familiares. Elas ofereceram orientação, apoio e estímulo crucial para superar desafios.”
Turning point
“Três momentos transformaram minha carreira: a transferência para Nova York para integrar uma equipe global, a nomeação como vice-presidente e a ascensão ao cargo de CEO. Cada etapa apresentou novos desafios e oportunidades de crescimento.”
O que ainda quero fazer
“Profissionalmente, desejo deixar um legado de impacto positivo, atuando em organizações públicas ou do terceiro setor. Pessoalmente, sonho em tirar um ano sabático para explorar novos horizontes.”
Causas que abraço
“Estou comprometida com a equidade racial e de gênero, buscando contribuir para um mundo mais inclusivo e justo.”
Veja outras executivas do Minha Jornada
A coluna Minha Jornada conta histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso.
Escolhas do editor
O post CEO do Grupo Flow Aumenta Faturamento em 50% em Primeiro Ano no Cargo apareceu primeiro em Forbes Brasil.