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Assim como aconteceu no comunicado da decisão que elevou a taxa referencial Selic em 0,25 ponto percentual, na semana passada (18), o Comitê de Política Monetária não deu dica de quais serão os seus próximos passos na ata da última reunião, divulgada nesta terça-feira (24).
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No documento, os diretores do Banco Central brasileiro apontaram que as incertezas no cenário doméstico e internacional dificultam a sinalização de um caminho claro para os juros.
Lá fora, a falta de previsibilidade vem do que fará o Federal Reserve em seu ciclo de corte de juros — na última quarta-feira, o Fed surpreendeu com uma redução acima da esperada pelo mercado, de 0,50 pp. Além disso, a desaceleração da economia chinesa e a grande variação no preço das commodities também são um fator levado em consideração.
No Brasil, a leitura é de que os dados de indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho estão mais fortes do que o esperado, levando a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficar acima da meta estabelecida pela autarquia, de 3%.
“Em virtude das incertezas envolvidas, o Comitê preferiu uma comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo, sem conferir indicação futura de seus próximos passos, insistindo, entretanto, no seu firme compromisso de convergência da inflação à meta”, disse o BC.
O documento reforçou que a desancoragem das expectativas de inflação — com o relatório Focus mostrando uma estimativa de 4,37% para 2024 — é “um desconforto comum a todos os membros do Copom”.
“A reancoragem das expectativas é um elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta ao menor custo possível em termos de atividade. O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental isso e continuará tomando decisões que salvaguardam a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação”, aponta a ata.
Selic: alta gradual
Na reunião que decidiu pela taxa Selic de 10,75% ao ano, os diretores discutiram as características atuais da inflação, com a conclusão de que há fatores que apontam para um fortalecimento do indicador, já que há uma estagnação no processo de deflação, a inflação de serviços segue maior do que a projetada e a conjunção das políticas econômicas internas e externas possuem traços inflacionários.
Com isso em mente, o BC optou por um início gradual dada as incertezas envolvidas no cenário. Dessa forma, a economia brasileira pode se beneficiar não apenas do impacto da política monetária local, mas também da atuação de todos os outros fatores externos.
Assim como informado no comunicado anterior, o Copom reforçou que as próximas decisões serão baseadas em como os principais indicadores econômicos e as expectativas para a inflação se comportarão.
O documento também reforçou a mensagem de que o balanço de riscos está assimétrico, com um risco maior de alta nos preços. Na ata do último encontro, em julho, o BC havia mencionado que o IPCA “tem arrefecido”, uma referência que foi retirada do texto desta semana.
Fiscal em xeque
O Banco Central também voltou a chamar a atenção para a condução da política fiscal do país, com uma maior preocupação com a transparência e eficiência da estratégia adotada.
“Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, aponta a ata.
O que pensa o mercado?
Para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, o documento divulgado hoje ratifica a leitura do mercado de que o tom da comunicação está mais duro (hawkish) que o inicialmente esperado. Essa hipótese já havia sido levantada e se tornou consenso após o comunicado da decisão e elevou as apostas de um ajuste de 0,5 pp para a Selic no próximo encontro.
“A leitura de cenário apresentada hoje deixa nítida que a instituição seguirá elevando juros nas próximas reuniões, algo que será feito, todavia, de maneira escalonada, com o Copom aumentando a magnitude das altas reunião a reunião. Tal comportamento pode ser entendido não só como forma de respeito aos dados divulgados no intervalo das reuniões, mas como uma ferramenta do BC para retomar a credibilidade de sua política monetária”, aponta o economista.
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Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, a percepção é de que o BC enxerga potencial para o crescimento da economia brasileira e espaço para um aperto na política monetária “suficientemente restritivo” para que se atinja as metas estabelecidas. Para ele, o cenário apresentado não muda as expectativas para a Selic, ajustadas após a divulgação da decisão.
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