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Rodrigo Costa de Araújo nasceu na manhã do dia 19 de maio de 1987. Ele é a terceira geração de produtores de cacau do Sul da Bahia, no município de Uruçuca, a cerca de 40 km de Ilhéus. Dali a poucos anos, no início da década de 1990, a cacauicultura baiana passaria a enfrentar um de seus piores pesadelos: a vassoura-de-bruxa, praga que levou muitos à falência e ao abandono quase total de lavouras, levando a economia local a conhecer o fundo do poço. O prejuízo para a cadeia da fruta na região, por perdas diretas e impacto econômico, foi estimado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em US$ 10 bilhões (R$ 56 bilhões na cotação atual), ao longo dos anos.
“Quando era criança, eu odiava a roça”, conta Rodrigo, que hoje é uma referência em produtividade de cacau na Fazenda Liberdade, de 35 hectares, em Uruçuca. A vida acontecia na Santa Lúcia, de 28 hectares de lavouras, em Itacaré, a 70 km de Uruçuca, onde a família residia e que ainda hoje é tocada pelo pai, vindo de Minas Gerais. A Santa Lúcia é herança da avó materna. “Porque naquela época não tinha energia, não tinha televisão, tinha que dormir e acordar cedo, mesmo que a fazenda fosse uma recreação.” Cedo significava pular da cama antes das 5 da madrugada. A Fazenda Liberdade foi comprada em 2015. “Hoje eu gosto da roça, moro na fazenda e só saio porque não tem jeito. Mas, se pudesse, não sairia…”. Rodrigo precisa ir à cidade porque também montou um outro negócio, uma papelaria.
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O cacau está na cabruca, aquele no qual os pés da fruta ficam embaixo de árvores da Mata Atlântica, onde ele produziu 1.290 kg de amêndoas de cacau, por hectare, em 2023. Por causa do clima e de uma doença que atacou parte de suas lavouras, nesta safra deve colher entre 1.200 kg e 1.350 kg. Mesmo assim, as lavouras de Rodrigo produzem quase 10 vezes mais do que a média da Bahia, de 150 kg de cacau por hectare, e quase quatro vezes mais que a média brasileira, de 350 kg.
Por ser uma referência em produtividade na sua região, Rodrigo atrai técnicos e diretores de grandes empresas moageiras multinacionais, como a norte-americana Cargill, a suíça Barry Callebaut e a asiática Olan, com sede em Singapura, e grupos de produtores já organizados por Banco do Brasil, Senar, Sebrae, mais Yara Fertilizantes e o Instituto Federal, interessados em entender o que ele faz. Ou melhor, o que ele aprendeu a fazer. Sua fazenda entrou no radar e virou uma espécie de laboratório das possibilidades de alta produtividade com pés no chão – daqui a pouco vem a explicação. Vale registrar que a trinca de moageiras responde por 95% do cacau processado no Brasil, que, segundo a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), foi de 220 mil toneladas no ano passado, volume 7% acima do ano anterior.
Rodrigo tinha razão em “odiar a roça”. Para ter uma ideia da dimensão dos R$ 56 bilhões em perdas provocadas pela vassoura-de-bruxa, a Linha 6-Laranja do metrô de São Paulo foi orçada em cerca de R$ 15 bilhões; a Azul Linhas Aéreas tem um valor de mercado da ordem de R$ 8 bilhões, ou daria para construir cerca de 40 mil escolas públicas, ou 2 milhões de casas populares ou 5 mil hospitais de pequeno porte. Belo Monte, uma das maiores usinas hidrelétricas do país, custou cerca de R$ 30 bilhões.
Retorno ao cacau
Não por acaso, até o retorno em 2015, a vida de Rodrigo seguiu outro rumo. Ele estudou administração e marketing, fez pós-graduação em gestão pública e foi tocar a vida. Mas quando o pai falou de comprar uma pequena gleba de uma fazenda de 300 hectares de cabruca abandonada, Rodrigo embarcou na ideia. “Meu pai gosta de cacau e algumas pessoas me diziam que se fizesse do jeito certo o cacau era um negócio rentável. E eu queria empreender”, conta ele, já com o empréstimo quitado que foi levantado no banco para comprar a fazenda. “Digamos assim que foi uma mudança de chave na minha vida profissional, porque eu não imaginava mexer com propriedade rural, nem com nada disso.”
Rodrigo não conta quanto fatura hoje com seu negócio, mas vale registrar que o cacau tem batido preços históricos na Bolsa de Nova York, mesa financeira que dita os preços globais da amêndoa. No início deste ano, o preço foi a um pico jamais visto de US$ 11.461 a tonelada, que obviamente é menor hoje (na sexta-feira, 23, fechou em US$ 7.623 a tonelada em contratos para dezembro), mas deve se manter aquecido por um bom tempo por uma questão simples: falta cacau no mundo para o sagrado chocolate do dia a dia. Por isso, o “nem com nada disso” de Rodrigo é um projeto de verticalização para parte de sua produção, com o objetivo de ter uma marca própria de chocolates premium, um “tree to bar” (da árvore à barra).
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Mas o produtor não ficou sozinho, ele foi em busca de ajuda, embora tenha sido uma combinação com o pai Josely Sposito que a nova fazenda seria função sua. O pai, Josely Sposito, hoje, só ajuda no operacional. Rodrigo brinca: “É o meu funcionário favorito, porque é o funcionário mais barato.” Quando a fazenda abandonada foi para as mãos da família, a densidade de planta era muito baixa, da ordem de 230 plantas por hectare. “Era um cacaueiro velho com mais de 80 anos. Então, nós iniciamos uma renovação, começando por nove hectares. De 2015 em diante Rodrigo passou a fazer lavouras adensadas, com 1.100 plantas, atualmente na quinta safra da fruta.
“Nós não somos pioneiros, não me considero tão assim. Mas foi um trabalho que ficou bastante conhecido e aí começamos a nos tornar referência”, diz ele. “Se você me falar ‘ah Rodrigo, mas pessoas falam que sua propriedade é um case de sucesso’, eu te digo que nós estamos no caminho e hoje eu me sinto muito bem preparado, porque eu já sei muito o que não fazer”. diz ele. “Tem gente fazendo coisa muito melhor e com muito mais qualidade do que eu. E utilizo eles como exemplos para chegar onde eu quero chegar.” Rodrigo vai citando vários, entre aqueles que viu em reportagens, nas redes sociais e outros que admira de longa data, como o produtor Roberto Lessa, da Vila Opa, em Eunápolis (BA) e Carlos e Tais Tomich, novos donos da centenária Fazenda Capela Velha, de Ilhéus, comprada pelo casal há 14 anos.
Em busca do futuro do cacau
Pode não ser pioneiro, mas Rodrigo é um bom aprendiz. Seu cacau é rastreado e ele está em vários programas de qualidade, como o Cocoa Life, da Mondelēz International; o Nestlé Cocoa Plan, ambos programas globais de sustentabilidade do cacau, e o CocoaAction Brasil, da World Cocoa Foundation. “É meu objetivo, como empreendedor do cacau, ter um cacau de qualidade. Esses programas me auxiliam na minha educação enquanto gestor. Eu busca melhorar, não pelo incentivo financeiro que trazem, mas ir além, que é atender as legislações trabalhistas e ambientais e tudo mais, melhorar de fato a questão da gestão. A fazenda tem sete funcionários contratados pela CLT e permanentes para os trabalhos de campo.
Para melhorar o ambiente de trabalho, o produtor tem buscado mecanizar o que é possível num cacau de cabruca, onde o desenho das árvores mal plantadas o que nasceram do abandono da época da vassoura-de-bruxa é um entrave a, por exemplo, a entrada de tratores mesmo que pequenos nas lavouras. “É preciso ver a partir de quanto é viável investir R$ 250 mil em um trator, ou R$ 50 mil em implementos para fazer pulverização e tudo mais”, diz ele, que já mecanizou parte das operações.
Na fazenda, Rodrigo mora com a mulher Elaine, que cuida de uma parte da gestão, e os dois filhos pequenos. Noah, o mais velho, nasceu em fevereiro de 2021, ou seja, 34 anos separam as duas gerações. De Rodrigo para o pai, que nasceu em 1959, são 28 anos. Sobre o futuro, ele é pragmático. “Olhando para a frente, eu gostaria de ter uma marca, não só de chocolate, mas de derivados do cacau. Sei que não é fácil e estou focando em saber onde os outros estão errando para eu não cometer o mesmo erro. Hoje, como falei, estou descobrindo sobre a lavoura de cacau porque eu já sei que o meu modelo precisa de ajustes para ele ser ainda mais sustentável em produtividade e preço, além da floresta.” Vale registrar que Rodrigo já tem um projeto de marca registrada e um plano de negócios pronto.
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