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Se você fechar os olhos e imaginar uma empresa cujo objetivo é “construir e transformar a educação brasileira”, as chances de pensar numa companhia focada no desenvolvimento pedagógico são grandes. A isaac, no entanto, quer fazer isso ao oferecer uma maior capacidade de organização financeira e crédito para escolas particulares de todo o país.
Fundada em 2020, no início da pandemia do coronavírus, a companhia vem crescendo rapidamente — em parte ajudada por ter sido adquirida pela Arco Educação (listada na bolsa de Nova York) em 2022. A companhia acaba de atingir a marca de 2 mil escolas parceiras, uma receita anual de quase R$ 500 milhões e R$ 5 bilhões transacionados dentro da plataforma.
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Hoje, a isaac já representa 20% da receita total do grupo Arco, mas quer mais, já que ainda existe um mercado potencial muito grande a ser explorado no país.
Chega a ser difícil classificar a empresa, que é um híbrido entre uma empresa de educação e uma fintech — talvez uma edufintech? Em entrevista à Forbes Brasil, Paula Matta L. Jorge, co-fundadora e atual diretora geral da companhia, ri do trocadilho. “Gosto de nos posicionar como uma empresa de educação. Temos produtos financeiros sim, mas eu estou investindo para ajudar a escola a ter uma gestão melhor. Somos mais do que apenas a parte financeira, também ajudamos na formação do mantenedor, do diretor escolar, como um bom gestor”, explica a executiva.
O coração da isaac
A isaac nasceu da ideia de três fundadores com conhecimentos complementares — Ricardo Sales veio do mercado financeiro, David Peixoto atuou como CFO da Arco Educação, e Paula Jorge trabalhava com consultoria para empresas do setor de educação. Essa combinação possibilitou que se identificasse um gap que precisava ser preenchido no mercado.
“Desde o início a nossa tese foi: como ajudar o setor de educação a ter mais tecnologia e acesso à capital?”, explica Paula. “Se você pensar no segmento no Brasil, os donos de escola de ensino básico são, em sua maioria, fundadas por pedagogos e ex-professores. Vimos que o único tipo de empresa ajudando essas pequenas e médias escolas eram produtoras de conteúdo pedagógico. Dar uma boa aula é prioridade, mas também é importante gerir bem o seu negócio”.
Segundo dados da isaac, apenas 1% das mais de 44 mil escolas brasileiras pertencem a grandes grupos de educação, e os pequenos e médios colégios costumam ter uma alta taxa de “mortalidade”.
Isso acontece por causa da dificuldade dessas empresas em se manter financeiramente organizadas e com um fluxo de caixa saudável ao longo do ano, mesmo com 80% dos seus custos se tratando de despesas fixas.
Normalmente, a estrutura de receita funciona assim: há um pagamento de uma taxa de matrícula e a divisão da anuidade em 12 meses. Na teoria, a receita é garantida e a escola se organiza ao redor da sua perspectiva de recebimento, mas não é bem isso que acontece. Ao longo do ano, as famílias podem acabar encontrando problemas em honrar os pagamentos — o aluno está protegido pela lei e seguirá os estudos, mas para a escola isso significa uma quebra de expectativas com relação a receita.
Além da questão da inadimplência, há também uma grande variedade de formas de pagamento: dinheiro, cheque, transferência bancária e outras, o que pode gerar uma desorganização ao longo do ano. A falta de previsibilidade acaba gerando grandes desafios financeiros e levando muitas escolas à falência.
Pensando nisso, a isaac desenvolveu o seu primeiro produto que busca garantir uma receita contínua para os estabelecimentos.
“Olhamos outros setores que já tinham produtos parecidos, como em condomínios e aluguéis. Criamos a ‘receita garantida’. Eu garanto pra escola que ela vai receber todo mês um valor fixo, assumindo que todos estão pagando as mensalidades. A issac assume o risco do não pagamento e da gestão desses recebíveis. Facilitamos o pagamento para as famílias por meio de um checkout digital e fazemos as cobranças necessárias”, aponta a executiva.
Hoje, a fintech já transaciona cerca de R$ 5 bilhões por meio da receita garantida, o que levou a empresa a apostar em outros tipos de produtos financeiros, como o oferecimento de crédito (onde 50% das escolas parceiras já pegaram algum tipo de recurso) e seguros para as famílias para o caso de perda de receita ou incapacidade (hoje oferecido para 70% da base atendida pela isaac).
“A escola não pega crédito com os bancos porque eles colocam elas na mesma esteira que uma padaria ou barraquinha de pipoca. Só que são dinâmicas muito diferentes, o que leva a um oferecimento de crédito em um volume menor do que a escola precisa e com taxas pouco atrativas. Eu desenhei uma solução que faz sentido para escola e conheço o perfil de risco porque eu só trabalho com esse tipo de empresa”, aponta Paula.
Para a executiva, os serviços hoje oferecidos são capazes de “perpetuar” a existência de escolas que sozinhas poderiam encontrar muito mais dificuldades para se manter abertas e lembrá-las de que a escola também é uma empresa, por mais que o foco principal seja uma boa experiência para os professores e alunos.
isaac + Arco
Em 2022, a Arco Educação comprou cerca de 75% do capital da empresa por US$ 150 milhões. Como a empresa já detinha 25% das ações da empresa, o controle passou a ser 100% do grupo.
A operação da isaac, no entanto, se mantém segregada do oferecimento de produtos pedagógicos — que é o “core business” da Arco. Paula Jorge atua como a CEO da fintech dentro do ecossistema do grupo e os produtos do portfólio são oferecidos separadamente.
Para Paula, os dois negócios se complementam. “Entendemos que uma escola de sucesso é uma combinação de uma proposta pedagógica excelente e uma boa gestão. A Arco tinha apenas a primeira parte. A fusão fez sentido para que a gente possa oferecer para escola um portfólio completo de soluções”, explica.
O objetivo agora é construir um produto e software que integre gestão financeira e pedagógica, centralizando todas as demandas escolares em um só lugar.
Avenidas de crescimento
Apesar de ter nascido como um produto inovador para pequenas e médias escolas, a isaac também atende unidades de grande porte, com faturamento que ultrapassa a casa dos R$ 90 milhões.
Para a executiva, a isaac já se consolidou como um produto que gera valor para as escolas, por trazer previsibilidade financeira e otimizar o trabalho operacional que antes era feito de forma manual.
Agora, a ambição é chegar a 10 mil escolas nos próximos 5 anos com o produto que mais faz sentido para o crescimento de seus clientes.
“Hoje eu tenho 2 mil das 44 mil escolas do Brasil, então tem muita coisa para gente fazer ainda com as escolas parceiras ou não, e seguir pensando em novas soluções”, conclui.
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