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Se existe um tema inquietante no universo dos esportes, das artes, e até mesmo no mundo corporativo, estamos falando de Sua Majestade, o talento. O que é? Como categorizar na pirâmide das exigências pessoais da performance? É nato? Se desenvolve? Como descobrir e aperfeiçoar possíveis talentos? Estas questões fazem parte do grupo das “perguntas de um milhão de dólares”. Quem consegue respondê-las e torná-las uma ciência exata descobre o pote de ouro no fim do arco-íris.
Na verdade, muito se produz no meio acadêmico através de revisões bibliográficas e pesquisas aplicadas que tentam achar um caminho que norteie esta busca e possibilite a criação de talentos em escala. Isso é possível? A seguir, uma exposição de alguns elementos necessários para se descobrir e desenvolver estes seres tão sonhados e tão difíceis de se achar.
Ao perguntar para muito Mestres e Professores desenvolvedores de pessoas, com resultados positivos nesta tarefa, é consenso que o ambiente é fundamental. Não há desenvolvimento de possíveis talentos sem esforço e seriedade. A verdade é que o entorno conspira e inspira. As quadras, conservatórios e, por que não, as empresas onde existem pessoas que querem trabalhar duro e sério sempre serão locais onde o potencial se transforma em resultado.
Malcolm Gladwell, em sua obra “Fora de Série – Outliers” (Editora Sextante), nos explica que “ninguém se faz sozinho”. Grandes destaques dos esportes, das artes e dos negócios se beneficiam de oportunidades e heranças culturais determinantes para o desenvolvimento de suas habilidades. Gladwell apresenta o conceito de que não existe sucesso sem a famosa fórmula das 10.000 horas ou 10 anos de trabalho duro, no lugar certo, para que uma pessoa possa desenvolver seu talento ao máximo.
Mas isso não basta. É necessário que o trabalho seja assertivo também para que se evite um desperdício do esforço. Além do trabalho duro, sério e constante, no ambiente correto, é necessário que o processo de aprendizagem também leve os potenciais “fora de série” ao sucesso. Podemos pensar este processo como o software, o sistema operacional que coordenará as rotinas.
O autor Daniel Coyle publicou “O Código do Talento” (Editora Agir) onde nos apresenta uma ideia instigante que ele chama de Treinamento Profundo, onde as repetições sistemáticas de gestos e tarefas de uma forma pouco eficiente levam a padrões ineficazes de solução de problemas. Sua explicação nos leva ao campo da neurociência e da neuroanatomia de uma forma simples e brilhante. Se você, como mestre ou pupilo, tolera o erro consciente, por mínimo que seja, o resultado final sempre será inferior e prejudicado pela rotina que você escolheu. O padrão de atuação que você está construindo está errado. Simples. Trabalho duro, por longos anos, no ambiente correto e utilizando o Software mais eficiente possível. Uma boa parte do caminho do desenvolvimento de talentos está percorrido.
Elemento importantíssimo nesta busca, que diz mais respeito aos esportes e às artes, envolve questões relacionadas à genética e à biologia. As questões antropométricas são cruciais aqui. Já é sabido que algumas obras para piano são mais compatíveis a certos tamanhos das mãos, assim como a altura é determinante para o desempenho excelente de várias modalidades esportivas. Mesmo no esporte as mãos desequilibram. É famosa a importância do tamanho das mãos de Michel Phelps nos seus resultados na piscina.
Seguindo a analogia utilizada no parágrafo anterior, o hardware é determinante. David Epstein no seu livro “A Genética do Esporte” (Editora Elselvier) traz uma série de exemplos do quanto características biológicas e genéticas influenciam nas conquistas e recordes obtidos nos campos e quadras olímpicas. É praticamente um definidor do resultado final. O corpo executor do sistema operacional, das horas de trabalho duro, do treinamento profundo tem um peso enorme para que o talento possa se desenvolver e alcançar o seu ápice. Mais um pilar que descreve o que é o talento está posto.
Por fim, uma última análise é importante. Uma outra habilidade fecha esta cadeia de ideias que tenta descrever o que é, como se detecta e como se desenvolve possíveis sucessos nas mais diferentes áreas. Não adianta o ambiente conspirar, o processo ser virtuoso, seu corpo ser o mais adaptado possível se o indivíduo envolvido no processo não pagar o preço necessário. É necessário querer ser um expoente, amar o que faz, perseverar sob quaisquer condições.
Angela Duckworth na sua obra “Garra – O Poder da Paixão e da Perseverança” (Editora Intrínseca) nos descreve que nada adianta sem o querer fazer. Nosso limite de sucesso é o quanto queremos realmente alcançar. O quanto estamos dispostos a fazer a mais do que nossos adversários e concorrentes. E fazer com vontade e paixão. Não faltam exemplos, mesmo sendo poucos, de atletas de basquete cuja altura não os recomendaria a integrar a NBA, tenistas que não foram geneticamente ajudados a serem grandes sacadores por serem baixos (e sabemos como o saque é importante no tênis), e que apenas queriam muito chegar lá.
A definição moderna de talento transcende a ideia de que a facilidade de executar tarefas responde a tudo referente a este tema. É uma “pizza” com muitas fatias. Dentre elas estão o ambiente, o processo, o corpo e a vontade. Quando estas se juntam na mesma pessoa, temos a chave para o sucesso.
Nós do RTB buscamos fazer a nossa parte. Trabalho duro, sério, ambiente competitivo, porém saudável. Treinadores que trabalham a ideia do treinamento profundo, testes físicos e antropométricos que identificam as necessidades individuais de cada atleta. E principalmente, muita garra e perseverança, muita paixão pela tarefa de formar jovens através do tênis. Desta forma, esperamos estar prontos para que, quando estivermos frente a frente com possibilidades especiais como estas possamos levar as crianças participantes do nosso projeto ao ponto mais alto que consigam chegar. E qual seria este ponto? Só o tempo e o talento de todos os envolvidos dirão.
*Marcelo Motta, diretor técnico do projeto social do Rede Tênis Brasil.
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