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Desde que o Banco Central elevou a Selic para a casa dos 10,75% ao ano, em meados de setembro, a renda fixa tem dominado o noticiário econômico. Só nesta semana, o Tesouro IPCA+ renovou sua marca histórica três vezes, oferecendo um rendimento equivalente ao indicador de inflação mais uma taxa superior à marca dos 6,80% ao ano.
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Enquanto o Tesouro Direto atinge recordes de arrecadação, a bolsa brasileira tem encontrado dificuldades para decolar. Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Ibovespa recuou 3% e se encontra no seu patamar mais baixo desde agosto.
Em parte, o movimento é alimentado pelas projeções de que a Selic pode encostar na casa dos 13% a.a. para conter a inflação. Na equação, também entram as preocupações com as contas públicas. O Itaú BBA aponta que a falta de um plano fiscal robusto aumenta a apreensão dos investidores, mesmo com a previsão de crescimento de 11% na arrecadação de impostos.
O momento é adverso, mas esperado. Em tempos de juros altos, é quase natural que investimentos de risco sejam substituídos por ativos menos voláteis e com rendimento previsível. Isso não significa que as oportunidades de ganhos na renda variável acabaram.
Para Arley Matos da Silva Júnior, estrategista de investimentos do Santander, a bolsa brasileira tem potencial para ir mais longe, ainda que a tendência seja de grande volatilidade no curto prazo. “Ela tem operado em patamar descontado. Quando analisamos o valor das empresas e o ritmo de crescimento de lucro e receita, vemos um potencial atrativo significativo que a deveria colocar em um nível superior”, explica.
De acordo com cálculos da Genial Investimentos, as ações das empresas listadas no Ibovespa estão sendo negociadas a um preço que equivale a 7,8 vezes o lucro que essas empresas devem gerar nos próximos 12 meses — o indicador conhecido como preço sobre lucro (P/L). Esse número está 28% abaixo da média histórica.
Juros altos: como investir na bolsa?
Com o cenário nublado e pouca previsibilidade do que pode acontecer no médio e longo prazo brasileiro, os analistas estão “cautelosamente otimistas” com o desempenho do mercado acionário.
Ou seja, a maior parte dos investimentos está voltada para companhias que tendem a ser menos prejudicadas pelo efeito dos juros altos.
Via de regra, dois tipos de ações são evitadas neste momento. O primeiro envolve ações cíclicas, que dependem do apetite por crédito ou da atratividade de financiamento. Estamos falando de empresas varejistas, construtoras, empresas de educação, dentre outras companhias que oferecem produtos ou serviços que possam ser considerados “supérfluos”.
O segundo é representado por empresas que ainda se encontram em fase de crescimento, consumindo o crédito encarecido pelos juros altos. Empresas altamente endividadas também são afetadas, já que o custo da dívida se eleva no novo cenário de aperto monetário.
Para o Santander, as oportunidades estão concentradas principalmente em três setores: o bancário (protegido da alta da Selic), as commodities negociadas em dólar (petróleo, minério de ferro e proteínas, favorecidas pelo câmbio) e teses seculares de crescimento (como o setor de saúde e a tendência de envelhecimento da população).
Papéis de empresas de energia e telecomunicações também aparecem como opção, já que são ativos historicamente com baixa volatilidade.
O Itaú BBA também prefere ações de segmentos mais consolidados. Em relatório recente sobre as estratégias do banco de investimentos, o destaque ficou com ativos de petroleiras, bancos e elétricas.
Já os analistas da Genial Investimentos apontam para boas oportunidades dentro do segmento de small caps — empresas com menos liquidez e que, normalmente, possuem uma capitalização abaixo dos R$ 10 bilhões. Segundo os analistas, o índice de Small Caps está abaixo da sua média de seis meses, sugerindo mais oportunidades atraentes para novos investimentos de longo prazo.
Para os próximos 12 meses, a corretora projeta que o Ibovespa possa atingir a marca dos 147.400 pontos.
Gerenciando a carteira
Se você é uma das pessoas que montou uma carteira de investimentos com a projeção de queda da Selic em mente, a recomendação inicial é não entrar em pânico com as perdas acentuadas. Arley da Silva, do Santander, ressalta que nenhum tipo de saída de ativo deve ser feita de forma impulsiva.
Para minimizar momentos de estresse agudo, o ideal é que toda carteira seja estruturada de forma equilibrada, com ativos de setores descorrelacionados — assim, o risco de alguns tipos de investimento é compensado pelo desempenho de outros. Esse equilíbrio pode ser alcançado com uma combinação entre renda fixa, renda variável e moedas, ou até mesmo considerando diferentes setores da bolsa.
Se, após uma análise mais detalhada e de longo prazo, a decisão ainda for vender parte das ações que estão apresentando prejuízo, a recomendação é que a venda e a compra de novos papéis não sejam feitas de uma só vez. Ao dividir o desinvestimento em blocos, o investidor consegue distribuir as perdas e, quem sabe, aproveitar momentos mais favoráveis para vender os papéis.
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Também é essencial considerar o perfil de risco de cada investidor para minimizar perdas. Alguém com baixa tolerância à volatilidade, por exemplo, pode acabar se desfazendo de uma ação em um momento de pânico e perder a oportunidade de colher os frutos de uma análise de longo prazo.
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