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A confusão de uma secretária rendeu a Ibrahim Eris, morto nesta sexta-feira (8) aos 80 anos, o cargo de presidente do Banco Central (BC) durante o breve governo de Fernando Collor de Mello. Collor esteve no cargo entre 15 de março de 1990 e 29 de dezembro de 1992, quando renunciou para não sofrer impeachment. Eris saiu antes: renunciou ao cargo em 17 de maio de 1991, com a demissão de Zélia Cardoso de Mello, primeira ministra da Economia de Collor.
Ao montar a equipe, Zélia pediu a sua secretária que marcasse uma reunião com o economista Ibrahim Elias, a quem a futura ministra pretendia convidar para o governo. Na hora da reunião quem apareceu foi Eris, colega de Zélia na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo. “Já que você está aqui, vamos conversar”, disse Zélia. A conversa engatou e ele acabaria sendo convidado para a equipe que formularia o traumático Plano Collor e para dirigir o Banco Central.
Quando Collor foi eleito com uma plataforma moralizadora e modernista de “combater os marajás” do serviço público e abrir a economia brasileira, a inflação rondava 80% ao mês, o prazo médio dos títulos da dívida pública era de 14 dias e o BC tinha menos de US$ 9 bilhões em reservas (hoje há US$ 372 bilhões, o prazo médio da dívida é de 4,18 anos e a inflação é de 4,72% ao ano).
O país estava à beira de uma hiperinflação, e o governo não tinha condições de seguir rolando sua dívida. A única solução viável à época parecia ser congelar os meios de pagamento de maneira a impedir uma explosão dos preços.
Confisco
Anunciado no dia 15 de março, o plano confiscou todas as aplicações financeiras, incluindo os depósitos em contas-correntes, que superassem 50 mil cruzados novos, cerca de R$ 10 mil em valores atuais. Na época foram congelados cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, algo como R$ 3 trilhões. Os cruzados novos ficaram bloqueados por 18 meses e foram devolvidos em 12 prestações a partir de setembro de 1991.
Eris, Zélia e o economista Antonio Kandir concederam uma tumultuada entrevista coletiva em Brasília no dia 16 de março, onde tentaram explicar o inexplicável. Não havia informações sobre diversos assuntos, como financiamentos e aplicações financeiras. O português carregado de sotaque de Eris não ajudou, e um irritado Fernando Collor telefonaria do Palácio do Planalto mandando encerrar a entrevista.
O plano não deu certo. Além dos problemas estruturais do país, o confisco tornou-se inócuo pela atuação discricionária do próprio governo, que liberou recursos conforme os integrantes da equipe econômica achavam necessário. O confisco também permitiu o surgimento de um nutrido esquema de corrupção envolvendo Collor e seu grupo. As investigações de uma Comissão Parlamentar de Inquérito desgastaram a imagem do governo e Collor teve seus direitos políticos cassados por oito anos, sendo substituído por Itamar Franco.
Perfil discreto
Eris deixou o cargo muito antes disso. Após sua passagem pelo governo, ele manteve um perfil discreto, retomando sua carreira acadêmica e prestando serviços de consultoria econômica para empresas.
O economista nasceu em Bafra, na Turquia, em 1944. Trabalhou como jornalista e escrevia sobre cinema antes de cursar economia. Foi completar os estudos na universidade americana Vanderbilt, onde estudou macroeconomia e estatística.
Emigrou para o Brasil em 1973 e se naturalizou brasileiro. Foi professor na faculdade de economia da USP até 1979, quando entrou para o governo. Assessorou Antonio Delfim Neto no Ministério do Planejamento até 1981, quando passou a atuar no mercado financeiro.
Eris era casado com a economista Claudia Cunha Campos, também professora da USP, e deixa um filho. A causa da morte não foi divulgada.
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