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O Rei Macaco volta a causar – mas não no Palácio Celestial. Desta vez, o mítico animal lutador de kung fu está agitando a indústria de games como há muito não se via, colocando a China como protagonista em um cenário até então dominado por estúdios ocidentais.
Black Myth: Wukong causou frenesi na sua estreia global na última terça-feira (20). Em poucas horas, o game tornou-se o segundo título mais popular de todos os tempos, superando o recorde de reprodução de outros jogos badalados, como Cyberpunk 2077 e Counter-Strike 2.
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De acordo com dados rastreados pela plataforma online Steam, havia 2,2 milhões de jogadores online simultâneos ao redor do mundo no pico de acesso na quarta-feira (21), um dia após o lançamento do jogo do macaco chinês. Além disso, hashtags sobre o game acumularam 1,7 bilhão de visualizações na plataforma chinesa de microblogs Weibo (equivalente ao X, antigo Twitter).
A agitação criou um burburinho no setor mundial de videogames. Isso porque, pela primeira vez, a China foi capaz de desenvolver localmente um jogo do tipo AAA para PC e consoles – o Wukong está disponível no PlayStation 5, da Sony. A classificação Triplo-A é usada para jogos com orçamentos elevados e amplamente esperados pelos players devido à alta qualidade em termos gráficos e de jogabilidade, entre outros quesitos.
Portanto, o lançamento marca um ponto de inflexão para a China devido à fama e popularidade repentina. Para o Goldman Sachs, mais jogos AAA chineses devem entrar no mercado global no futuro.
Assim, a China está finalmente obtendo seu próprio jogo AAA que pode empolgar o mundo. “Black Myth: Wukong fará mais jogadores globais prestarem atenção aos jogos chineses”, disseram analistas da Topsperity Securities, sediada em Xangai.
Competição global
Mas isso não significa que estúdios tradicionais vão ficar para trás. “Pode haver maior encorajamento para novos jogos AAA”, diz o diretor administrativo da UBP, Vey-Sern Ling. Ainda assim, Daniel Ahmad, analista sênior da Niko Partners, avalia que o sucesso do Wukong mostra que desenvolvedores chineses podem competir no cenário global.
É aí que o setor no Brasil entra em cena. Para Marina Coelho, Global PMO Account Manager da dLocal, a indústria global de videogames tem a América Latina como foco decisivo de expansão.
Segundo ela, a região representa 10% dos jogadores globais. “Pode parecer um número inexpressivo, mas que se torna importante se descontarmos a área da Ásia-Pacífico” – a região onde a China se situa representa mais de 50% do total dos jogadores mundiais.
Estudo da consultoria Konvoy prevê o faturamento do mercado global de videogames em quase US$ 190 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão), com taxa anual de crescimento de 2%. Além disso, estima-se que o mercado brasileiro de jogos chegará a US$ 3,2 bilhões (R$ 18 bilhões) até 2027. O Brasil deve adicionar mais de 10 milhões de jogadores daqui a cinco anos aos atuais 50 milhões.
“Em um país com quase o dobro de celulares em relação à população, a expansão desse setor é imparável. É apenas uma questão de tempo até que gigantes do setor olhem para o mercado brasileiro como um dos pontos-chave para expandir seus negócios”, completa Marina.
Soft power
Além disso, a popularidade do game chinês tem o potencial de reforçar o chamado “poder brando” (soft power) da China nos mesmos moldes que a “cultura K”, de K-Pop e K-drama, elevou o status da Coreia do Sul no cenário mundial.
Desenvolvido pela Game Science, uma startup com sede em Hangzhou apoiada pela Tencent – a gigante de tecnologia dona do aplicativo de mensagens WeChat – o jogo é baseado na história de Sun Wukong, no clássico romance chinês do século XVI “Jornada para o Oeste”.
Trata-se de um mítico macaco que adquire poderes sobrenaturais ao praticar o taoísmo e pode se transformar em humanos, animais e objetos inanimados. “Assim como no Ocidente todo menino sonha em ser o Super-Homem ou algum outro super-herói [da DC ou da Marvel]; na China, o sonho é ser o Wukong”, diz o especialista em China, José Renato Peneluppi Júnior.
O brasileiro, que mora na China desde 2010, lembra que a história do personagem também foi usada pelo Partido Comunista Chinês (PCCh) na década de 60 com o intuito de propagar os novos valores do país. Segundo o especialista, o título original do filme “Causando no Palácio Celestial” carrega um conceito popular que se traduz em libertação das forças opressoras.
“Assim, o comportamento do Rei Macaco dá clareza da força e poder do super-herói chinês”, diz Peneluppi.
Segundo o jornal chinês Global Times, os jogadores globais poderão ter uma compreensão mais profunda da cultura tradicional chinesa enquanto se divertem.
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(*Com agências internacionais)
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