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A AgroGalaxy (AGXY3), uma das maiores fornecedoras de insumos agrícolas do Brasil, entrou com pedido de recuperação judicial, acendendo um alerta no mercado e evidenciando os desafios enfrentados pelo agronegócio em um cenário de clima adverso, valorização do dólar e juros elevados. Desde então, as ações da companhia despencaram mais de 20%.
Jonatas Pulquerio, diretor de gestão de risco agropecuário do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), destacou que a situação é preocupante tanto para o agronegócio brasileiro quanto para o mercado de capitais.
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“Esse tipo de evento pode minar a confiança de investidores e credores, afetando diretamente o acesso ao crédito e ao capital necessários para impulsionar o setor. Sem uma solução adequada, podemos ver aumento nos custos de produção, redução de investimentos e, em última análise, impacto no crescimento do agronegócio”, comentou Pulquerio em seu LinkedIn.
No protocolo de recuperação judicial, a AgroGalaxy citou os impactos negativos de eventos climáticos recentes como um dos principais fatores que pressionaram sua estrutura de capital. Com dívidas que superam R$ 2 bilhões e uma alavancagem financeira que subiu de 3,5 vezes para 8,5 vezes em apenas um ano, o pedido trouxe um comportamento negativo para ativos expostos ao setor. Os principais impactados foram os Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais), que registraram desvalorizações de até 6,9% nos últimos dias, devido à exposição a títulos da empresa.
“O pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy e a suspensão no pagamento de suas dívidas podem gerar um efeito cascata no setor de crédito ao agronegócio, já que a companhia é uma fornecedora relevante de insumos agrícolas”, afirmou Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital.
Entre janeiro e março de 2024, os pedidos de recuperação judicial entre produtores rurais (pessoa física) no Brasil chegaram a 106, um aumento de 523% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Serasa Experian. No entanto, Felippe Serigati, pesquisador do agro na FGV, ressalta que esses números não refletem o setor como um todo, dado que a base de comparação é pequena e muitos produtores rurais ainda encontram alternativas para evitar a recuperação judicial.
“De fato, houve um aumento significativo nos pedidos de recuperação judicial no setor agro. No entanto, isso ainda é um retrato limitado dos agentes atuantes. Afirmar que o agronegócio como um todo está em crise é exagerado, e nem todos estão sofrendo dessa forma”, declarou Serigati.
Afinal, o agronegócio está em crise?
O agronegócio é o principal motor da economia brasileira, representando 25% do Produto Interno Bruto (PIB), empregando mais de 820 mil brasileiros e respondendo por 49,6% das exportações totais do país. Apesar disso, nem todas as cadeias foram afetadas da mesma maneira, e nem todos os grãos sofreram impacto. Por exemplo, a safra recorde de milho 2022/2023 resultou em queda nos preços, o que apertou as margens dos produtores dessa commodity. Isso levou ao acúmulo de estoques de fertilizantes e defensivos, enquanto a demanda de grãos enfraqueceu, o que impactou os preços dos insumos e agravou a situação financeira da AgroGalaxy.
“Quem comprou esses produtos como insumos para produção de matéria-prima passou por uma situação desconfortável no ano passado”, explica Serigati.
Por outro lado, comerciantes que dependem do milho enfrentaram desafios diferentes dos que dependem do algodão. Em junho de 2023, o Brasil se tornou, pela primeira vez, o maior exportador mundial da commodity, superando os Estados Unidos. “Os produtores de algodão não estão enfrentando dificuldades, ao contrário da soja, que teve uma quebra de safra, o que tornou a situação desconfortável para esses produtores”, completou Serigati.
Apesar de ser uma gigante do mercado agrícola, a AgroGalaxy opera em um setor fragmentado, o que não reflete a totalidade do agronegócio brasileiro. Portanto, a recuperação judicial da companhia não deve ser vista como um retrato abrangente do setor.
A AgroGalaxy tem saída?
Segundo especialistas, a realidade da AgroGalaxy é influenciada por fatores como taxas de juros mais altas no Brasil e no exterior, queda na demanda chinesa e questões climáticas, que contribuem para a percepção de crise no agronegócio.
“Os juros altos prejudicam setores cíclicos, como o agronegócio, diminuindo a rentabilidade e encarecendo a alavancagem. A fraca demanda da China por insumos agrícolas, combinada com questões climáticas como incêndios e secas severas, também pesam no cenário”, avalia Guilherme Sharovsky, especialista de crédito corporativo da Bloxs Capital Partners.
Ainda assim, a AgroGalaxy está longe de declarar falência. De acordo com especialistas, a empresa conta com o respaldo para superar as dificuldades do fundo de private equity Aqua Capital. O pedido de recuperação judicial garante à companhia proteção contra credores por 60 dias.
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“Podemos ver a repercussão no valor das ações da AgroGalaxy, mas não identifico um risco sistêmico. Não acreditamos que a empresa esteja em situação de pré-falência”, conclui Sharovsky.
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