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Para ter bons retornos no mercado financeiro é preciso apostar em ativos diversificados que proporcionem tanto rendimentos quanto valorização. Por isso, aliar rentabilidade e segurança está entre os grandes desafios do mercado.
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Segundo a pesquisa “O Brasil que Investe” realizada pela B3 em 2024, 60% dos entrevistados mencionam a rentabilidade como o principal critério na escolha do investimento. No entanto, o mercado está passando por algumas turbulências que dificultam alcançar esse objetivo sem passar por grandes volatilidades.
Fatores como o aumento das taxas de juros globais, a inflação persistente, os conflitos geopolíticos, a guerra na Ucrânia e as tensões no Oriente Médio criam um ambiente de incerteza que impacta o comportamento dos investidores.
Então, como montar uma carteira equilibrada preparada para lidar com choques inesperados? Para especialistas consultados pela Forbes Brasil, apostar em ativos considerados “reserva de valor” deve ser o caminho.
O que é reserva de valor?
O nome pode até ser parecido, mas uma reserva de valor é muito diferente de uma emergência, que tem o objetivo de cobrir despesas inesperadas. Também é diferente dos investimentos que protegem contra a inflação, normalmente associados a ativos de renda fixa atrelados a índices de preços — como o Tesouro IPCA+.
A função de uma reserva de valor é preservar a capacidade de um ativo de manter seu valor ao longo do tempo, sem que se perca o poder de compra. Ou seja, são investimentos que conseguem performar bem e trazer segurança em momentos de crise.
Para cumprir esse papel, os ativos que compõem a reserva devem ter correlação negativa com os índices de ações. Em outras palavras, eles possuem dinâmicas próprias. Assim, quando a bolsa sobe ou desce, por exemplo, esses ativos não acompanham esses movimentos.
Algumas características ajudam a definir se um ativo serve ou não ao propósito. Aqueles considerados aptos a desempenharem o papel são duráveis, escassos, estáveis e amplamente aceitos.
Um exemplo clássico é o ouro. Em cenário de guerra ou paz, ele segue intacto.
Os profissionais recomendam que todo investidor tenha uma parcela de sua carteira dedicada a esses ativos, especialmente aqueles que possuem uma grande exposição à renda variável.
A especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital, Mariana Conegero, alerta para não confundirmos tempos de turbulência com Bear Market (ou um ciclo de mercado marcado pela desvalorização da bolsa de valores), já que não são exatamente a mesma coisa, embora possam ocorrer simultaneamente.
“A turbulência refere-se à volatilidade ou incerteza no mercado, o que pode afetar tanto períodos de alta (Bull Market) quanto de queda (Bear Market). O Bear Market, por sua vez, é um período de baixa sustentada no preço de ativos, geralmente definido como uma queda de 20% ou mais em relação ao pico anterior”, diz Conegero.
O período é caracterizado por alta volatilidade, devido ao impacto de juros elevados, inflação persistente, e incertezas geopolíticas. Geralmente, esse tipo de mercado se caracteriza pelo pessimismo generalizado, retração de investimentos e menor atividade econômica.
“Atualmente, a avaliação de estar ou não em um Bear Market depende do comportamento dos índices principais, como o S&P 500 ou o Ibovespa. Recentemente, alguns mercados têm estado próximos de correções, mas isso varia de acordo com a região”, afirma a especialista.
Em 2024, o mercado financeiro tem mostrado sinais de volatilidade e incerteza, mas não há um consenso claro se estamos em um Bear Market global.
Quais são os ativos para compor a reserva de valor?
Para estabelecer a carteira é importante observar o perfil do investidor e do portfólio. Geralmente, ativos com alta liquidez, baixa volatilidade, baixo risco, alta segurança, e performance acima da inflação acabam sendo mais interessantes.
De acordo com Idean Alves, planejador financeiro e sócio da Aware Investments, quanto maior sua carteira de renda variável, maior precisa ser sua reserva de valor. “Isso funciona como uma forma de proteção contra a volatilidade que a renda variável pode trazer”, afirma o planejador.
Ouro: Na visão de Alves, o ouro é o ativo mais indicado e recomendado para compor a reserva de valor. Isso é consenso até mesmo entre os bancos centrais: o ouro é a rede de segurança definitiva. Enquanto as moedas podem ser impressas à vontade, o metal continua sendo um recurso finito. Para o especialista isso o torna o ativo de referência quando a incerteza econômica aparece. “Existem fundos de investimento que aplicam diretamente nesse metal precioso e as ETFs (Exchange-Traded Fund) que replicam o desempenho de índices relacionados ao ouro na bolsa de valores”, explica.
Moedas: Moedas como o dólar, euro e libra também são muito procuradas em momentos de crise, mesmo sujeitas a disponibilidade do governo em aumentar a circulação no mercado ou não. O investimento nelas pode ser realizado por meio da compra em casas de câmbio ou via fundos cambiais.
Títulos da dívida americana: Os famosos “bonds” são como um contrato de empréstimo, no qual o emissor se compromete a pagar juros ao investidor e devolver o valor principal em uma data determinada no futuro. Eles costumam oferecer pagamentos de juros fixos de forma regular, proporcionando um rendimento estável. Além disso, no caso de falência ou liquidação da empresa emissora, os detentores de Bonds têm prioridade sobre os acionistas no recebimento de pagamentos. Já no caso dos títulos americanos, o “empréstimo” é feito ao Estado. Como as chances da maior economia do mundo dar um calote são mínimas, eles são considerados como um dos ativos mais seguros do mundo.
E as criptomoedas?
Para alguns as moedas digitais podem ser uma alternativa, já que são recursos escassos. O sistema do Bitcoin prevê que até 2140, o máximo de moeda circulando será de 21 milhões de unidades.
Mesmo se enquadrando em uma das caraterísticas da reserva de valor, é uma estratégia muito mais volátil que as demais. “Em alguns casos, a volatilidade dos criptoativos tira um pouco a ideia de proteção e segurança, principalmente em cenários instáveis. O ouro, dólar e euro também oscilam, mas a moeda digital varia muito mais”, diz o planejador financeiro.
Reserva de valor x ativos de qualidade
No geral, não. A reserva de valor e o conceito de “Flight to Quality” estão relacionados, mas não são exatamente a mesma coisa. O termo se refere ao ato de buscar proteção em qualidade superior, enquanto “reserva de valor” é uma característica intrínseca dos ativos escolhidos.
Reserva de valor refere-se a ativos que mantêm seu valor ao longo do tempo, independentemente das condições econômicas. Esses ativos são caracterizados pela estabilidade, baixa volatilidade e capacidade de proteger o patrimônio em tempos de incerteza. O objetivo é preservar o capital em cenários adversos.
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Já o Flight to Quality é o ato de buscar proteção em ativos de boa qualidade. Ou seja, um comportamento de investidores em momentos de crise ou incerteza econômica. “Eles migram para ativos mais seguros e confiáveis, deixando de lado investimentos mais arriscados”, diz Alves. O movimento pode ocorrer em direção a ativos que já são considerados reserva de valor, como o ouro.
O post Como se Proteger com Ativos ‘seguros’ em Turbulências? apareceu primeiro em Forbes Brasil.