O banco central americano vai cortar os juros nos EUA, e eu com isso?

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Brendan McDermid/Reuters

FED deve tirar a taxa do maior nível desde 2001 e promover primeiro corte desde início da pandemia

O Federal Reserve (FED) deve promover o primeiro corte nos juros dos Estados Unidos desde a pandemia de covid-19 na próxima quarta-feira (18). O último grande indicador econômico saiu a uma semana da reunião deste mês e praticamente consolidou a queda de 0,25 ponto percentual (pp).  

A taxa está no intervalo entre 5,00% e 5,25% há mais de um ano. Entre maio de 2022 e junho de 2023, o Fed realizou o mais rápido e intenso ciclo de aperto monetário na história dos EUA, vindo de um patamar próximo a zero. 

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Em março de 2020, em uma reunião de emergência para avaliar os impactos econômico-financeiros da disseminação do novo coronavírus, o FED golpeou o juro norte-americano. Em um só lance, a taxa desabou da faixa de 1,50% a 1,75% para entre 0,25% e zero.  

Nesse vaivém da política monetária dos EUA em um curto espaço de tempo, o atual custo de empréstimo no país está no maior nível desde 2001. Afinal, por que o rumo dos juros é tão importante?

Vamos por partes

Do ponto de vista do mercado financeiro, a resposta é simples. “O título público dos EUA é o ativo pelo qual se entende que tem o menor risco. Então, quando esse papel paga mais de 5% ao ano, é preciso entender que tudo o que tem mais risco deve render mais do que isso”, explica Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. 

Michael M. Santiago/Getty Images

A política monetária dos EUA é chave para determinar a liquidez dos mercados globais

Assim, quando os EUA têm juros mais elevados, as moedas perdem valor – em especial, a de países emergentes, como o real brasileiro. Da mesma forma, a renda variável enfrenta mais dificuldade para subir diante da concorrência desleal com a renda fixa oferecendo taxas mais altas. 

Isso ocorre porque o preço dos demais ativos de risco no mundo é definido a partir de quanto rendem os bônus soberanos norte-americanos, chamados de Treasuries. “Ou seja, se o título deixar de render até 5,5% ao ano, são os outros ativos que vão pagar [mais]”, emenda o especialista. 

Por outro lado, cortes nos juros dos EUA melhoram a perspectiva de retorno dos ativos de risco mundo afora. “A redução da taxa americana diminui a atratividade dos ativos dos por lá. Com isso, os investidores buscam alternativas mais lucrativas em outros mercados, o que cria uma oportunidade para o Brasil”, explica Bruna Pacheco, sócia da GT Capital.

Em outras palavras, a situação da taxa de juros dos EUA “tem tudo a ver” com o rumo do mercado em todo o mundo. Ou melhor: “A política monetária dos EUA é chave para determinar a liquidez dos mercados globais”, resume Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo.

E o motivo é simples: “os EUA são a maior economia do mundo e muitas decisões financeiras em outros países, inclusive no Brasil, são influenciadas pelas ações do FED”, acrescenta Bruna Allemann, chefe de investimentos internacionais da Nomos.

E eu com isso?

Foi o ex-ministro Delfim Netto, morto em agosto, quem disse que “a parte mais sensível do ser humano é o bolso”. Daí, então, a pergunta que fica é: o que o “ser humano” tem a ver com um corte de juros nos EUA pelo FED?

No caso, a questão central é entender por que está se cortando. Cerca de quatro anos e meio atrás, a redução drástica e emergencial nos juros ocorreu devido ao evento totalmente imprevisível da pandemia da covid-19.

Foi o último grande episódio de impacto com potencial transformador do cenário econômico mundial. Na época, os EUA e outras grandes economias do Ocidente, como o Brasil, entraram em recessão técnica, registrando dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB). 

Porém, se é apenas uma acomodação da economia dos EUA e global – como parece ser o cenário atual – a consequência pode ser exatamente o oposto. Ou seja, pode haver o ingresso de mais recursos externos para países mais arriscados. Como resultado, cai o custo de financiamento da economia, ajudando-a a crescer mais.

Isso ocorre porque quando o FED inicia o ciclo de cortes, boa parte dos investidores estrangeiros começam a procurar por ativos em mercados mais atrativos para alocação do capital. “E é dessa maneira que o Brasil entra no jogo”, diz Guilherme Sousa, Economista da Ativa Investimentos.

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Em se tratando do “bolso” do brasileiro, o que interessa é que a queda do juros dos EUA tende a valorizar o real ante o dólar. Como resultado, há menor pressão sobre a inflação. De quebra, os produtos importados ficam mais baratos e as viagens internacionais, mais acessíveis. Nas entrelinhas, o recado do FED para você seria: prepare as malas!

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