Por Que o Dólar Sobe 15% em 2024 Mesmo com Queda de Juros nos EUA?

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A preocupação com as contas públicas brasileiras tem aumentado entre investidores estrangeiros, que veem o país com um risco fiscal crescente. Esse cenário já resultou em uma expressiva fuga de capitais, contribuindo para a desvalorização de 15% do real em relação ao dólar — o que faz com que a moeda americana fure o patamar psicológico dos R$ 5,60.

A incerteza quanto ao cumprimento das metas fiscais tem sido o principal fator por trás dessa pressão cambial, justamente quando a expectativa era de que o início dos cortes de juros nos Estados Unidos fosse aliviar o câmbio. Afinal, por que isso acontece?

A resposta está nas contas públicas. Entre janeiro e setembro de 2024, o Brasil registrou a saída de US$ 52,4 bilhões (R$ 296 bilhões), a segunda maior da história nesse período, de acordo com os dados do Banco Central. Esse fluxo negativo reflete a falta de clareza nas contas públicas e a dúvida do mercado sobre a capacidade do governo de controlar a dívida.

Com a dívida pública crescendo de forma acelerada e a economia mostrando sinais de fragilidade, os investidores demandam um prêmio de risco mais elevado, ou seja, taxas de juros mais altas para compensar a maior percepção de risco.

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Teoria versus prática

A alta do dólar vai na contramão do que se esperava há pouco menos de um mês. Em setembro, o Federal Reserve cortou os juros em 50 pontos percentuais, para uma faixa de 4,75% a 5%, iniciando um ciclo de flexibilização monetária.

Em teoria, a redução dos juros nos EUA deveria beneficiar o câmbio de países emergentes como o Brasil, pois menores rendimentos na renda fixa norte-americana incentivam investidores a buscar retornos maiores em mercados mais arriscados. Com mais dólares entrando no país, a moeda tende a se depreciar.

No entanto, apesar de uma queda expressiva do dólar logo após a decisão do Fed, a moeda rapidamente voltou a subir, pressionada por questões domésticas, e acumula alta de mais de 4% desde então.

A teoria não se concretizou. Isso porque a dívida pública bruta do Brasil corresponde a 77,8% do Produto Interno Bruto (PIB), e o país está há quase uma década sem gerar superávit primário.“Se o Brasil não conter os gastos públicos, essa dívida pode explodir, e o dólar continuará a subir se o problema fiscal não for enfrentado”, diz Mariana Dreux, gestora de fundos da Itaú Asset.

Como resposta a essa pressão, o governo prepara medidas para conter os gastos obrigatórios, que, segundo a Reuters, serão apresentadas após o segundo turno das eleições municipais. Fontes próximas ao governo afirmam que a contenção dessas despesas é fundamental para garantir a sustentabilidade do arcabouço fiscal, liberando espaço para gastos discricionários, como investimentos em infraestrutura. Com as despesas obrigatórias avançando rapidamente, elas têm reduzido a capacidade do governo de investir em outras áreas importantes.

Na avaliação do governo, um controle mais rigoroso dos gastos públicos será necessário para estabilizar a dívida pública bruta abaixo de 80% do PIB.

Consequências da valorização do dólar

Além do impacto sobre o fluxo de capitais, a desvalorização do real e a valorização do dólar geram efeitos diretos na economia brasileira. Produtos importados, como eletrônicos e alimentos, tornam-se mais caros, pressionando o custo de vida. O aumento do preço dos combustíveis, precificados em dólar, afeta diretamente os custos de transporte e logística, resultando em um aumento generalizado dos preços.

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Essa alta na inflação pode levar o Banco Central a aumentar ainda mais a taxa de juros, o que encarece empréstimos e financiamentos. “Com a elevação dos juros, o poder de compra dos brasileiros diminui, já que eles acabam gastando mais para adquirir os mesmos bens e serviços”, explica Hayson Silva, analista de câmbio da Nova Futura.

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