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Em conversa exclusiva com a Forbes, a embaixadora dos Estados Unidos, Elizabeth Frawley Bagley, discute o conceito central da exposição “Ancestral: Afro-Américas – Estados Unidos e Brasil”, em cartaz no Museu de Arte Brasileira da Faap até dia 26 de janeiro, e que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Ela destaca que os EUA foram um dos primeiros países a reconhecer a independência do Brasil, em 1824, antes mesmo de Portugal.
A embaixadora explica que a mostra visa fortalecer as relações entre os dois países, unindo aspectos políticos, culturais e estéticos, especialmente através da herança africana compartilhada.”Em 1824, tanto os EUA quanto o Brasil tinham o maior número de escravos”, menciona a embaixadora, ressaltando a importância de reconhecer a história da escravidão em ambas as nações, assim como o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. Esta é a primeira vez que as tradições culturais afro-americanas e brasileiras são relacionadas de maneira significativa, explorando os laços históricos desde a era pré-colonial. A diversidade é um ponto comum entre os dois países, e a embaixadora acredita que os brasileiros compreendem a cultura americana de maneira única, devido a semelhanças em tamanho e diversidade étnica.
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Com direção artística de Marcello Dantas e curadoria da brasileira Ana Beatriz Almeida e da norte-americana Lauren Haynes, a exposição é dividida em três partes: Corpo, Espaço e Sonho. Um dos destaques é uma escultura de Melvin Edwards, que representa a memória de sua avó, que não era escrava, mas tinha conexões profundas com a história da escravidão. Outro artista mencionado é o brasileiro Jayme Figura, icônico poeta e escultor baiano conhecido por circular pelo Centro Histórico de Salvador vestido com suas máscaras e armaduras. Elizabeth fala sobre como ele expressava a experiência negra através de sua arte, refletindo a luta pela identidade em um contexto onde muitos afrodescendentes não tinham nome ou identidade própria. E destaca que, embora o foco da exposição seja a dor da experiência negra, também há elementos de alegria e celebração.
Ela acredita que todos, independentemente de raça, podem se identificar com essa experiência e compreender a importância da expressão artística que dela surge. O nome da exposição, que remete à ancestralidade, reflete as raízes comuns e a história compartilhada entre as culturas afro-americana e brasileira.
Ao iniciar o projeto, inspirado em conversas que teve com colecionadores de arte, como o empresário José Olympio Pereira, que viam semelhanças entre as culturas, o que a levou a propor a união das obras afro-americanas e brasileiras, ressaltando a importância de mostrar as histórias e raízes ancestrais que ambos os países compartilham. Com a ideia em mãos, ela buscou arrecadar fundos. “Fomos recomendados ao Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet. Fizemos toda a papelada, enviamos, e fomos aceitos”, conta Bagley.
Ela também foi ao Departamento de Estado para obter permissão para arrecadar dinheiro por conta própria, e tudo funcionou. “No final, não sabíamos quanto dinheiro íamos conseguir levantar. O Bank of America fez uma contribuição significativa , além de emprestar 52 peças de sua coleção extraordinária de arte afro-americana, como pinturas, vídeos e peças interativas de performance”.
A embaixadora destaca que uma das salas da exposição é interativa e gira em torno do reggae, explorando suas raízes na África Ocidental e sua fusão com a percussão durante o Carnaval. “Isso mostra como Brasil e Estados Unidos são parecidos”, diz ela. “A música sempre foi uma parte importante do relacionamento entre os dois países, e isso também é parte da diplomacia musical, como o grande evento realizado com o YouTube em Brasília esse ano, onde artistas como Preta e Gilberto Gil se apresentaram”.
“Queremos celebrar não apenas nosso relacionamento próximo, politicamente e culturalmente, mas também reconhecer e celebrar a cultura afrodescendente”, afirma. A inauguração da exposição, no último dia 29, na Faap, atraiu 1.800 pessoas, incluindo a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e a cantora Virgínia Rodrigues. “A comunicação entre artistas de diferentes países, apesar das barreiras linguísticas, foi incrível”.
A embaixadora, que tem raízes irlandesas, enfatiza a importância de promover a educação através da exposição, oferecendo visitas guiadas para escolas públicas. A exposição é gratuita, algo que era muito importante para a embaixadora e sua equipe, “para que todos tivessem acesso”, ressalta. Depois de São Paulo, a exibição segue para outras capitais do Brasil.
Ela também menciona a relevância da história da escravidão e do movimento dos direitos civis, afirmando que é fundamental reconhecer o que foi produzido mesmo em meio à dor e ao sofrimento. “Estamos reativando algo chamado JAPERr, Plano de Ação Conjunto Brasil-EUA para Eliminar a Discriminação Racial e Étnica e Promover a Igualdade”, diz, destacando o compromisso dos Estados Unidos em combater a discriminação.
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