Mulheres Cientistas Deixam a Academia no Auge da Carreira

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Há uma tendência preocupante na academia: cientistas mulheres estão deixando as instituições acadêmicas no auge de suas carreiras. Segundo pesquisa da CUPA-HR, associação americana para profissionais de RH que atuam no ensino superior, a porcentagem de mulheres em cargos acadêmicos diminui com o aumento da idade. Mais da metade (52%) dos docentes na faixa etária de 25 a 30 anos são mulheres, mas as profissionais representam menos de um terço (30%) no grupo de 65 a 70 anos.

Essa queda é ainda mais visível para mulheres nas áreas de STEM (sigla em inglês para áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e os vieses de gênero que as afastam desses campos aparecem já no jardim de infância. Isso se deve aos ciclos contínuos de barreiras e obstáculos para o avanço das carreiras femininas.

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Presença de cientistas mulheres no meio acadêmico cai antes que elas possam alcançar cargos mais altos

Katalin Kariko, laureada com o Nobel de Medicina de 2023, é um exemplo de como mulheres talentosas estão sendo empurradas para fora da academia. A pesquisa de Kariko possibilitou a criação de vacinas contra a Covid-19, mas, após anos de rejeição por financiadores, revistas e colegas da Universidade da Pensilvânia, Kariko foi para o setor privado.

Janos Kummer/Getty Images

Katalin Kariko fez parte da lista Forbes 50 Over 50 em 2021 por sua atuação científica de combate à Covid-19

A Dra. Amy Barr Mlinar trabalhou por 17 anos como pesquisadora financiada pela NASA e depois como professora assistente na Brown University, antes de deixar a academia devido à desilusão com a falta de apoio que recebeu.

Hoje, Mlinar trabalha no terceiro setor e sente que tem mais impacto e não sofre limitações e preconceitos. Atualmente, ela atua no Planetary Science Institute, realizando pesquisas em astrofísica, geofísica e dinâmica de fluidos. Como diretora acadêmica do SSP International (Summer Science Program), inspira jovens talentos a explorarem carreiras em STEM.

Em entrevista à Forbes, ela discute algumas das principais razões pelas quais mulheres no auge de suas carreiras estão deixando as instituições acadêmicas.

Divulgação

Dra. Amy Barr Mlinar também é especialista na educação e mentoria de estudantes e pesquisadores

Carga de trabalho

Segundo a pesquisadora, as mulheres frequentemente enfrentam uma carga de trabalho maior do que seus colegas homens. Essa situação, aliada às responsabilidades domésticas e à falta de acesso a creches de qualidade e a preços acessíveis, resulta em um aumento significativo de estresse.

A baixa representação feminina em muitos departamentos agrava o problema. “As mulheres são convidadas a participar de comitês. Todo comitê de diversidade, admissões, contratação e premiação precisa ter pelo menos uma mulher. Se em um departamento houver apenas duas mulheres, elas precisam se revezar. Toda essa atividade consome o tempo dedicado à pesquisa e os fatores começam a se acumular.”

Essa carga extra pode se tornar ainda mais estressante com o acúmulo de diferentes demandas. “Talvez elas não possam trabalhar todas as noites até as 21h porque têm filhos pequenos, mas ainda assim são encarregadas de tarefas adicionais. Eventualmente, o tempo para fazer pesquisas e ser produtiva começa a ser corroído.”

Preconceito sistêmico

A cultura acadêmica muitas vezes leva ao tratamento ou resultados diferenciados para homens e mulheres. Tanto o preconceito quanto as barreiras estruturais enraizadas nas instituições e na profissão de professores podem limitar a capacidade de muitas mulheres serem contratadas e promovidas nas universidades.

De acordo com pesquisa da Academia Nacional de Ciências, Academia Nacional de Engenharia e Instituto de Medicina dos EUA, os esquemas de gênero influenciam sistematicamente as percepções e avaliações de competência e desempenho de mulheres e homens, o que causa uma subavaliação das mulheres e uma superavaliação dos homens. Cientistas e engenheiros demonstram preconceito contra mulheres que se candidatam a bolsas, empregos e cargos permanentes. Para atingir a mesma classificação de competência que um homem, uma mulher deve ter um histórico significativamente superior.

Professoras e pesquisadoras brasileiras nas melhores universidades do mundo também atestam os mesmos problemas no Brasil e no exterior. “A baixa representatividade de mulheres nas posições de liderança é um problema universal, especialmente no contexto acadêmico”, diz Vania Braga, professora de Sinalização Celular na Faculdade de Medicina do Imperial London College e líder do seu próprio laboratório. “Apesar de diversas mudanças legislativas e de governança, os índices de representação feminina ainda estão abaixo do ideal, tanto no Brasil quanto nas melhores universidades do mundo.”

Ritmo lento de mudanças

Para Mlinar, a realidade atual da academia não contribui para mudanças rápidas e significativas. “A cultura muda muito lentamente devido ao sistema de estabilidade no emprego. A produção de PhDs nos Estados Unidos é muito maior do que há 50 anos, mas o número de vagas docentes não aumentou proporcionalmente.”

A diferença de mentalidade entre gerações também dificulta a abertura do mercado a novos profissionais. “Muitos são professores titulares ativos até os 80 anos. Esses profissionais não entendem as pressões enfrentadas pelos jovens, e dizem: ‘O sistema funcionou para mim e eu cheguei aqui por meu próprio mérito. Por que deveríamos abrir as portas para pessoas mais jovens?’”

Resolvendo o problema

Para aproveitar o potencial das mulheres nas áreas acadêmicas de STEM, algumas ações são necessárias. Segundo estudo da Academia Nacional de Ciências dos EUA, criar ambientes que promovam o sucesso de todas as pessoas deve ser prioridade para instituições comprometidas com a base científica. “Só precisa de um grupo de pessoas no poder para tomar essa decisão, e acho que muitas mudanças poderiam ser feitas”, diz Mlinar.

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*Bonnie Marcus é autora, consultora executiva e palestrante internacional sobre carreira e liderança feminina.

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