Por Que a Desaceleração no Mercado de Luxo é Vilã na Vida do Bilionário Bernard Arnault?

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Bernard Arnault ocupa o 5º lugar dos ranking da Forbes dos mais ricos do mundo. Ele é dono de um império no mercado de luxo

Bernard Arnault alcançou o prestigiado posto de homem mais rico do mundo pela primeira vez em abril de 2023. Desde então, o fundador e CEO do conglomerado de bens de luxo LVMH viu seu patrimônio despencar US$ 22 bilhões (R$ 120 bilhões) e é “apenas” o quinto colocado no ranking da Forbes das pessoas mais ricas do mundo.

A queda de sua fortuna acompanha uma desvalorização de quase 20% nas ações da LVMH só nos últimos seis meses. A controladora de marcas icônicas como Louis Vuitton, Christian Dior, Givenchy, Fendi e Marc Jacobs não está sozinha no cenário de desaceleração global do mercado de luxo. Concorrentes como a Kering, dona da Gucci, Yves Saint Laurent e Balenciaga, acumulam uma desvalorização de mais de 30%, enquanto a Prada, controladora também de Miu Miu e Jil Sander, teve um declínio menor, de 6%.

Jean-Noël Kapferer, especialista em marcas de renome mundial, define que uma marca de luxo deve refletir os seguintes ideais: rótulo, raridade, exclusividade, relação com o tempo, tradição, histórico, trabalho manual e complexidade. O segmento de luxo também pode ser dividido em nove categorias: moda e itens pessoais (como joias e produtos de beleza), imóveis, automóveis, saúde, aeronaves privadas, iates, fine art, hotéis e bebidas finas. Especialistas apontam que a  entrada de novos consumidores tendem a começar pelo setor de moda e itens pessoais.

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Sinais preocupantes

Os resultados financeiros recentes apresentados pelas companhias indicam um cenário alarmante para o mercado. A Kering teve uma queda de 11% na receita no primeiro trimestre de 2024 em comparação com o mesmo período do ano passado. Eles também esperam uma retração de 30% nas vendas no próximo semestre. Já a LVMH registrou uma receita de 41,7 bilhões de euros (R$ 250 bilhões), abaixo da expectativa de mercado, que era de 42,5 bilhões (R$ 255 bilhões). Os resultados das companhias foram impactados pelo enfraquecimento da demanda chinesa por itens de luxo, o que gerou quedas expressivas nas vendas de varejo e atacado de suas principais marcas.

O mercado asiático tem desempenhado um papel crucial nesse cenário. Só a empresa do bilionário Bernard Arnault apresentou uma queda de 14% nas vendas na Ásia no primeiro semestre. A China, responsável por cerca de 25% do consumo global de luxo, tem enfrentado uma desaceleração econômica que penalizou as grandes empresas do setor. “Essas companhias dependem do mercado asiático e europeu”, explica Katherine Braun, coordenadora da pós-graduação em Negócios e Marketing de Luxo Contemporâneo da ESPM.

Essa realidade reflete a postura do governo chinês no combate aos efeitos socioeconômicos da pandemia. Enquanto as economias ocidentais adotaram políticas de estímulo direto às famílias e suporte ao consumo, o governo chinês preferiu focar em uma política de tolerância zero, implementando regras rigorosas de isolamento. Além disso, a ajuda econômica foi direcionada às empresas. Isso resultou em um aumento das dívidas corporativas e prolongou a recuperação do mercado consumidor.

Durante a pandemia, o setor imobiliário chinês tornou-se o centro de uma crise no final de 2021, com o excesso de dívidas da principal incorporadora do país, a Evergrande. Os imóveis representam uma grande parcela da riqueza das famílias chinesas, e a receita gerada pela venda de terrenos responde por 30% dos faturamentos dos governos locais.

Essa crise imobiliária gerou um efeito cascata que atingiu diretamente o consumidor chinês. A população tem poupado mais e consumido menos diante desse cenário incerto. “Estamos vendo um consumo menor na população chinesa, que agora precisa recompor o dinheiro que perdeu com a crise imobiliária”, comenta Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter. “Quando olhamos para os dados da balança comercial, as importações estão muito aquém do patamar histórico da China. Ou seja, o país está importando menos porque está consumindo menos.”

Uma luz no fim do túnel?

Nos últimos cinco dias, as ações da LVMH acumularam um desempenho positivo de 5%, enquanto a Kering registrou alta de 2%, impulsionadas pelo anúncio de um pacote de medidas da China para estimular a economia. Apesar da recente valorização, especialistas do mercado destacam que essas companhias possuem fundamentos financeiros sólidos, o que pode proporcionar um retorno atrativo para os investidores no longo prazo.

De acordo com a Bridgewise, fintech israelense de análise de investimentos por inteligência artificial, o setor de luxo ainda enfrenta desafios, mas marcas consolidadas como LVMH e Kering têm potencial para se recuperar à medida que o cenário econômico se estabiliza.

“O setor como um todo pode estar passando por um período de turbulência, mas empresas robustas como essas tendem a se recuperar à medida que as condições de mercado melhoram”, comenta Thiago Kurth Guedes, diretor da Bridgewise no Brasil. “Uma abordagem de longo prazo e uma avaliação cuidadosa dos fundamentos continuam sendo cruciais para investidores em um setor volátil, mas promissor.”

A recomendação da Bridgewise é de compra para as ações da Prada e LVMH, com avaliação outperform — o que indica que elas devem ter um desempenho superior em relação a seus pares. Já para a Kering, a orientação é manter os papéis na carteira.

Luxo: consumidores mais conscientes e países emergentes

O terreno para as empresas de luxo é fértil. Segundo Katherine Braun, os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre sustentabilidade, e as marcas de luxo, conhecidas por itens de alta qualidade e durabilidade, têm se posicionado a favor de uma produção sustentável. Além disso, os mercados emergentes, como o Brasil, estão ganhando relevância e projetando um futuro promissor para essas grandes empresas.

O mercado brasileiro de luxo movimentou R$ 74 bilhões em 2022, quando o país ainda se recuperava dos efeitos econômicos da pandemia. A estimativa é que o setor cresça de 6% a 8% ao ano até 2030, quando poderá alcançar R$ 133 bilhões em faturamento. Os dados são de um estudo feito pela Bain & Company.

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“O brasileiro vê seu influenciador preferido usando um acessório de luxo e deseja adquirir também, iniciando assim sua experiência nesse universo. No Brasil, ainda há muito potencial a ser explorado, com grande demanda reprimida e oferta limitada”, conclui Braun.

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