Solidão: como manejá-la para que ela não adoeça você

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Já faz algum tempo que muitos especialistas têm colocado a solidão na categoria de epidemia global, mas, no final de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deu um passo além: disse que ela é uma ameaça global à saúde e deve ser tratada como um problema de saúde pública.

Sim, a falta crônica de conexão social tem o potencial de afetar não só a saúde física, como a emocional e a mental. Solidão não é sinônimo de estar sozinho, mas é ficar sem estabelecer qualquer tipo de relação afetiva de forma duradoura, e isso vale para família, amigos, colegas de trabalho, amores.

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A cada ano que passa, mais e mais pesquisas vêm mostrando o impacto dela em todas as áreas da nossa vida.

Para começar, a saúde mental. Pessoas solitárias têm maior probabilidade de ficarem deprimidas. Além disso, solidão e depressão compartilham sintomas comuns, como o desamparo e a angústia. Também aumentam as chances de abuso de álcool. Sem uma rede de apoio, há maior risco de que o consumo de bebidas alcoólicas ultrapasse o razoável.

A solidão é também fonte permanente de estresse, sendo ainda associada à baixa energia, fadiga e má qualidade do sono.

Algumas pesquisas têm sugerido que, ao longo do tempo, ela pode fazer aumentar os níveis de certas substâncias inflamatórias que levariam a uma queda na capacidade cognitiva, fazendo crescer a probabilidade de surgirem vários tipos de demência.

Assim, a solidão de fato tem a capacidade de reduzir o nosso bem-estar físico e emocional. Como então, manejá-la de forma a que ela não nos adoeça?

1. Primeiro, criando oportunidades para interação social. A minha dica são os esportes coletivos. Pode ser vôlei, futebol e por aí vai. Como essas atividades dependem do grupo atuando juntos, acabam por estimular o convívio social e o estreitamento dos laços. Outro esporte que propicia essa oportunidade é a corrida. Não tem nada mais estimulante e gostoso do que correr ao lado de alguém.

2. Procure sair do mundo virtual e vá para o real. Nada contra as interações sociais feitas pelos aplicativos e pelos apps de vídeo, mas já há provas de que a qualidade dos contatos não é tão boa quanto no cara a cara, além de haver uma tendência a que as pessoas fiquem mais distraídas e concentrem-se menos naqueles com os quais interagem.

3. Invista em ações em projetos sociais e em cursos ou encontros. Fazer trabalho de voluntariado e ajudar o outro é uma maneira maravilhosa de participar da sua comunidade e estabelecer novas conexões. Além dessa dica, a outra é que depois da pandemia, muitos encontros presenciais voltaram a ser oferecidos, como grupos que discutem livros e até jantares que reúnem desconhecidos em um restaurante bacana.

4. As organizações também podem (e devem) tornar os laços sociais uma prioridade, em todos os níveis. Uma maneira é promover encontros presenciais regularmente, a fim de integrar ao resto do time, por exemplo, terceirizados que trabalham apenas “na rua” ou profissionais exclusivamente “home office”. Afinal, eles também são parte da organização, não é mesmo?

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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