Desaceleração nos Preços dos Alimentos e Alta do PIB Agro em 2025

  • Post author:
  • Reading time:9 mins read

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do Agronegócio deve crescer em 2025. A entidade que representa as federações estaduais de agricultura avaliou que o avanço do PIB (que pode chegar a 5% em 2025) será impulsionado pelo aumento da produção primária agrícola, com destaque para os grãos, e pelo crescimento da indústria de insumos e da agroindústria exportadora.

A entidade também projeta desaceleração nos preços dos alimentos, com alta de 5,75% em 2025, comparada à inflação neste segmento de 8,49% em 2024, em função da recuperação da safra agrícola. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve arrefecer para 4,59% ao ano, ficando acima do teto da meta de inflação de 4,50% para o ano que vem. O balanço do agro em 2024 e as perspectivas para 2025 foram apresentados nesta quarta-feira (11), em Brasília, na sede da entidade.

Leia também

Forbes Agro

Deputado Francês Compara Carne Brasileira a Lixo

Forbes Agro

Com Trump, quem são os vencedores e perdedores da agroindústria EUA

Forbes Agro

Preços Mundiais dos Alimentos Atingem em Outubro Maior Alta em 18 Meses, Diz FAO

“Foi um ano de desafios. Em 2024 tivemos cinco meses de seca e a catástrofe das chuvas no Rio Grande do Sul”, disse João Martins, presidente da CNA. “A gente esperava um PIB negativo do agro, mas acabamos com crescimento de 2%. É a realidade do céu aberto e veio um agro mais consistente.”

“O cenário econômico e o agronegócio enfrentaram desafios e conquistaram vitórias ao longo de 2024”, destacou o diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi. “Tivemos uma seca intensa prevista, mas não sabíamos sua magnitude. Ainda assim, no último trimestre, houve uma recuperação positiva para várias cadeias, como carnes e outras culturas”, afirmou.

Lucchi disse que “a expectativa inicial era de um PIB negativo na ordem de -3%, mas fechamos o ano com um crescimento próximo a 2% e uma previsão de 5% para 2025”. Segundo ele, “a recuperação econômica brasileira, com crescimento do PIB em 3,4% e queda na taxa de desemprego de 7,9% para 6%, impulsionou o consumo interno de produtos agropecuários de maior valor agregado”.

Sobre a produção agrícola, ele detalhou que “cadeias como soja, carne bovina, milho e cana representam quase 60% do valor bruto da produção”. No entanto, “tivemos uma safra de grãos abaixo do esperado: de uma previsão inicial de 320 milhões de toneladas, fechamos em 298 milhões”.

“A produção de soja caiu quase 5%, o milho mais de 12% e a cana cerca de 8%. Por outro lado, o setor de carnes aumentou o abate de fêmeas em até 46% para ajustar a oferta”, acrescentou. “Chegamos a 38 milhões de cabeças abatidas, contra 34 milhões no ano passado”.
Lucchi também comentou a queda de preços das commodities: “Apesar da menor produção, os preços dos grãos não reagiram devido à recuperação das safras nos Estados Unidos e na Argentina”. Ele apontou que “o preço médio da soja caiu 11% entre janeiro e novembro em relação ao ano passado”.

“As exportações de carne foram um ponto positivo, crescendo quase 25% em valor e 30% em volume. Isso, aliado ao consumo interno, ajudou a melhorar o cenário no final do ano”, explicou. “A seca prolongada e as queimadas afetaram a recuperação de pastagens, mas a carne bovina começou a reagir a partir de setembro”.

Sobre as perspectivas para 2025, ele afirmou: “Esperamos um clima mais favorável, o que deve aumentar a produção de grãos em 8,2%, chegando a 322 milhões de toneladas”. Ainda assim, alertou que “os preços das commodities podem continuar baixos, exceto para carnes, que devem ter uma leve retração de 3% devido à retenção de fêmeas”.

Em termos internacionais, Lucchi destacou que “a nova lei de desmatamento da União Europeia e os subsídios agrícolas europeus podem criar barreiras comerciais para o Brasil”. Ele observou que “os produtores europeus têm apoio governamental equivalente a 14% da receita, enquanto no Brasil a realidade é muito diferente”.

Outro fator de preocupação são “as tensões geopolíticas, como a guerra no Oriente Médio, que aumentam os custos logísticos e os preços dos fretes marítimos”. Sobre a economia interna, ele alertou que “a inflação acima da meta e uma possível alta na taxa Selic podem dificultar o acesso ao crédito agrícola”, disse.  “A inadimplência do setor preocupa, principalmente no Rio Grande do Sul, onde dificuldades climáticas afetaram renegociações de dívidas”, apontou. “Precisamos fortalecer o seguro rural para gestão de riscos, com orçamento ideal de R$ 4 bilhões, muito acima dos R$ 1,7 bilhão deste ano”.

Lucchi também falou da resiliência do produtor brasileiro: “Mesmo diante das adversidades, ele segue investindo. Vimos aumento de 10,5% nas importações de fertilizantes e de 7% na suplementação para gado de corte”. Para ele, “o produtor rural brasileiro continua a acreditar no potencial do agro, contribuindo para o desenvolvimento do país”.

Mercado Internacional e seus Desafios

Em um panorama sobre as exportações do agronegócio brasileiro em 2024, Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais, trouxe uma análise detalhada das perspectivas e desafios enfrentados pelo setor. Apesar de uma expectativa inicial de redução nas exportações, o Brasil deve encerrar o ano com US$ 166 bilhões em vendas externas, mantendo o mesmo valor registrado em 2023. “A gente teve uma queda representativa na China, mas compensada pelo aumento em outros mercados”, destacou.

De janeiro a novembro de 2024, o Brasil exportou US$ 153 bilhões, igualando o mesmo período do ano anterior. Houve queda significativa nas exportações de soja e milho, especialmente por causa da redução de preços, mais do que de volumes. “Tivemos uma queda de mais de 1 milhão de toneladas de soja, mas o impacto foi muito mais de preço”, explicou.

Por outro lado, café, açúcar e celulose apresentaram crescimento expressivo. A soja manteve a liderança como principal produto exportado, com o açúcar subindo para a segunda posição e a carne bovina alcançando o terceiro lugar. “Exportamos muito mais café este ano do que no ano passado”, afirmou Mori.

Os três maiores mercados para o agro brasileiro continuam sendo China, União Europeia e Estados Unidos, mesmo com a redução de US$ 8,6 bilhões nas exportações para a China. “A China mantém sua posição, mesmo com a queda, porque está muito distante do segundo lugar, que é a União Europeia”, disse ela. Houve também um aumento das exportações para os Estados Unidos, União Europeia e Egito. Produtos como soja em grãos para a China, café para União Europeia e Estados Unidos, e açúcar para Indonésia lideraram as vendas.

Acordo Mercosul-União Europeia e Afins

A conclusão das negociações do acordo Mercosul-União Europeia foi um marco importante. Mori destacou a longa trajetória dessas negociações, iniciadas em 1999, e interrompidas diversas vezes devido a mudanças políticas e exigências ambientais. “A União Europeia começou a pedir um aumento das ambições climáticas do Mercosul para avançar na próxima fase”, afirmou.

O Brasil conseguiu incluir um mecanismo de reequilíbrio de concessões no acordo. “Caso a União Europeia implemente novas medidas que comprometam o que foi negociado, senta-se novamente para renegociar”, afirmou. Ainda assim, a aprovação final enfrenta resistência de países como França, Polônia, Irlanda e Áustria. Mas há países alinhados e que podem trabalhar a favor do acordo, contrapondo os hostis. São eles: Alemanha, que é a maior economia do bloco europeu, mais Espanha e Portugal.

Entre as preocupações está a regulamentação europeia de desmatamento (EUDR), que não diferencia desmatamento legal de ilegal e impõe uma data de corte retroativa a 2020. “É uma medida de caráter punitivo, sem qualquer cooperação para apoio ou recuperação ambiental”, criticou.

A relação com a China também é monitorada de perto. A nova lei de segurança alimentar do país prioriza a produção interna e limita importações de grãos. “A segurança alimentar foi elevada a uma questão de segurança nacional”, ressaltou Mori.
Quanto aos Estados Unidos, as eleições presidenciais trazem incertezas, com possíveis novas barreiras comerciais e um fortalecimento das políticas industriais internas. “O Brasil tem condições de ocupar espaços causados por tensões geopolíticas e quebras de safra”, observou.

Para o próximo ano, as expectativas incluem desafios no comércio com a China, possível enfraquecimento do multilateralismo e avanço nas negociações do acordo Mercosul-União Europeia. “A mudança no Parlamento Europeu para uma composição mais centro-direita pode influenciar nas prioridades e decisões”, concluiu Mori, destacando que a guerra entre Rússia e Ucrânia continua a afetar as cadeias globais de suprimentos.

Escolhas do editor

Escolhas do editor

JP Morgan Alerta Que Terceira Guerra Mundial ‘Já Começou’ e as Empresas Precisam Prestar Atenção

Escolhas do editor

Clarice Lispector: 10 Frases Que Desafiam a Percepção da Vida

Escolhas do editor

Quer morar fora? As 25 melhores cidades do mundo para se mudar

O post Desaceleração nos Preços dos Alimentos e Alta do PIB Agro em 2025 apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Deixe um comentário