Análise: Selic deve subir mesmo com deflação em agosto

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Análise: Selic deve subir mesmo com deflação em agosto

 

Um dia após o mercado financeiro atualizar a projeção para a taxa básica de juros no Boletim Focus, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve queda de 0,02%. A deflação põe em xeque a previsão de analistas que esperam não só uma alta da taxa Selic no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem. Agora, também preveem um salto do juro básico para 11,25% ao final deste ano.

Enquanto o Focus saiu na véspera, os números do IPCA foram divulgados nesta terça-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda assim, a queda do indicador não chega a ser uma surpresa. Uma pesquisa da Reuters apontava ligeira alta de 0,01%, em uma forte desaceleração frente ao avanço de 0,38% registrado em julho. 

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A pergunta que fica é: o IPCA negativo é suficiente para alterar a trajetória de alta que se desenha para a Selic nos próximos meses?

Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital e especialista em inflação, a resposta é não. Segundo ela, o índice ter ficado no terreno deflacionário produz apenas um “efeito psicológico” para o investidor. Ou seja, em um primeiro momento, a curva de juros pode se adaptar a um cenário mais otimista, apagando parte do ajuste de alta pós-Focus.

No entanto, esse sentimento não deve perdurar, avalia. 

Olhar mais amplo

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, dois tiveram queda, influenciando o resultado final do IPCA. Os preços no setor de habitação caíram 0,51%, enquanto Alimentação e bebidas teve queda de 0,44%. 

Com isso, houve um alívio de 0,08 ponto percentual (p.p) e de 0,09 p.p vindo desses grupos, respectivamente. Segundo Carla, da CM Capital, essa pressão deflacionária é apenas sazonal. Além disso, também era esperada, tendo em vista o impacto que eventos climáticos como o El Niño haviam exercido no início do ano. 

“A verdade é que estamos nos meses da metade do ano e há uma deflação condizente com os movimentos do começo de 2024″, explica. Segundo ela, esses são os maiores responsáveis pela inflação em patamar mais baixo em agosto. 

Para a economista, apesar do número negativo, as características do IPCA mostram que o impacto da política monetária aplicada pelo Banco Central pode ter chegado ao fim, principalmente no setor de serviços. O preços nesse segmento são uma das maiores preocupações do BC em suas últimas comunicações.

No ano, os preços de serviços acumulam alta de 5,18%. Em julho, esse número era de 5,01%. 

“Nos últimos meses, houve um arrefecimento grande dos serviços devido majoritariamente à inércia inflacionária. Depois da queda, hoje eles se encontram estável no patamar atual. Além disso, temos gargalos inflacionários de origem estrutural e que impactam setores como o de saúde”, aponta Carla. 

Ou seja, para ela, a soma de fatores entre gargalos estruturais e o esgotamento do efeito da Selic em 10,5% ao ano coloca a inflação de serviços acima da meta estabelecida pelo BC. E, com o fim da sazonalidade, o esperado para os próximos meses é que o IPCA volte a ter uma maior propensão a acelerar. 

E a Selic, como fica?

André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, acredita que o mercado deve seguir pressionando o Copom por um aumento de juros. No entanto, ele avalia que a  dinâmica externa, com o Federal Reserve iniciando o ciclo de cortes de juros neste mês também entram na equação. 

Para a economista da CM Capital, nem mesmo o efeito psicológico da deflação deve mudar a expectativa de alta nos juros na semana que vem. Segundo ela, isso acontece porque o grande gatilho para a revisão está no Produto Interno Bruto (PIB), que saiu na semana passada (03). Para ela, a inflação oficial corrobora a visão trazida pelo indicador de atividade econômica.

O dado mostrou que a economia brasileira cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024, acima do avanço de 0,9% esperado pelos analistas consultados pela Reuters. A surpresa positiva do PIB veio principalmente pelo consumo das famílias. Isso se reflete nos núcleos do IPCA mesmo com a queda do índice no agregado, aponta a economista. 

“Temos um esgotamento de movimentos positivos [para a inflação] que são sustentados por uma dinâmica doméstica e consumo aquecidos, além do mercado de trabalho pujante. Todos esses movimentos estão por trás dos vetores que compõem a parte mais negativa desse IPCA de hoje”. 

A CM Capital estima que a Selic deve terminar o ano acima da projeção trazida pelo Focus, a 11,50% ao ano. 

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Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, os números do IPCA podem ser considerados “muito bons”. No entanto, podem não ser suficientes para consolidar a projeção de manutenção da taxa Selic para a próxima reunião do Copom na semana que vem.

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