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Os países têm muitas prioridades diante da agenda futura de transformação do fóssil ao sustentável, transição energética e climática, e a segurança alimentar. Na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024 (COP 29), evento que acontece entre os dias 11 e 22 de novembro, em Baku, no Azerbaijão, o principal tema será o do financiamento da transformação da economia fóssil para a bioeconomia.
O Acordo de Kyoto, em 2005, o Acordo de Paris, em 2015, entre outros não foram eficazes em implantar instrumentos para financiar a transição. Será que agora temos fatores realmente impactantes para que isso ocorra?
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Outro tema que deverá ser discutido é o mercado de carbono. Vale lembrar que o primeiro leilão de créditos de carbono no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto, aconteceu em 2007, na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Na ocasião, o Fortis Bank NV/SA, da Holanda, pagou 16,20 euros (R$101,38 na cotação atual) por tonelada de carbono equivalente para a Prefeitura São Paulo, que recebeu 13,9 milhões (R$86,9 milhões) pelos créditos de carbono. Atualmente na Europa a lei prevê transição no CEBAM de até 100 euros (R$625,80) a tonelada.
De olho nas dimensões atuais da agroindústria brasileira, que representa 25% do PIB, ou seja R$ 2,5 trilhões, assumimos que se aplica um gasto operacional, ou opex, de aproximadamente R$ 2 trilhões. No Brasil, o financiamento através do Plano Safra é de R$ 508 bilhões com juros de 7 a 12%, e mais de 90% deste financiamento é voltado para o custo de capital giro de um ano (opex). Portanto, algo como 20% do total de gastos operacionais, orientados a médios e pequenos agricultores.
Os instrumentos para financiamento de investimentos (Capex) somando todos instrumentos oferecidos no mercado de capital os CPR’s, LCA’s, CRI e CRA Fiagro chegam a um total de aproximadamente R$ 700 bilhões. Assumindo que estes tenham uma maturação média 7 anos, visualizamos o poder de investimentos do agro brasileiro por estes instrumentos em aproximadamente R$70 bilhões por ano.
O Agronegócio brasileiro demanda investimentos na ordem de R$ 750 bilhões por ano financiados em parte por capital próprio, créditos de fornecedores, entre outros. Isto limita o empreendedor do agro brasileiro a crescer, visto que o impede de alavancar mais capital para seus investimentos. Por esta ótica, o agro brasileiro teria como alavancar entre 7 e 8 vezes mais o seu capital próprio, consumido atualmente se pudesse contar com o capital de risco do mercado de capitais. Estes poderiam ser instrumentalizados de diversas formas por veículos financeiros estruturados, incluindo a Bolsa Valores.
É evidente que essa oferta de possibilidades para buscar o capital para investimentos está muito abaixo da real necessidade que o Brasil demanda, retardando a sua velocidade de crescimento. Com a taxa de juros atual, o produtor, ao optar por fazer investimentos com capital próprio e financiado, atrasa a seu retorno e reduz seus investimentos em equipamentos, máquinas, processos, propriedades, insumos, entre outros.
Mas se buscarmos as culturas perenes, aquelas que são constituídas por arbóreos, cuja produção se dá a partir de 5 anos e mais, como a laranja, café, borracha, fibras celulósicas entre outras, os investimentos se tornam ainda mais relevantes nestas circunstâncias. Enquanto outros países, mesmo na América Latina, dispõem de instrumentos de capitalização pelo mercado, o Brasil ainda está muito aquém desta alavancagem.
Embora haja avanços significativos no crescimento destes instrumentos, como a do Cédula do Produto Rural (CPR), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), o Fundo de Investimentos nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (FIAGRO), etc, somando um valor de R$ 677 bilhões, representam só em parte instrumentos de capital de risco.
O mercado de capitais tem muito apetite e o desafio está em aumentar a base de investidores e traduzir conceitos para produtores de como funcionam esses instrumentos financeiros e seus benefícios. Além disso, há um fundamento muito importante que é a questão da governança e da transparência, que são novos hábitos para quem quer captar investimentos.
Este mecanismo de participação do mercado capitais no desenvolvimento do agro brasileiro oferece ao Brasil uma aceleração do crescimento por capitalizar com risco uma das mais promissoras cadeias produtivas globais. Para alavancar o mercado de capitais é necessário ter segurança jurídica, políticas públicas, estrutura desburocratizada e estabilidade nas regras, porém não podem ser exigentes demais para inibir o pequeno produtor a participar deste mercado.
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A transição da economia fóssil para a bioeconomia, requer financiamentos para conseguir manter a competitividade internacional. A biocompetitividade do Brasil é notória por sua competência na gestão do agronegócio tropical, na qual o custo de transição é o menor no mundo. O Crédito de Carbono é um instrumento para financiar o custo desta transição.
Agricultura é a solução para a transformação da economia fóssil para bioeconomia, tanto na captura do carbono como em ativos, como serviços ambientais. É neste quesito que a Bolsa de Valores pode ter um grande valor, a exemplo dos créditos de descarbonização (Cbios), que são necessários para outras lavouras e outros mercados para dar consistência a essa transformação. O cuidado maior é necessário para que a regulamentação seja estimuladora e não tão complexa que abafe o mercado insipiente.
O Mercado de Crédito de Carbono foi exigente demais na regulamentação nos CDM’s de Kyoto e do Acordo de Paris, onde o custo de transformação foi tão elevado e complicado que não houve aderência e volume. Essa é uma lição a ser considerada nestas regulamentações em Baku e no Congresso na Lei do Crédito de Carbono.
O Brasil terá o menor custo de transição da economia fóssil para bioeconomia em função da sua particularidade da economia tropical, no agronegócio e na energia sustentável. A competitividade do país fica evidente se conseguirmos adicionar a seus recursos nacionais, recursos internacionais que poderão surgir em Baku. Assim também como na legislação do Mercado de Carbono.
Pensar em novos modelos de negócio no agro usando o mercado capitais é uma inovação que necessitamos gerar. Um exemplo poderia ser, para superar a grande deficiência de armazenamento nas fazendas, a criação de empresas operadoras de armazenamento, que comporiam a cadeia de logística. O nosso benchmark são os Estados Unidos, onde 60% das propriedades operam com armazenamento, enquanto no Brasil não passa de 30%. Com isto o Brasil teria uma cadeia logística muito mais competitiva, assegurando preços menos pressionados. A Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF) é outro exemplo de um modelo de formação de unidades de capital aberto.
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Independentemente deste custo da transição, o Brasil ainda tem o poder de acelerar seus investimentos na agroindústria. Deste modo, o mercado de capitais e o agro, precisam definir a composição de sua partitura e afinar sua orquestra.
*Nina Plöger é empresária do setor de reflorestamento, cultiva café sustentável. Nina é formada em administração e pós-graduada em economia e em governança e compliance. Integra o Comitê Sustentabilidade da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), é membro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da FIESP; do Conselho Empresarial da América Latina (CEAL) e do Movimento Empresarial pela Inovação (MEI), da CNI.
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