Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
O Brasil é um país que detém 12% das reservas de água doce do mundo. Está aí parte da estratégia usada para ter se tornado uma potencial alimentar global. Mas a seca vem se impondo cada vez mais, como ocorre agora, com o país atravessando um dos períodos mais críticos de seca, temperaturas elevadas e queimadas que se alastram de forma generalizada em todos os biomas. Mudanças climáticas são cíclicas, afirma uma parte de pesquisadores em todo o mundo.
Mas em que medida? “Essa é uma pergunta bastante frequente. O importante hoje é o seguinte: se é cíclico ou não, o que a ciência consegue demonstrar com bastante solidez é que o quadro está mudando. Esse é um fato”, diz o agrônomo e doutor Cornélio Zolin, pesquisador da área de recursos hídricos da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT). “Que está mudando é inquestionável. E a reflexão é: o que nós vamos fazer em relação a essas mudanças” Zolin coloca que há um componente cíclico muito provável no mundo, juntamente com um componente antrópico, ou seja de mudança do uso dos recursos naturais. “É essa sinergia de fatores que nos coloca nesses cenários cada vez mais desafiadores.”
Leia também
Nos últimos 20 anos, o Brasil enfrentou várias secas severas, impactando fortemente a produção rural, de acordo com o Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas (ANA), criado há uma década. Para a produção de alimentos, por exemplo, a seca na safra 2020/2021, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, levou a perdas agrícolas da ordem de R$ 2807 bilhões estimados para os 10 anos seguintes, com destaque para cultivos como soja, milho e café. A seca daquele ano colocou o Brasil à beira do colapso energético, sendo considerada a pior delas em 90 anos, em termos de redução dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas do Centro-Oeste e do Sul, de onde vêm 70% da energia hidráulica do país.
Mas não foi apenas nesse momento, no ciclo 2020/21, que a seca trouxe consequências. Em anos anteriores, dois outros momentos foram preocupantes: entre 2012 e 2015 houve uma grande seca no Sudeste, principalmente em São Paulo, com forte impacto no abastecimento de água; e entre 2014 e 2017 houve uma estiagem severa no Nordeste, conhecida como a “seca do século”, afetando gravemente a agricultura e o abastecimento.
Agora novamente. Desde o ano passado, o Brasil enfrenta uma das piores secas das últimas décadas, especialmente agravada pelo fenômeno climático El Niño. Este evento contribuiu para a intensificação de condições secas em várias regiões, resultando em grandes impactos na agricultura, pecuária e no abastecimento de água. De acordo com o Monitor de Secas há cerca de 200 municípios em estado severo ou extremo em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Amazonas. Há risco para cultivos essenciais, como café, mandioca, milho, sorgo, girassol, entre outros por falta de água.
Em janeiro de 2024, do total de 5.565 municípios brasileiros, 2.083 relataram que pelo menos 40% de suas áreas agroprodutivas foram afetadas. No Mato Grosso, São Paulo e Goiás, várias cidades viram até 80% de suas terras agrícolas impactadas.
Inscreva sua empresa na lista Forbes Agro100 2024
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Siga a ForbesAgro no Instagram
A seca de 2023 foi severamente influenciada pelo fenômeno La Niña, que provocou anomalias climáticas, especialmente no Sul, Centro-Oeste e parte do Sudeste. A falta de chuvas intensificou-se no início do ano, prejudicando a produção agrícola e o abastecimento de água. No Sul, a estiagem prolongada impactou cultivos importantes como milho, soja e trigo, gerando uma quebra de safra significativa.
No Nordeste, embora a seca tenha sido menos intensa do que em anos anteriores, áreas do semiárido ainda sofreram com a escassez de água, afetando principalmente pequenos agricultores e pecuaristas. O Centro-Oeste, por sua vez, experimentou uma estiagem crítica em estados como Mato Grosso e Goiás, que comprometeu a produção de grãos, elevando os preços de commodities como a soja.
Agora, em 2024, a seca tem se intensificado por conta do fenômeno El Niño, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Norte e parte do Sudeste. Confira o que apontava o Monitor de Secas entre janeiro e julho deste ano:
Região Norte: O Amazonas e o Acre estão enfrentando condições de seca severa, que já se prolonga por meses. Culturas essenciais, como a mandioca, estão sofrendo uma redução significativa na produtividade. O oeste do Amazonas, em especial, registrou secas extremas que afetam diretamente a agricultura e a subsistência das comunidades locais.
Centro-Oeste: Estados como Mato Grosso e Goiás apresentam áreas críticas, com mais de 70% das regiões agrícolas afetadas pela estiagem. A produção de grãos como soja e milho está sendo duramente atingida, e muitos produtores estão recorrendo a sistemas de irrigação, aumentando os custos operacionais.
Região Sudeste: Estados como São Paulo e Minas Gerais têm sofrido com seca moderada a extrema em várias localidades, impactando culturas como café e cana-de-açúcar. Em São Paulo, cerca de 80 municípios continuam em condição de seca severa, com destaque para a redução das chuvas e das reservas hídricas.
Escolhas do editor
O post Com 12% da reserva global de água doce, Brasil tem cada vez mais secas intensas apareceu primeiro em Forbes Brasil.