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Com o encerramento dos Jogos de Paris 2024, onde mais de 10.500 atletas de todo o mundo competiram em 329 eventos valendo medalhas em 32 modalidades diferentes com milhões de fãs torcendo ao redor do mundo, foi possível fazer algumas reflexões.
Primeiramente foi um retorno triunfante à normalidade dos Jogos Olímpicos, com o público podendo assistir as competições na Cidade Luz em arenas maravilhosas espalhadas pelos pontos turísticos mais clássicos de Paris. Foi lindo!
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É interessante observar como durante as Olimpíadas, o esporte toca as pessoas de uma maneira diferente. Mesmo quem não assiste, acompanha ou pratica esporte, durante as Olimpíadas está na frente da TV ou da tela do computador contemplando a beleza e a arte dos atletas olímpicos e se emocionando com eles e suas façanhas. Assistindo aos atletas nos empolgamos, nos inspiramos, até mais patriotas nos tornamos. A experiência dos Jogos é algo inexplicável.
Estar dentro de uma arena olímpica assistindo os atletas é uma experiência inesquecível e marcante. Sendo esse um fenômeno que toca tão profundamente as pessoas penso que utilizamos muito pouco o potencial que o esporte tem, seja na educação das crianças, na inspiração dos jovens, no combate ao sedentarismo e tantas outras questões que assolam nossa sociedade.
Enquanto competiam ferozmente entre si nos locais de competição, atletas de todo o mundo viveram juntos na Vila Olímpica nas mesmas condições, respeitando as mesmas regras e fornecendo um exemplo inspirador da missão dos Jogos Olímpicos de trazer atletas de todo o mundo juntos numa competição pacífica. Respeito é outro lema dos Jogos olímpicos, igualdade também. Para além de quem é o mais rápido ou a mais forte ou o que salta mais alto. O espírito olímpico é sobre união de todos os povos, buscar a excelência sim, mas dentro de critérios claros e do jogo limpo que valem para todos.
Os Jogos de Paris também tiveram a missão de trazer a equidade de gênero como uma das propostas e vimos as atletas brasileiras e também as norte-americanas alcançando resultados superiores que os homens.
Paris 2024 foi a primeira vez em que a delegação brasileira teve uma maioria feminina, e elas não foram somente para participar, mas também para competir com as melhores do mundo, alcançando resultados melhores até que os homens. Na delegação brasileira, elas foram responsáveis pelas únicas 3 medalhas de ouro. Das 20 medalhas que o Brasil conquistou em Paris 2024, 12 vieram das mãos de mulheres.
Os Estados Unidos, o grande vencedor dos Jogos de Paris 2024 com 126 medalhas, também tiveram as mulheres como protagonistas. Elas foram responsáveis por 67 subidas ao pódio contra 52 dos homens. Com um pouco mais estrutura para o esporte feminino, treinos mais específicos para as suas particularidades e incentivo correto, elas são capazes de voar muito alto.
Esses Jogos Olímpicos também reforçaram a saúde mental como o grande tema do momento. Atletas como as ginastas campeãs olímpicas Simone Biles, Rebeca Andrade, Raysa Leal (do skate) e o velocista norte-americano Noah Lyles também campeão olímpico, levantaram o tema como bandeira. Não há performance sem saúde mental em dia. Atualmente, saúde mental é vista vantagem competitiva e psicólogas e psicólogos estão inseridos na equipe dos atletas como nunca se viu antes.
O Comitê Olímpico do Brasil levou cinco psicólogos aos Jogos de Paris e um psiquiatra do esporte. Eu estava entre eles e pude presenciar a concretização do trabalho de um ciclo, culminando em espírito de equipe, medalhas, realizações e saúde mental preservada. Resultados ruins e frustrações também estiveram presentes e fazem parte dos Jogos. E psicólogos e todo staff estavam ali para funcionar como rede de apoio e espaço para reflexão e avaliação do que pode ser melhorado.
Se em outros momentos eram os treinos inovadores, o material mais tecnológico e as melhores estruturas que eram o diferencial, atualmente vimos o “humano” ser mais valorizado que o “herói” e as capacidades emocionais e a saúde mental visto como um diferencial.
A humanização dos atletas aproxima os “deuses do Olimpo” às pessoas comuns e isso também é um potencial incrível do esporte. Os heróis também sofrem, passam por dificuldades e ficam vulneráveis, e não são mais descartados. Atletas passam por questões de saúde mental como depressão e crises de ansiedade, buscam apoio e tratamento e retornam para o esporte ainda mais fortes e maduros tornando-se vozes potentes para desmistificar a tão estigmatizada vulnerabilidade emocional.
Nos dias de hoje e que ansiedade e depressão são uma epidemia – inclusive entre os atletas – saúde mental é pré-requisito para performance e é vista como vantagem competitiva. O esporte já foi o lugar onde quem não estava bem emocionalmente era descartado. Agora abriu-se a possibilidade de ser ouvido, escutado e tratado, para que o retorno seja o mais rápido possível.
A organização dos Jogos sintonizada com a pauta do COI sobre saúde mental disponibilizou um canal de Linha Direta de Saúde Mental aos atletas dando suporte confidencial e anônimo em todas as línguas, durante os Jogos Olímpicos e também nos Paraolímpicos de Paris 2024.
Dentro da Vila Olímpica também existia o espaço Mind Zone, onde era possível conversar com um profissional de saúde mental e utilizar o espaço para relaxamento e diminuição de estresse através de equipamentos de realidade virtual, pintura, espaço para treinos de respiração e meditação.
Todas essas iniciativas apontam para Jogos Olímpicos preocupados com os humanos que estão por trás dos heróis olímpicos. E você o que tem feito na sua realidade para equilibrar saúde mental e performance?
Carla Di Pierro é psicóloga da equipe multidisciplinar do Time RTB. Formada pela PUC-SP. Pós-graduada em Saúde Mental em atletas de Elite pelo Comitê Olímpico Internacional. Atuou na preparação psicológica de atletas de Paris-2024, Rio-2016 e Tóquio-2020. Também é psicóloga do Comitê Olímpico do Brasil.
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