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É de sua sala em Curitiba que o engenheiro mecânico Rafael Manfroi Miotto comanda uma parte estratégica da poderosa CNH Industrial no mundo, dona das marcas Case e New Holland para agricultura e construção, um pool de fábricas de máquinas, equipamentos agrícolas e de serviços financeiros que, em 2023, faturou globalmente US$ 24,7 bilhões (R$ 135,2 bilhões na cotação de atual). Desse total, 74% vieram do agronegócio, ou seja, US$ 18,1 bilhões. Miotto é o presidente da CNH para a América Latina, região que no agro respondeu por US$ 3,2 bilhões (R$ 17,5 bilhões), com destaque em grãos e cana-de-açúcar.
Para 2024, por causa de efeitos climáticos globais, é esperado um recuo na receita total do segmento agrícola de até 12%, mas que não tira o apetite das marcas que miram drivers poderosos dessa engrenagem, como crescimento populacional, baixa disponibilidade de mão de obra qualificada, empuxo contínuo da mecanização e digitalização do campo devido à conectividade e grandes projetos de infraestrutura. Vale registrar que o investimento anual em pesquisa e desenvolvimento da empresa é da ordem de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,2 bilhões).
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“As tecnologias – e não só a tecnologia de máquinas, mas a tecnologia agronômica do Brasil – estão sendo testadas lá fora, são consultadas e precisam ser levadas em consideração. Tem áreas de inovação em que o Brasil está bem na frente”, diz Miotto. Mas ele faz um alerta: o mercado está amadurecendo e crescendo; há iniciativas privadas, mas são necessárias políticas para que a capacidade de investimento do produtor rural não fique estagnada.
Não por acaso, Miotto foi um dos executivos que estiveram em Brasília em nome da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores para discutir o Plano Safra com lideranças do governo, no primeiro semestre do ano, incluindo o presidente da República.
“Há necessidade de mais recursos para o Moderfrota”, diz ele, que, na ocasião representava todo o setor, incluindo outros gigantes desse mercado, como a John Deere e a AGCO, dona de marcas como Massey Ferguson, Fendt, Valtra e Challenger Tractor.
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Segundo a consultoria Mordor Intelligence, o tamanho do setor de máquinas agrícolas do Brasil foi de US$ 7,1 bilhões (R$ 38,9 bilhões) no ano passado e deve chegar a US$ 8,87 bilhões (R$ 48,5 bilhões) anuais até 2028.
Outro ponto de convergência desses três grupos que dominam o mercado de máquinas é a conectividade no campo. Um projeto comum que reúne concorrentes é a ConectarAgro, em que, além da indústria, estão empresas de telefonia, como TIM e Vivo, e de inovação, como a AWS (Amazon Web Services). Apenas 37% dos imóveis rurais no país têm cobertura 4G em toda a área de uso agropecuário, o que corresponde a 19% do território plantado, que é de cerca de 64 milhões de hectares. “Sem conectividade, nem a nossa máquina e nem a de ninguém vai usar toda a tecnologia embarcada”, reflete Miotto.
“A CNH não só está junto, como coloca dinheiro no processo. Em 15 dias, fechamos 1 milhão de hectares de cobertura de antenas da TIM junto ao pacote de máquinas que vendemos. Com conectividade, cada um vai buscar seu espaço.” Cada antena cobre uma área de 40 mil hectares, em média.
Com mais conectividade no cenário, os esforços atuais da indústria são direcionados para automação, autonomia e robótica na agricultura de precisão. No caso da CNH, há também um investimento crescente em combustíveis alternativos, como o biometano.
Conectar máquinas e equipamentos também é chave para um esforço de integração dos concessionários da marca, com destaque para os centros de assistência de conectividade, em que funcionam serviços aos produtores.
Em abril, começou a funcionar a 100ª unidade. Hoje, a partir desses centros, 10 milhões de hectares são monitorados, dos quais 80% estão no Brasil. “A máquina agrícola é uma indústria ambulante”, afirma Miotto. “E a conexão é um trunfo para a produtividade. O que temos em mãos é real, não são mais casos teóricos. E vale para toda a operação.”
Ele conta que um exemplo recente relatado por um dos centros foi de uma colheitadeira operando no campo com algum erro de configuração, o que fazia a máquina patinar, levando a mais custo por hectare e uma operação mais devagar do que o ideal. “Parece simples, mas pode haver perdas grandes por causa da patinagem de máquinas. E isso é algo simples de resolver ali na hora, com o monitoramento; mas, se fica para depois, reflete na lucratividade daquela operação”, diz ele. Vale registrar que o consumo de combustível responde por cerca de 35% do custo da produção das lavouras no país.
*Reportagem publicada na edição 118 da Revista Forbes, com valores em Real atualizados.
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