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Beatriz Souza fez história ao conquistar o primeiro ouro do Brasil na Olimpíada de Paris. Além de trazer a medalha para casa, a judoca conquistou uma legião de fãs pelo país como exemplo de força e superação. Aos 14 anos, ela saiu de casa para seguir o sonho olímpico e, no último sábado (10), voltou para sua cidade natal, Peruíbe, no litoral paulista, com duas medalhas no peito. “Abri mão de muita coisa para estar aqui. Hoje, posso falar que sim, realmente vale a pena.”
Em sua estreia nos Jogos Olímpicos, a atleta não apenas levou o ouro, como também ajudou a conquistar o bronze por equipes ao lado da seleção brasileira de judô. Mas o sucesso, para ela, não se resume às medalhas: “Agora, envolve muito mais. Quero ser um espelho para as pessoas.”
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Não faltaram inspirações para a atleta, dentro e fora do tatame. Beatriz construiu sua carreira no esporte graças ao esforço dos pais, Poscedonio de Souza e Solange Rodrigues, que se desdobraram para investir no sucesso da filha. Em Paris, a atleta dedicou a vitória à sua avó, Brecholina da Silva, que morreu em junho de 2023. “Sempre tive excelentes exemplos de guerreiras na minha vida, é de onde eu tiro a minha força.”
Beatriz Souza, ou Bia, foi abraçada pelos fãs do Brasil. No dia da competição em Paris, somava 13 mil seguidores no Instagram e alguns torcedores brasileiros em meio à multidão francesa na arena do Campo de Marte. Hoje, acumula mais de 3,4 milhões de fãs nas redes sociais.
A judoca ainda está se situando depois da vitória em Paris, enquanto se prepara para as próximas conquistas rumo a uma nova medalha em Los Angeles. “Por mais que possa parecer impossível, não é. Mas não vai ser fácil.”
Confira os destaques da entrevista
Forbes: Como surgiu sua paixão pelo judô?
Beatriz Souza: Comecei o judô porque eu era uma criança muito hiperativa. Cheguei a fazer natação e dança para ver se acalmava, mas nada dava resultado. Meu pai, que é um ex-judoca aposentado, me levou para assistir um treino e foi aí que eu me apaixonei pelo judô e pelo esporte. Passou uma semana e já estava treinando com o pessoal.
Desde então, não parei mais. Com 14 anos, fui para São Paulo. Fiquei uns 10 meses no Palmeiras e, depois, fui convidada para o Esporte Clube Pinheiros, que é onde estou até hoje.
O significado de sucesso mudou para você depois das medalhas olímpicas?
Normalmente, o atleta tem uma visão só de resultado e de ir atrás de mais medalhas. Agora, envolve ser espelho para outras pessoas. Se eu vejo que as crianças começaram o judô por minha causa ou não desistiram de um sonho porque se inspiraram em mim, com certeza posso chamar isso de um grande sucesso.
Como está lidando com a fama nas redes sociais?
Ainda é novo para mim. No dia da competição, acordei com 13 mil seguidores e fui dormir com um milhão e meio. Ver o quanto está crescendo é muito bacana. Espero poder trazer um pouco mais da minha vida e da trajetória de um atleta de rendimento para o pessoal acompanhar um pouco da loucura e se inspirar.
Como você avalia sua trajetória?
Abri mão de muita coisa para estar aqui. Hoje, posso falar que sim, realmente vale a pena. Mas, no caminho, sempre tive dúvidas se estava fazendo a coisa certa. Vejo que me mantive muito bem durante todos esses ciclos. Desde que comecei a disputa da vaga de Tóquio, tive uma evolução muito grande, sempre me mantendo no pódio e brigando pela medalha. Espero continuar nessa evolução até Los Angeles.
O que podemos esperar de você até a próxima Olimpíada?
Espero amadurecer e crescer ainda mais no judô, com uma evolução não só dentro do tatame, mas fora também, como pessoa. Não vai ser como a primeira vez, mas tenho certeza que vai ser mágico. Sempre faço da competição meu parque de diversões.
Muitas brasileiras começaram a se inspirar em você. Já tinha imaginado ser exemplo para outras mulheres?
Nunca tinha passado pela minha cabeça que eu ia chegar aqui. Sempre tive muita inspiração, não só dentro de casa, mas nos tatames também, com colegas de treino.
Quando cheguei no Pinheiros, estava simplesmente dividindo o tatame com Leandro Guerreiro, Tiago Camilo e Rafael Silva, então não me faltavam inspirações ali. A forma deles de me contarem suas histórias me fez querer escrever a minha também.
Usei eles como espelho e espero que as pessoas façam o mesmo comigo. Mas não só como um objetivo profissional, e sim na vida, para ser uma pessoa melhor e alcançar os sonhos, mesmo que não seja no esporte. Quero muito ser uma inspiração positiva.
Você sempre fala sobre a importância dos seus familiares na sua trajetória. Qual a sua relação com as mulheres da sua família e como elas te inspiraram?
Deus me abençoou com uma família incrível e cheia de inspirações. Minha mãe é maravilhosa, uma super guerreira. Meus pais sempre trabalharam muito, então nunca faltou nada para mim e para a minha irmã quando éramos crianças, graças à luta deles.
Minha avó, para quem eu dediquei a medalha, sempre foi uma guerreira também. Criou minha mãe e meu tio desde cedo porque meu avô faleceu novo. Sempre tive excelentes exemplos de guerreiras na minha vida e é de onde eu tiro a minha força. Elas nunca pensaram em desistir e sempre seguiram em frente, foram minhas inspirações dentro de casa.
Você faz questão de que sua família fique em casa durante as competições. Como surgiu esse hábito?
Desde que eu saí de casa, eles nunca assistiram uma competição presencialmente. Sempre acompanham pela internet. Eu não ia fazer nenhum teste em Jogos Olímpicos, não era o momento de testar nada. Meu marido queria muito ir, mas avisei logo no começo. Saber que eles estão bem e seguros em casa me deixa mais tranquila, não preciso me preocupar.
Você já se sentiu sozinha em algum momento nessa trajetória? Teve alguma vez que pensou em desistir?
Com 15 anos, já estava fora de casa. É muito mais difícil sair de onde tem tudo arrumado e a comida feita para começar a se virar com tudo. O amadurecimento teve que ser muito rápido, em questão de meses. Foi uma fase bem difícil para mim, mas o que me manteve firme nesse caminho foi a esperança de realizar o sonho da medalha olímpica. Sempre foi o meu maior foco.
Qual foi a sensação de entrar na arena em Paris antes da luta?
Quando passei pelo corredor para entrar na área de competição, bem embaixo da arquibancada, meu coração estava acelerado. Na hora que cheguei na entrada e deu para ver o lugar, me deu uma tranquilidade gigante. Falei ‘estou em casa, está tudo bem. Eu sei o que fazer aqui’. A competição toda fluiu, estava super à vontade e muito feliz de estar vivendo tudo aquilo.
Quais dicas você deixa para quem quer seguir os seus passos?
Escutem seu Sensei. Pode parecer loucura, mas eles têm uma experiência grandiosa. Se inspirem em grandes atletas, sejam disciplinados e acreditem no processo. Por mais que possa parecer impossível, não é. Mas não vai ser fácil.
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O post Beatriz Souza: “O que me manteve firme foi o sonho da medalha” apareceu primeiro em Forbes Brasil.