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Entre a legitimidade da inspiração e as teorias de conspiração, há um hiato mais intransponível do que o Grand Canyon. Nessa escalada, muitos criativos têm discutido a legitimidade da arte e do design, enquanto parte expressiva da qualidade de ambos despenca em queda livre. É tão difícil criar algo novo numa época em que todas as formas, volumes, texturas e conceitos foram criados e recriados à exaustão, que frequentemente retomamos movimentos já experimentados em outro tempo-espaço. Por essas e outras, insiders das artes, da arquitetura e do desenho industrial têm evocado a frase bauhausiana de Mies van der Rohe: “É melhor ser bom do que ser original”. A 35ª edição da Bienal Internacional de Arte de Veneza, maior balizadora global dessa produção, pela primeira vez dirigida por um brasileiro, Adriano Pedrosa, diretor do Masp que já esteve à frente de grandes instituições mundiais, como o Reina Sofia, em Madrid, na Espanha, falou justamente sobre o Metamodernismo, encontro da ancestralidade com a tecnologia, a partir da valorização dos povos originários (isso numa explicação reducionista, quase simplória, que não caberia aqui com mais detalhes). Não é apenas sobre diversidade e inclusão, questões urgentes da civilização moderna, mas sobre o quanto o primitivismo já era avant-garde desde a gênese dos tempos (movimentos culturais e sociais são tão cíclicos quanto as voltas que a Terra dá ao redor do sol).
Nesta edição, transpomos dois hemisférios diametralmente opostos: começamos discutindo os limites entre referência e apropriação cultural, passamos pelo olhar de jovens criativos em contraponto com os lançamentos do mainstream na indústria, nos equilibramos na corda bamba que une a arte e o design, deflagramos as matérias-primas que mais se destacaram na indústria moveleira e na construção civil (com suas vantagens e desvantagens) segundo as últimas grandes feiras, visitamos a nova estética da hospitalidade nacional (com muita responsabilidade ambiental) e apresentamos um especial com uma prancheta que já é considerada uma escola estética na arquitetura de interiores. Um sujeito que, ao longo das quatro últimas décadas, desfilou centenas de projetos nacionais e internacionais de grande envergadura e “despejou” dezenas de bons profissionais no mercado que seguem seu estilo: Roberto Migotto, o homem de ferro que voltou renovadíssimo de uma cirurgia de peito aberto, mas sem coração de lata.
Os tempos não são fáceis e não dá para se encapsular na bolha do privilégio. Por isso, não custa lembrar que, para muito além da oferta de empregos que movimentam parte expressiva do PIB e impulsionam a economia em todos os continentes, parece que, finalmente, o mercado de luxo do qual somos operários anda cada vez mais consciente a partir de iniciativas privadas expressivas que colaboram sistematicamente com a educação, com a evolução cultural, com a inclusão social, com as questões ambientais, com a diversidade e com as responsabilidades afetivas.
Enquanto vamos tentando sobreviver às adversidades que passam pelas polarizações políticas, por hecatombes climáticas, por guerras insanas, pela crise econômica e, inevitavelmente, pelo colapso criativo, vale ter alguma esperança e rememorar o poeta maldito Jorge Mautner: “Quanto maior e mais fundo o abismo, é lá que brotam as flores inesquecíveis”. Em todo e qualquer hemisfério.
Veja também nesta edição:
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AGORA – Novidades e peças-chave direto da chapa quente do design, da arquitetura e artes plásticas
ESPECIAL ROBERTO MIGOTTO – O arquiteto mais alfaiate destas terras alinhava grandes projetos numa costura que remonta sua trajetória de sucesso com exclusividade para FLD
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