Como Gabriel Leone se Tornou Um dos Atores Brasileiros Mais Disputados do Ano

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Foto: Henrique Gendre

De Hollywood a Senna, Gabriel Leone vive um dos melhores momentos da sua carreira; na foto, ele veste Gucci e joias Bulgari

A vida de Gabriel Leone é repleta de coincidências. Quando o ator tinha 12 anos, costumava dividir o sofá com o pai para ver seu filme preferido, O Último dos Moicanos, épico aventuresco de Michael Mann protagonizado por Daniel Day-Lewis. A trilha sonora de Trevor Jones marcou tanto a mente do pequeno Leone quanto o assustador realismo do cinema de Mann. Pouco mais de 15 anos depois, aquele garoto do Rio, nascido em 1993, um ano depois do lançamento do longa, viajava para a cidade italiana de Modena para assumir o segundo papel masculino mais importante em Ferrari, novo filme de… Michael Mann.

“Estar naquele set com Michael me dirigindo foi como fechar um círculo”, lembra Leone, que, nos quatro meses de 2022 que passou na Itália interpretando o piloto espanhol Alfonso de Portago para a equipe comandada pelo lendário Enzo Ferrari (Adam Driver), recebeu exatamente a visita do seu pai. “Ele foi em um dia importante, porque era uma cena em que eu precisava estacionar o carro repetidas vezes e havia outra sequência bonita na qual beijo Linda [Christian, a atriz mexicana vivida por Sarah Gadon]. Meu pai viu Michael dirigindo, repetindo, pedindo para voltar e experimentando. Isso gerou uma emoção muito grande.”

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Ao passar um filme paralelo na sua mente, o ator de 30 anos apresentou Michael Mann ao pai e pediu para tirar uma foto deles. Mann recusou. “Ele disse ‘não, quero que você também esteja conosco na foto.’ Foi muito carinhoso com meu pai. Me vi de novo, molequinho, assistindo a O Último dos Moicanos ao seu lado”, conta o ator brasileiro sobre uma experiência que é um exemplo perfeito da quebra de fronteiras artísticas proporcionadas pela ascensão dos streamings: Mann fez questão de ver Leone atuando além dos testes de elenco e assistiu ao primeiro episódio de Dom, série da Amazon Prime Video na qual ele interpreta um jovem normal de classe média que se transforma em um dos maiores criminosos do Rio.

Henrique Gendre

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Um mês depois, Gabriel Leone estava no cockpit de uma Ferrari da década de 1950, trabalhando ao lado de astros como Adam Driver, Penélope Cruz, Shailene Woodley e Patrick Dempsey. “Sou fã de todos eles e foi uma maravilha estar jogando com eles em cena. Mas, na hora de filmar, tinha a certeza de ter chegado ali por causa do meu trabalho, que Michael Mann estava confiando em mim e me entregando um personagem importante naquela história”, diz o ator na sua primeira experiência hollywoodiana. “É bonito de ver que há um rigor e uma disciplina em prol da excelência. Não é à toa que é uma indústria.”

O fato de interpretar um espanhol também coloca Leone em uma posição privilegiada de uma nova indústria cinematográfica mais ampla e sem fronteiras. Se Hollywood ainda teima em contar histórias de outros países com uma visão imperialista, pelo menos não se limita a encontrar apenas atores americanos ou ingleses. “Ana de Armas interpretando Marilyn Monroe é um marco. Uma cubana fazendo um dos maiores ícones dos Estados Unidos, quem imaginaria isso há 10 anos?”, questiona o ator, que manteve seu inglês fluente com sotaque brasileiro a pedido do diretor de Ferrari para soar como o aristocrata esportivo Portago, que nasceu em Londres em uma linhagem de nobres espanhóis, foi educado na França e morreu na Itália. “É um inglês superfluente, mas com um sotaque meio estranho. Sou colecionador de vinil, então consegui encontrar um disco com uma entrevista dele falando inglês”, revela Leone.

Mas Gabriel Leone poderia ter encontrado o sotaque que desejasse. Um dos atores mais disputados da dramaturgia brasileira, ele se caracteriza pela entrega aos personagens, desaparecendo em cada um deles. Cada experiência em um set o leva a um novo mundo, um novo universo com detalhes que influenciam sua fisicalidade. Algo que leva para sua vida pessoal: morando no verão de Modena, adotou o linho como tecido preferido e começou a experimentar estilos mais europeus na roupa. “Passei a experimentar. Quando voltei para o Brasil, um amigo olhou para mim e disse: ‘Você está diferente’”, diz em meio a gargalhadas. “Mas gosto exatamente de estar aberto. Gosto de bater o olho, achar interessante e, se ficar bonito, usar na estação certa. O mais importante é me sentir bem e feliz com o que estou vestindo. Não é só por estar na moda.”





Ao mesmo tempo, fica impossível dizer que Gabriel Leone não se sente confortável no macacão de Fórmula 1. Tanto que surge outra grande coincidência na sua vida e, sem dúvida, o papel mais importante da sua carreira: o ator volta às pistas de corrida para viver Ayrton Senna em uma das minisséries mais caras da Netflix América Latina e aposta do serviço de streaming para 2024.

“Além de talento e de carisma, Gabriel tem aquela determinação implacável no olhar e no porte, de quem não mede obstáculos nem consequências, que só os heróis têm. E ele combina isso com inteligência e delicadeza. Como o Senna fazia. E só ele poderia viver o Senna”, derrete-se Vicente Amorim, diretor e showrunner de Senna (trailer abaixo).

Leone admite que é uma coincidência quase inacreditável, mas que aproveitou o fato de interpretar um piloto para viver um dos maiores ídolos do esporte brasileiro. “Nunca tive uma grande relação com a velocidade, o que é curioso emendar Ferrari e Senna. Brincava de kart no shopping quando menor, mas é outra forma de dirigir. A gente aprende direção defensiva na autoescola, mas tive de mudar para algo mais agressivo, passar um pouco do limite dentro da segurança da produção. Rodar o carro na primeira vez e depois saber controlar”, explica o ator. “Depois, virou um baita prazer.”

Apesar de voltar um pouco à infância ao viver Senna desde suas primeiras disputas oficiais até sua morte, em maio de 1994, Leone confessa que é “o maior desafio da minha carreira”, mesmo tendo vivido outros personagens reais, como Roberto Carlos em Minha Fama de Mau (2019) e o próprio Pedro Dom em Dom. “Senna é um dos nossos grandes ídolos, traz uma responsabilidade enorme”, diz ele, que tinha pouco mais de 1 ano quando o piloto sofreu o acidente fatal no circuito de Ímola – oficialmente chamado Autodromo Internazionale Enzo e Dino Ferrari, a cerca de uma hora de Modena, o que acrescenta mais alinhamentos aos personagens.

Saindo direto das filmagens da terceira temporada de Dom, Leone, conhecido por mudar radicalmente nos seus papéis, teve dificuldades para encontrar “seu Senna”. “Estava louro, imerso naquele mundo de Dom, de cocaína, droga e adrenalina. Não poderia ter personagens mais opostos em energia. Me olhava no espelho e não conseguia encontrá-lo”, revela. “Fui me aproximando aos poucos, usando um processo de procurar a realidade dele. Passei a usar relógio, algo que não faço. Coloquei o cordão que usava no pescoço, as roupas que costumava vestir e o cabelo começou a crescer.”

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Com a ajuda do maquiador Martin Macias, mas sem o uso de próteses, Gabriel Leone começou a dar lugar ao piloto. “O processo inicial foi de me apagar de alguma forma, tirar minhas pintas, um pouco da sobrancelha e modelar pontos-chave de Senna. Quando vi a primeira foto do teste, falei: ‘É isso, encontramos ele!’”

Depois de três anos sem parar para descansar – ele ainda tem o filme Barba Ensopada de Sangue, adaptação do livro de Daniel Galera por Aly Muritiba (Deserto Particular, Cangaço Novo), previsto para 2024 –, Leone está oficialmente de férias. “Estava no meu limite físico e mental. Precisava parar e descansar, cuidar da casa, da família, das relações. Fiquei quase um ano fora. E há o descanso artístico para colher os frutos do trabalho”, acredita ele, que ficará três meses em Los Angeles para “sentir o terreno” com seus agentes norte-americanos. “Estou recebendo projetos. Não há pressa para que as coisas aconteçam. Estou caminhando, escolhendo tudo a dedo com minhas equipes. Tenho coisas muito bacanas pela frente.”

*Créditos do ensaio exclusivo ForbesLife Fashion:
Fotos: Henrique Gendre (M.Lages)
Edição de moda: Thiago Ferraz (M.Lages)
Beleza: Guilherme Casagrande (Ivy Faria), com produtos Schwarzkopf Professional

Produção executiva: Leili Rodrigues
Produção de moda: Gabriela Fabosa
Assistentes de fotografia: Sándor Kiss e Caio Porto
Assistente de beleza: Danni Quess
Assistente de produção: Emanuele Machado
Camareira: Pepa
Tratamento de Imagem: Telha Criativa (MLages)
Agradecimento: 42 Studio

Entrevista publicada na edição 6 da ForbesLife Fashion, disponível nos aplicativos na App Store e na Play Store e também no site da Forbes.

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