Bitcoin x Inflação: a criptomoeda pode te proteger?

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A inflação tem sido uma preocupação constante para as economias do mundo inteiro, pois corrói o valor do dinheiro, reduz o poder de compra e cria obstáculos severos ao desenvolvimento econômico.

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Para proteger seu poder de compra, é importante que você entenda quais as alternativas disponíveis, a fim de empregar em sua estratégia de investimentos aquelas que estejam alinhadas com suas metas e perfil de risco.

O bitcoin é visto como uma importante reserva de valor, mas será que é para todos? Além disso, será mesmo correto compará-los com hedges tradicionais? 

É relevante entender o racional por trás desse conceito de bitcoin como reserva de valor para entender quais seus limites e potenciais frente a cenários de inflação.

Representação física do Bitcoin – Foto: Getty Images – Adam Gault

Existe correlação entre bitcoin e inflação? Entenda

A realidade da Inflação global

Para entender o papel do bitcoin no contexto da economia mundial, é preciso que você compreenda o atual cenário da inflação em um mundo com economia globalizada. De acordo com um recente relatório do Banco Mundial, existe a perspectiva de que a inflação global se estabilize em níveis um pouco mais baixos do que vimos verificando recentemente. 

O relatório aponta um crescimento global projetado de 2,6% em 2024, abaixo da média histórica. O Banco Mundial estima ainda que a inflação global caia para 3,5% em 2024 e 2,9% em 2025. Na prática isso perspectiva certa estabilidade, porém, com taxa de crescimento mais lenta do que tínhamos no mundo antes da pandemia da Covid-19.

O fato é que esse crescimento mais lento, combinado com outros fatores geopolíticos cria vulnerabilidades que colocam as políticas monetárias em alerta contínuo na busca do controle da inflação, seja ela inflação de demanda, de custos, inercial, estrutural ou monetária. 

A inflação monetária e o câmbio 

Há inúmeros contextos ao longo da história que podemos utilizar para entender o impacto da inflação sobre as moedas fiduciárias, mas, para ficarmos num cenário ainda recente na memória de todos nós, vamos considerar aqui a  pandemia do Covid-19. 

Durante a pandemia, a maioria das economias do mundo se viu obrigada a emitir moeda para combater a crise econômica e financeira, injetar liquidez nos mercados e, dessa forma, apoiar empresas e trabalhadores, evitando uma recessão que poderia ter sido de proporções inadministráveis. 

Ocorre, porém, que essa política monetária expansionista teve efeitos inflacionários relevantes que persistem até hoje, pois com grande volume de moeda sendo injetado na economia, o valor unitário da moeda se deteriora, refletindo diretamente nos preços de bens e serviços. 

A questão é que a impressão contínua de dinheiro tem impactos que vão além da desvalorização da moeda, pois distorce toda a estrutura econômica, dificultando a coordenação planejada das atividades, podendo ocasionar rupturas importantes em cadeias produtivas. 

Bitcoin: hedge inflacionário ou reserva de valor?

O bitcoin vem sendo avaliado por inúmeros estudos de economistas, matemáticos e formuladores de políticas monetárias do mundo todo, contudo, ainda há bastante controvérsia quanto à eficácia da criptomoeda como hedge. 

Um dos principais argumentos a favor do Bitcoin como proteção contra a inflação é sua produção limitada, sua descorrelação com ativos tradicionais e a descentralização. Diferente das moedas tradicionais cujo câmbio flutua em resposta à desvalorização do dólar, o bitcoin possui uma oferta limitada de 21 milhões de unidades, e essa característica o torna imune à pressão inflacionária gerada pela criação indiscriminada de moedas pelos bancos centrais. 

Um estudo da Universidade de Cambridge, publicado em 2020 apontou correlação negativa entre bitcoin e inflação. Além disso, estudos da Bloomberg em 2022 identificaram correlação positiva do bitcoin com a taxa de juros, o que significa que quando as taxas de juros aumentam, a tendência é que o valor do bitcoin também suba. 

Apesar da comparação com hedges inflacionários tradicionais, o bitcoin tem características específicas que o deixam muito mais próximo de uma alternativa a cenários de inflação do que propriamente uma proteção. 

Bitcoin e a tese de descorrelação da inflação

Muitos estudos avaliam o bitcoin sem relação direta ou previsível com a inflação, ou seja, seu preço não sobe ou desce em função de índices de inflação, estando seu comportamento, segundo essa visão, muito mais relacionado a fatores específicos como a volatilidade influenciada por questões de regulação, o uso da moeda por investidores institucionais e a especulação. 

Atividades consolidadas no mercado de capitais há muito tempo, como negociações alavancadas, índices futuros e mesmo ETFs de cripto, vem sendo adotadas de forma cada vez mais corrente nas criptomoedas, e isso pode gerar demanda maior que a oferta de bitcoins disponíveis, criando assim um obstáculo à sua função como potencial proteção contra a inflação, devido ao aumento da volatilidade e possíveis distorções de preço.

O valor do bitcoin

Devido ainda à escassez programada que mencionei, o mais provável é que o bitcoin continue se valorizando ao longo do tempo. O primeiro preço registrado do Bitcoin foi de aproximadamente US$ 0,08 em julho de 2010. Na data de hoje, 11 de setembro, enquanto escrevo este artigo o Bitcoin está cotado em  US$ 56.000. Aqui estamos falando de um aumento de 70.000.000% em pouco mais de 14 anos. 

Esse crescimento exponencial verificado desde sua criação, leva muitos investidores a considerar o Bitcoin como um “ouro digital” devido à sua capacidade de manter o poder de compra.

Dessa forma, chegamos aqui a um fundamento importante do bitcoin: ele foi projetado como uma moeda digital descentralizada, livre de controle governamental, para funcionar como uma alternativa ao sistema monetário vigente. Nesse sentido, temos o bitcoin como reserva de valor e não necessariamente como proteção. 

Embora o bitcoin possua alta volatilidade, enfrentando quedas no seu valor em dólar, isso não tem a ver com perda dos seus fundamentos elementares, mas sim, com outros fatores, como a confiança global no sistema financeiro dos Estados Unidos  – que, a despeito da crise e inflação histórica que vem enfrentando, segue sendo a maior economia do mundo –  cuja moeda é mandatária nas transações financeiras cotidianas. 

Ainda assim, enquanto o valor das moedas fiduciárias segue suscetível à perda de valor decorrente da inflação contínua, o valor do bitcoin tem grande possibilidade de seguir aumentando e se mostrando como parte da solução aos problemas inerentes ao atual sistema fiduciário. 

Perspectiva de longo prazo

Apesar das complexas modelagens que dividem estudos e visões sobre o bitcoin no curto prazo, muitos especialistas ainda veem essa criptomoeda como uma proteção potencial contra a inflação no longo prazo. Raoul Pal, ex-executivo do Goldman Sachs, argumenta que o Bitcoin pode ser uma “opção de call sobre o futuro do dinheiro”.

 

A lógica por trás dessa visão coincide com o que apontou o estudo da Universidade de Cambridge e também a Bloomberg, de que à medida em que os governos aumentem a oferta monetária, ativos com oferta fixa como o Bitcoin podem se tornar mais valiosos em termos relativos.

Estratégias para investir em bitcoin

Se você pretende investir em bitcoins como parte de sua estratégia de proteção de seu poder de compra, lembre-se que é muito importante adotar uma abordagem equilibrada e sobretudo, ciente dos riscos envolvidos. 

Estudar macroeconomia e compreender os componentes dinâmicos dos potenciais retornos do bitcoin é fundamental e, nesse sentido, é importante atentar também às variáveis que, ao longo do tempo, podem afetar o cenário das cripto, como alterações regulatórias, o crescente surgimento de novas criptomoedas, mudanças no volume de negociações em função de aumento da alavancagem, liquidações em cascata, desconexão com os fundamentos, entre outras. 

Cinco coisas para lembrar ao investir em bitcoins 

Adote perspectiva de longo prazo e não se deixe empolgar ou desanimar por flutuações de curto prazo influenciadas por especulações momentâneas.
Mantenha a diversificação de sua carteira, combinando bitcoin com outros ativos tradicionalmente utilizados para proteção, além de ações de empresas resilientes. 
Só assuma riscos calculados. O bitcoin tem grande potencial de valorização, mas tem também alta volatilidade, portanto, se você não lida bem com flutuações extremas, é melhor ficar de fora.
Estude antes de investir. Comprar criptomoedas com base apenas no que “ouviu dizer
” é um erro muito grande. Você precisa entender o produto que está adquirindo, acompanhar o mercado de tecnologia, as notícias sobre marcos regulatórios e variáveis macroeconômicas globais para ter certeza que o bitcoin é de fato aderente aos objetivos que você tem para sua carteira de investimentos. 
Atente à segurança: bitcoins são armazenados em carteiras digitais e se você perder sua senha, não terá como acessar, então considere transferir seus ativos para carteiras de hardware offline para maior proteção.

Um mercado em contínua evolução

O mercado de criptomoedas é muito recente se comparado ao mercado de capitais e, portanto, com histórico limitado e nem sempre apresentou correlação clara com cenários de inflação alta ou baixa. No atual cenário global, o bitcoin segue, ao meu ver, apresentando características únicas que o tornam atrativo em cenários de inflação alta.

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Concordo com os analistas que afirmam que a oferta limitada e descentralização do bitcoin constituem uma alternativa interessante às moedas fiduciárias suscetíveis à desvalorização contínua. Entretanto, penso que só deve usar bitcoin como reserva de valor o investidor que tenha clareza quanto à volatilidade de curto prazo, a crescente correlação com ativos de risco em períodos de turbulência econômica e as dinâmicas de mercado decorrentes da entrada de grandes investidores institucionais com forte poder de direcionar movimentos de curto prazo. 

Ainda serão intensos os debates em torno do mercado de criptomoedas conforme o mesmo vai amadurecendo e sofrendo, ou não, influência das políticas monetárias dos bancos centrais. Então, se você investe ou pretende investir, precisa estar pronto para acompanhar tudo isso.

Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI, pós graduado em pedagogia empresarial, coordenador do MBA em Planejamento Financeiro e Análise de Investimentos da Anhanguera Educacional, sócio do Clube FII e sócio fundador da holding financeira MR4 Participações.

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