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Na 24ª edição do Rock in Rio, que completa quatro décadas este ano, Roberta Medina vive o seu 22º festival. Vice-presidente da empresa que promove o evento, a Rock World, a executiva cresceu com o Rock in Rio, fundado por seu pai, Roberto Medina. “Enquanto ele tinha uma grande paixão pela publicidade, eu encontrei a minha na produção de eventos.”
Desde a infância, a empresária viveu uma relação de amor e ódio com o festival. Na primeira edição, quando tinha apenas sete anos, o pai ficou endividado. A família só conseguiu quitar a dívida nove anos depois, e ali Roberta viu de perto a importância da resiliência nos negócios. “Aquilo que, em determinado momento, você chama de prejuízo, pode virar investimento se você conseguir seguir em frente.”
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Aos 17, entrou oficialmente no dia a dia da empresa e, em pouco tempo, já era a cara do festival. O cabelo azul, a jovialidade e o espírito inconformado e inovador viraram símbolo para atrair as novas gerações para a companhia em meio a novos desafios. “A coisa mais valiosa que meu pai fez – que também teve seu preço – foi me jogar para os leões”, diz. “Meu amadurecimento foi trocar o pneu com o carro andando em um negócio desse tamanho.”
No início, o desafio era ser levada a sério e provar seu valor para além do nome do pai. “Você não começa do ponto neutro, começa devendo porque você furou os caminhos”, diz. Na sua casa, as meninas tinham limitações em relação ao que o irmão poderia fazer, mas na empresa foi Roberta quem ganhou espaço. “Meus irmãos sempre trabalharam com a gente, mas eu que fiquei com o Rock in Rio.”
Para onde vai o Rock in Rio
A executiva firmou suas raízes em Portugal, onde o Rock in Rio ganhou sua primeira edição em 1985. Roberta vive ao lado do marido, Ricardo Acto, e dos filhos, Lua e Theo. Diferentemente do pai, ela prefere tudo em uma dose menor, por isso se encontrou no país de 10 milhões de habitantes. Apesar da distância, faz questão de acompanhar de perto a grandiosidade do Rock in Rio em todas as edições.
Este ano, a organização calcula que o evento deve atrair 47 mil turistas para a capital fluminense e movimentar quase R$ 3 bilhões.
À frente do Rock in Rio, no Rio de Janeiro e em Lisboa, do The Town, que estrou no ano passado em São Paulo, e do Lollapalooza, a Rock World deve manter o foco no Brasil pelos próximos anos. “Percebemos que o modelo de negócio do Rock in Rio é muito específico para uma expansão internacional. Queremos deixar a equipe respirar, estruturar, amadurecer e consolidar pilares de cultura nesse momento.”
Confira, abaixo, destaques da entrevista com Roberta Medina.
Forbes: Qual o balanço que você faz da sua trajetória e do Rock in Rio nesses 40 anos?
Roberta Medina: Foi bastante desafiadora, mas provou que os sonhos valem a pena. Aquilo que, em determinado momento, você chama de prejuízo, se você segue em frente, pode virar investimento. Esse caminho mostra que seguir em frente faz sentido e vale a pena. É um projeto que exige muito pessoalmente de todo mundo que está envolvido, mas que dá esse retorno e mostra que o mundo pode ser melhor para todo mundo, sim.
Minha jornada foi muito acelerada. Tem dias que quero jogar tudo pela janela e outros que volto apaixonada. Empresa familiar tem seus desafios, é muito intenso. Meu amadurecimento foi trocar o pneu com o carro andando em um negócio desse tamanho. De fora, parece tudo bonito, mas eu bati muito a cabeça. Tive momentos de querer ir embora e não ter maturidade para lidar com coisas que estão acontecendo. Você sofre mais, mas valeu a pena.
Como foi crescer nesse meio sendo mulher e filha do dono?
O desafio é ser levada a sério. O preconceito externo é que você está ali só porque é filha. Com certeza, só estava ali naquele momento porque eu era filha, é o cartão de visita. Mas existe esse desafio inicial de provar que você existe por si só e tem algo para acrescentar, além de ganhar o respeito das pessoas. Você não começa do ponto neutro, começa devendo porque você furou os caminhos.
Em casa, tinha aquela cena do que os meninos podem e as meninas não podem. Mas, curiosamente, na hora que foi para trabalhar, quem estava cuidando do ouro do Roberto era eu. Meus irmãos sempre trabalharam com a gente, mas eu que fiquei com o Rock in Rio.
Vivi um pacote de preconceitos, só que eu estava empoderada para encará-los. A coisa mais valiosa que meu pai fez – e que também teve seu preço – foi me jogar para os leões. Se ele tivesse ficado atrás respondendo por mim, eu nunca ia ter tido espaço para me colocar.
Como você resumiria suas funções atualmente?
Hoje, como mãe, estou fazendo escolhas. Me identifico muito mais com o ritmo de vida em Lisboa do que no Brasil, o que fez eu ter que abrir mão de uma parte executiva por aí. Tenho a área de sustentabilidade em todos os países, a liderança de Portugal e, no Brasil, estou no board da empresa e tenho uma função de reputação de marca, que me dá liberdade para interagir com todas as áreas.
Quando chega o evento, fico com a área de comunicação de risco: se deu ruim, chega em mim. Sempre fico com umas maluquices e, agora, vou herdar mais uma etapa de um projeto focado na Amazônia.
O grande desafio é saber com qual boné você está falando: de executiva, sócia, board, mãe. Tem hora que são todos juntos e misturados, porque, afinal de contas, somos uma só.
Como vai ser seu Rock in Rio este ano?
Não tenho o espírito de curtir o festival, porque a responsabilidade é muito grande. Quando os portões abrem, eu paro de respirar. Enquanto está acontecendo, é estado de tensão. Só quando as pessoas vão embora volto a relaxar. Mas uma coisa que aprendi desde os meus primeiros anos é que é preciso ver as pessoas aproveitando.
Qual o segredo para continuar atraindo novas gerações para o festival?
A gente trabalha para o público. Com esse foco, conseguimos acompanhar as tendências. Quando você escuta seu público, já vem a informação do que você tem que entregar e inovar. Está na nossa natureza. Nosso legado é essa insatisfação permanente que faz a gente ter um compromisso constante de que a próxima edição vai ser sempre melhor que a anterior.
O que mais podemos esperar por aí? Para onde pretendem expandir?
Depois de passar por Espanha, Estados Unidos e Portugal, percebemos que o modelo de negócio do Rock in Rio é muito específico para uma expansão internacional. Tem uma entrega operacional muito sofisticada e requer um alto investimento, diferente dos festivais tradicionais. A gente montou o Lollapalooza em 25 dias e fica três meses montando um Rock in Rio. São coisas diferentes.
Em determinado momento, decidimos não olhar mais para a expansão internacional e expandir para o país mais próximo que a gente tinha do Rio de Janeiro: São Paulo (risos). Além do Rock in Rio em Portugal, que permanece firme e forte, decidimos concentrar nossos esforços no mercado brasileiro.
Com o Rock in Rio, o Lollapalooza e o The Town, agora eu não quero mais nada, só estabilizar, porque tem dado bastante dores de crescimento rápido. O Roberto não para de inventar, então logo vêm mais novidades paralelas ao festival, mas queremos deixar a equipe respirar, estruturar, amadurecer e consolidar pilares de cultura nesse momento.
E para o seu futuro profissional, o que espera?
Meu desejo é continuar concentrada em Portugal e ajudar a estrutura a crescer, mantendo a alma, o legado e os valores do Roberto. Contribuo em todas as áreas tentando sempre trazer o olhar de como a gente acredita que tem que ser feito. Quando a empresa cresce, se você não cuidar bem, isso pode se perder. Espero poder contribuir nessa área de consolidação dos valores e, pontualmente, fazer projetos divertidos no meio do caminho.
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