A complexa gestão de fortuna de atletas profissionais

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Pode ser comum pensar que a vida financeira de um atleta de alto rendimento seja sempre tranquila. É verdade que alguns se tornam verdadeiras máquinas de fazer dinheiro, exibindo mansões, carros, iates e roupas de luxo sem limites e grandes fortunas. Mas não é bem assim. Longe dessas ideias preconcebidas, muitos atletas e ex-atletas enfrentam dificuldades econômicas. 

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De acordo com vários estudos, 50% dos jogadores de futebol profissional ficam falidos poucos anos após o fim de suas carreiras. Esse percentual sobe para 60% entre os jogadores da NBA e 70% na NFL. Embora esses números devam ser vistos com cautela, o fenômeno é real. 

“Desde o início da minha carreira, sempre tentei gerenciar bem minhas economias, porque, quando se ganha muito dinheiro muito jovem, é fácil perder o controle”, diz Moussa Sissoko, atual jogador de futebol do Nantes. Esse hábito foi adquirido muito antes dos primeiros grandes salários e fortuna, quando ele ainda ganhava apenas algumas centenas de euros como aspirante no centro de formação do Toulouse Football Club. 

Atletas de alto nível muitas vezes possuem dificuldades para gerir suas fortunas

Como gerir uma fortuna?

Isso reflete a “síndrome do garoto que cresceu em uma família modesta, mas nunca faltou nada”. Embora o sólido meio-campista saiba “se divertir e compartilhar com os entes queridos”, ele nunca se tornou alguém que gasta compulsivamente. “Isso não faz parte da minha natureza”, confessa. O controle sobre seu estilo de vida, por mais óbvio que pareça, surge como um fator indispensável para preservar e fazer crescer o patrimônio dos atletas de alto nível.

Muitos deles recorrem a profissionais qualificados para receber orientação. “Ninguém está preparado para ganhar tanto dinheiro tão jovem. Nem os campeões, nem as pessoas ao redor deles”, explica Frédéric Schatzlé, presidente da Elite Patrimoine, uma empresa de gestão de patrimônio que atende clientes com rendimentos acima de 500 mil euros (R$ 3, 1 milhões) por ano. Dentre eles estão muitos atletas, como os jogadores de basquete franceses Rudy Gobert e Evan Fournier. “Nossa primeira missão é ajudá-los a gerenciar seu orçamento”, destaca ele.

“Em caso de imprevisto, é uma catástrofe”

“Os jogadores rapidamente se tornam alvos, então nós fazemos uma barreira contra aqueles que se aproximam por interesse”, continua Nathan Crémilleux, consultor de investimentos imobiliários para jogadores de futebol. Após passar pelas categorias de base do Saint-Étienne e pela seleção francesa, antes de iniciar sua nova carreira, o jovem empresário de 24 anos tem um sólido conhecimento dos aspectos negativos desse meio. 

Além disso, os salários dos atletas profissionais variam bastante. Enquanto os jogadores do Paris Saint-Germain ganham uma fortuna,  cerca de um milhão de euros (R$ 6,2 milhões) brutos por mês, os atletas acompanhados por Nathan recebem de 10 a 15 vezes menos. Ainda assim, é um valor muito maior do que o de um jogador de handebol ou basquete da primeira divisão, onde o salário mensal médio varia entre 7 mil (R$ 43,4 mil) e 10 mil euros (R$ 62 mil) brutos. É um salário acima da média, mas que exige uma gestão cuidadosa, devido à curta duração da carreira.

“Para um atleta que ganha 100, dizemos para ele confiar 80 a nós todo mês, viver com 20 e, ao final da carreira, ele terá 20 de renda disponível”, explica Frédéric Schatzlé. “Para alcançar isso, diversificamos os investimentos entre imóveis e aplicações financeiras”. 

Tudo isso sem esquecer que uma carreira pode terminar abruptamente, devido a lesões ou a uma queda de desempenho. “Fazemos tudo para que nossos clientes não enfrentem dificuldades se a carreira deles acabar ao final do primeiro contrato”, afirma o gestor de patrimônio. Assim, a Elite Patrimoine prioriza a segurança em detrimento do risco, mesmo que isso limite o retorno. 

“Quando se trata de fazer empréstimos, tomamos muito cuidado com a cobertura da dívida, que é igual ou superior a 100%”, destaca ele. “Alguns envolvem jovens atletas em cenários de risco excessivo, especialmente em investimentos imobiliários. Em caso de imprevisto, é uma catástrofe…”

Opte por uma nova carreira sem pressa

A mídia já relatou os problemas financeiros enfrentados por atletas profissionais, especialmente jogadores de futebol. O francês Bruno Bellone, campeão da Eurocopa de 1984, chegou a dormir em seu carro, sufocado por uma dívida colossal nos anos 1990. O motivo foi um investimento imobiliário duvidoso, realizado a conselho de um amigo de seu pai. 

Mais recentemente, os jogadores Ludovic Giuly e Yohan Mollo também perderam milhões de euros ao confiar a gestão de seu patrimônio a pessoas e empresas sem escrúpulos. Para evitar essa situação, Moussa Sissoko sempre manteve um olhar atento sobre suas finanças. Mesmo tendo um consultor de investimentos que é uma pessoa de confiança e amigo desde seus 17 anos, ele afirma: “Mesmo delegando parte dessa atividade, presto muita atenção ao que está acontecendo. Simplesmente porque é meu dinheiro, gosto de saber o que estão fazendo com ele, onde está investido…”, explica. 

Essa percepção é compartilhada por Nathan Crémilleux, que acredita que “os atletas delegam demais” essa questão. Para ele, o oposto seria benéfico tanto para a vida pessoal quanto para a carreira esportiva do jogador. “Quando eles têm uma lesão, por exemplo, isso lhes permite escapar e descobrir outras coisas”, ressalta. “Inconscientemente, eles já começam a preparar a sua transição de carreira.”

Para muitos atletas, o fim da carreira é visto com apreensão. Depois de uma vida inteira vivendo de sua paixão, os ganhos para compor a fortuna param de repente. “Ter o hábito de poupar permite escolher melhor uma nova atividade para exercer sem a pressão de obter lucro imediato”, observa Frédéric Schatzlé. “Um de nossos clientes deseja se tornar osteopata. São necessários cinco anos de estudos, ou seja, cinco anos sem salário. Daí a necessidade de ser cuidadoso desde o início.”

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Aos 34 anos, Moussa Sissoko sabe que a aposentadoria está próxima. O atleta do Nantes está envolvido em vários projetos para dar continuidade à sua vida após o futebol. Desde 2022, ele é presidente da United Academy, uma academia de recrutamento de jovens no Senegal. Também investe em uma plataforma que oferece treinos de futebol sob medida, chamada Playse, e em uma startup que ensina pessoas a gerenciar suas finanças, o Club Nec. 

Será que ele seguirá os passos de Tony Parker, Blaise Matuidi ou Thierry Dusautoir, ex-atletas que se tornaram empreendedores?

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