Conheça a Cereja Eletrônica, Tecnologia Que Promete Reduzir a Perda de Frutas Sensíveis

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Reprodução – Forbes Argentina

A cereja eletrônica é uma tecnologia criada pelo Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) na Argentina

Um transmissor sem fio bluetooth 4.0, baterias recarregáveis de lítio e um acelerômetro inseridos em uma pequena esfera de menos de 20 milímetros de diâmetro e conectados a um celular podem ser a chave para que os exportadores de cereja da Argentina deixem de perder dezenas de milhares de dólares a cada verão.

A “cereja eletrônica” é uma tecnologia projetada para detectar e registrar os movimentos e impactos que as cerejas recebem desde a etapa de colheita, transporte até as plantas, passando por todo o processo industrial (lavagem, retirada de ramos, classificação) até a embalagem final com destino à exportação. O dispositivo foi desenvolvido pelo Laboratório de Agroeletrônica do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), responsável por pesquisar agropecuárias da Argentina — uma espécie de Embrapa local — baseado em Buenos Aires.

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Uma fruta sensível, a cereja sofre impactos gerados no transporte, como saltos e atritos. Isso gera o chamado “pitting”, um processo corrosivo que forma picadas ou pequenas manchas, que, em inspeções posteriores no destino final, acaba reduzindo o preço pago pelos importadores e, no pior dos casos, pode resultar na devolução de alguns lotes.

“Estamos fazendo pesquisas para determinar onde ou quais movimentos causam os impactos há vários anos, com o objetivo de minimizar o dano mecânico nas cerejas”, explica Andrés Moltoni, responsável pelo Laboratório de Agroeletrônica do Instituto de Engenharia Rural, dependente do INTA Castelar, em Buenos Aires.

Invenção Argentina

A cereja eletrônica é uma tecnologia de baixo custo, que promete ser um marco na indústria de frutas finas da Argentina. O ponto é que, após a colheita e o processo industrial que termina nas plantas de embalagem, embora seja feito um controle de qualidade antes do embarque, “quando a fruta é impactada, as marcas do ‘pitting’ podem aparecer até três semanas depois, quando já está no destino”, explica Moltoni.

Como a “cereja eletrônica” segue o mesmo percurso da fruta, ela fornece informações reais e concretas sobre as áreas que elas sofrem os impactos. Essas informações permitem a correção dos danos e ajudam a reduzir a porcentagem de frutas com pitting.

De acordo com dados da Câmara Argentina de Produtores de Cerejas Integradas (CAPCI), até 2024, as exportações da fruta totalizaram 7.210 toneladas, com um preço médio de US$ 4 (R$ 23 na cotação atual) o quilo, o que eleva o valor exportado para cerca de US$ 29 milhões (R$ 167 milhões).

“Em média, perde-se 5% das cerejas por pitting”, estima Moltoni, que garante que “a aplicação dessa tecnologia permite melhorar o processo e reduzir as perdas em 50%, o que representa 2,5% de todas as cerejas exportadas, ou seja, 180 mil quilos, o que equivale a US$ 720 mil (R$ 4 milhões)”, calculou.

Na verdade, a estimativa de 5% de frutas com pitting é modesta. Segundo a pesquisadora do INTA Los Antiguos, em Santa Cruz, na Argentina, Liliana San Martino, “as perdas por pitting nas plantas de embalagem podem variar entre 10% e 40%”, de acordo com testes recentes do INTA.

O dispositivo passou por quatro campanhas consecutivas de calibração, com diferentes variedades e tipos de cerejas e já tem condições de ser utilizado nas plantas de embalagem para fornecer as informações às empresas exportadoras, que podem fazer os ajustes necessários nas esteiras transportadoras e no equipamento em geral. No entanto, antes disso, o INTA quer avançar no registro da tecnologia para poder licenciá-la.

Mercado em Expansão

A Argentina exporta 90% de toda a produção de cerejas, que está prestes a iniciar uma nova colheita, que vai de novembro a fevereiro. Os principais destinos da fruta são os Estados Unidos (32%) e a China (27%), seguidos por Espanha, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Catar e Singapura.

A Cooperativa Agrofruticola El Oasis de Los Antiguos, em Santa Cruz, assinou um acordo com o INTA para testar a cereja eletrônica em sua planta. “É muito difícil que uma fruta chegue a um destino de exportação com fungos, mas o pitting não é visível durante a embalagem e, após 30 dias de transporte marítimo, se manifesta, e aí começam as reclamações”, afirma Federico Guerendiain, do Conselho de Administração e gerente da cooperativa.

Ele complementa que há a necessidade de ter uma tecnologia que permita corrigir os saltos e reduzir os movimentos no percurso da fruta, que, pelo próprio processo, segue uma linha “em cascata”. “Com a cereja eletrônica vamos saber se é preciso parar a esteira, o que acontece na caixa ou no transporte, se é preciso reduzir a velocidade do caminhão que traz as frutas da colheita para a planta, e outros processos”, diz.

Segundo Guerendiain, “o mercado aceita até 5% de pitting”, mas danos acima disso fazem os importadores pagarem um preço menor. Os Estados Unidos e a Espanha, o país da Europa com maior demanda, são os mercados mais exigentes e podem pagar até metade do preço.

O maior concorrente da produção da Argentina é o Chile, principal exportador mundial, que envia 90% de suas cerejas para portos chineses. “Vendemos onde o Chile nos deixa”, admite o gerente da cooperativa, e esclarece que, para vender para a China, é necessário ter uma grande escala. Isso fez com que o país vizinho desconsiderasse os Estados Unidos e o Oriente Médio, mercados atendidos pelos exportadores argentinos. “O Oriente Médio é um cliente compatível conosco, pede 20 paletes, não 3 mil contêineres ou barcos inteiros carregados de cerejas como a China exige do Chile”, diz ele.

* Carlos Boyadjian é colaborador da Forbes Argentina. Escreve sobre produção e acompanhamento de questões econômicas, com especial ênfase na atualidade dos setores agrícola e industrial.

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