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“Quando começamos a Brewgooder em 2016, nossa missão era usar a cerveja para construir um mundo melhor”, diz Alan Mahon, fundador da marca de cerveja escocesa, com sede em Edimburgo, a capital do país. “Ao longo dos anos, geramos oportunidades desde o Reino Unido até diferentes partes do mundo”.
Por meio da Brewgooder Foundation, a Brewgooder estima que impactou mais de 150 mil pessoas, principalmente com iniciativas de água potável. Em 2018, a cervejaria se tornou a primeira da Escócia a receber a certificação B-Corp, que atesta que uma empresa está atendendo a altos padrões de desempenho verificado, responsabilidade e transparência em fatores como benefícios a funcionários e doações.
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Agora, os esforços sociais da Brewgooder incluem ingredientes de comércio justo, o chamado fair trade. A cervejaria está começando a produzir sua primeira cerveja integralmente com fonio, um grão africano ancestral e possivelmente o primeiro cereal cultivado.
Ela é, também, a primeira cervejaria a colocar a bebida de fonio em portfólio permanente. Outras iniciativas com o grão sempre foram ações pontuais, para um festival, por exemplo. A Brewgooder já havia usado o ingrediente como parte de uma colaboração com a cervejaria Brooklyn Brewery de Nova York, que auxilia outras cervejarias ao redor do mundo para promover o fonio.
Com a decisão, a Brewgooder planeja produzir entre 200 mil e 300 mil litros de Fonio Session IPA por ano, volume capaz de envasar de 560 mil e 845 mil latas de 355 ml. A cervejaria escocesa estima que a nova cerveja contribuirá anualmente com 2 milhões de libras esterlinas (R$ 14,7 milhões na cotação atual) para a economia de comércio justo, o chamada fair trade.
Para produzir essa quantidade, a cervejaria precisou estabelecer uma nova cadeia de suprimentos destinada a garantir o acesso ao grão. Trabalhando com a Fairtrade Africa, a Fairtrade Foundation UK e a Flocert, a Brewgooder está produzindo a Fonio Session IPA, a partir dos grãos cultivados pelo Groupement des Producteurs de Fonio au Foutah (Grupo de Produtores de Fonio de Fouta), uma cooperativa agrícola de Guiné, que inclui 67 agricultores. Guiné, que foi colônia do Império Francês até 1958, é um país africano minúsculo, de 246 mil km2 e 14 milhões de habitantes, quase a mesma população da cidade de São Paulo.
Com a ajuda da nova cerveja e da nova cadeia de suprimentos, os agricultores poderão produzir até dez vezes mais fonio do que atualmente, impactando não apenas as fazendas, mas também as comunidades ao seu redor. Foutah, ou Fouta Djallon, é uma região montanhosa na Guiné, conhecida por sua rica biodiversidade e diversidade cultural. Justamente por causa do fonio, ela é considerada um importante centro agrícola.
A Brewgooder também fez parceria com a Terra Ingredients, de Minneapolis, e a Michigan State University, nos EUA, para ajudar a cooperativa de fonio a melhorar os sistemas de sementes, fortalecer a inclusão de gênero e aumentar a qualidade das colheitas.
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Os três grupos de apoio aos agricultores buscam desenvolver sistemas de sementes mais robustos que ajudem a cooperativa certificada de comércio justo na Guiné a cultivar melhores grãos, garantindo que todos tenham a chance de se beneficiar desses avanços.
Na elaboração da cerveja, cerca de 10% do grão usado é fonio, uma proporção que a Brewgooder decidiu após experimentar quantidades variando de 5% a 12%. “Você nota totalmente a diferença entre esta e outra Session IPA”, diz Mahon. “Estamos tentando introduzir no mercado de uma maneira que as pessoas tenham alguma exposição a um grão que não conheciam antes”. Mahon afirma que o fonio confere sabores de laranjas cristalizadas, cerejas e uvas Gewürztraminer.
De acordo com Mahon, a cadeia de suprimentos do fonio foi intencionalmente ampliada para que outros cervejeiros e fabricantes de alimentos possam ter acesso ao grão, que alguns consideram um superalimento. O World Wide Fund (WWF), organização não-governamental internacional que trabalha na preservação da natureza, nomeou o fonio como um dos seus Future 50 Foods, uma lista de 50 alimentos para pessoas e um planeta mais saudável.
“Fizemos a parte mais difícil”, diz ele. “É ótimo ser o primeiro da categoria, mas não o único.” Mahon espera que outras cervejarias façam cervejas de fonio para aumentar o conhecimento sobre o grão. A produção mundial de fonio é tradicional na África Ocidental, liderada principalmente pela Guiné. Em 2022 produziu 487,5 mil toneladas, representando cerca de 74% da produção total global. Outros países de destaque que produzem o grão são a Nigéria, com cerca de 84,2 mil toneladas, e Mali, que produziu 37,8 mil toneladas. O cultivo deste grão é adaptado a condições climáticas desafiadoras, o que o torna uma opção viável para agricultores em áreas suscetíveis à seca.
*Don Tse é colaborador da Forbes EUA. É escritor e consultor de cerveja conhecido mundialmente como The Don of Beer e está no mercado de cerveja artesanal há 25 anos, além de ser jurado no BJCP National. Também escreve para mídias no Canadá, Reino Unido, Austrália, Ucrânia e Singapura.
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