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Conflitos são inevitáveis em qualquer relacionamento. No entanto, o verdadeiro crescimento não vem de evitar discussões, mas de como a relação é reparada depois. Muitas vezes, casais ignoram um passo crucial que segue a uma briga: a discussão da relação, ou “DR.”
Uma DR vai além da resolução superficial de um desentendimento. Trata-se de abordar o impacto emocional que o conflito deixou. Mesmo após pedidos de desculpas ou acordos, frequentemente restam sentimentos – mágoa, frustração ou confusão – que não desaparecem magicamente. Essas emoções, se não tratadas, podem corroer a confiança e a intimidade emocional com o tempo.
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Casais que regularmente se envolvem nessas discussões pós-conflito mais profundas tendem a experimentar maior resiliência emocional, conexão e compreensão. Eles não apenas resolvem disputas: eles curam e crescem juntos.
Aqui estão três componentes-chave de uma DR:
Avaliar os danos
Quando a briga acaba, os casais muitas vezes não dedicam tempo para discutir como o conflito realmente os fez se sentir. Emoções como mágoa, medo ou sensação de incompreensão ficam enterradas. Em uma DR, é necessário que cada um se abra sobre como a discussão os impactou emocionalmente. Isso permite que o parceiro veja a sua perspectiva de forma mais clara e crie empatia.
É possível iniciar uma DR após uma discussão acalorada da seguinte maneira: comece nomeando claramente suas emoções, como “eu me senti magoado após nossa discussão.” Em seguida, convide o parceiro a compartilhar seus sentimentos, perguntando: “Você pode me ajudar a entender como se sentiu naquele momento?”. Isso abre uma conversa bilateral focada na conexão emocional, em vez de culpas.
Reflita sobre o que o parceiro compartilha para garantir compreensão. Por exemplo, é possível dizer: “Parece que você se sentiu frustrado por causa de [X]. Está certo?”. Isso cria empatia e abre espaço para a cura.
Curiosamente, enquanto o processo de nomear emoções pode parecer intencional, pesquisas publicadas pela International Society for Research on Emotion sugerem que ele ajuda a regular emoções de forma inconsciente, sendo uma forma eficaz de regulação emocional sem a necessidade de plena consciência.
Identificar as necessidades individuais
Muitas vezes, os desentendimentos não são apenas sobre o problema específico, mas são motivados por necessidades mais profundas e não atendidas. Talvez um dos parceiros tenha se sentido abandonado ou pouco importante durante a discussão, ou talvez haja uma necessidade não resolvida de mais afeto ou atenção que foi despertada.
Pesquisas publicadas no Clinical Psychology and Psychotherapy em 2020 mostram que experiências de negligência emocional e abuso na infância frequentemente levam a sentimentos de não ser amado, o que pode causar insegurança e desconfiança em relacionamentos adultos.
Esses fatores contribuem para mal-entendidos, distanciamento emocional e conflitos contínuos, dificultando que os parceiros cultivem intimidade e se comuniquem de forma eficaz. Consequentemente, as DRs devem priorizar a identificação dessas necessidades subjacentes, pois muitas vezes elas permanecem não expressas durante o calor da discussão.
Uma maneira de aprofundar a questão durante uma briga de casal é perguntar: “O que eu realmente precisava naquele momento?”. Em seguida, comunicar isso de maneira calma e aberta.
Por exemplo, é possível dizer: “O que eu precisava durante aquela discussão era a certeza de que estamos do mesmo lado”. Incentive o parceiro a fazer o mesmo e trabalhem juntos para entender as necessidades emocionais um do outro, criando mais apoio mútuo no relacionamento.
Construir soluções futuras
Parte essencial de qualquer DR é planejar como gerenciar conflitos futuros, que são inevitáveis em qualquer relacionamento. Em vez de simplesmente seguir em frente, os casais devem usar essa oportunidade para criar estratégias e fortalecer sua capacidade de enfrentar desafios juntos.
Pesquisas sobre como o conflito e a mediação afetam a atividade cerebral em parceiros românticos revelam que aqueles que participaram de discussões mediadas mostraram maior ativação no núcleo accumbens – uma região do cérebro ligada ao sistema de recompensa –, especialmente entre aqueles que se sentiram satisfeitos com a resolução.
Essa descoberta destaca os efeitos positivos da resolução de conflitos tanto no bem-estar emocional quanto nas respostas neurais dentro dos relacionamentos. Engajar-se nesse processo não só promove a confiança, mas também garante que ambos os parceiros se sintam ouvidos e apoiados em futuros desentendimentos.
É possível extrair soluções de uma DR ao concluir com perguntas como: “o que podemos fazer de diferente na próxima vez?” ou “como podemos nos apoiar melhor nessas situações?”. Dessa forma, o foco muda do conflito em si para soluções construtivas e proativas.
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Estratégias para DRs eficazes
Apesar de sua importância, DRs são frequentemente evitadas por medo de que discutir conflitos passados piore as coisas. Muitos casais consideram desnecessário ou exaustivo revisitar esses tópicos e carecem de ferramentas de comunicação para navegá-los de forma eficaz.
No entanto, evitar essas conversas não elimina as emoções; sentimentos não abordados podem se agravar, levando ao distanciamento, ressentimento e a conflitos recorrentes
Para que as DRs sejam eficazes, ambos os parceiros precisam se sentir seguros, abertos e não defensivos. Aqui estão algumas estratégias para criar esse espaço seguro:
Escolha o momento certo. Evite iniciar uma DR imediatamente após a briga de casal. Espere até que ambos estejam calmos e prontos para discutir sem raiva ou frustração.
Defina intenções claras. Deixe claro que o propósito da DR é cura emocional e compreensão, e não atribuir culpa. Isso mantém o foco no crescimento e na empatia.
Pratique a escuta ativa. Revezem-se para falar sem interrupções. Reflita sobre o que o outro está dizendo para garantir a compreensão antes de responder. Por exemplo, diga algo como: “Estou ouvindo você dizer que se sentiu desvalorizado. Isso está certo?”.
Mantenha-se emocionalmente centrado. Se as emoções começarem a se intensificar novamente, façam uma pausa e lembrem-se do objetivo — conectar-se e curar, não reabrir feridas antigas.
Seja paciente. As DRs podem não resolver tudo em uma única conversa. Estejam dispostos a revisitar essas discussões ao longo do tempo, conforme novos sentimentos surgirem.
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