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Eu sei que vou entrar em um campo minado, porque muitas pessoas sentem-se desconfortáveis ao lerem sobre alguma personalidade famosa ou ao saberem de algum conhecido seu que acaba de assumir uma relação amorosa com alguém bem mais jovem.
É como se não fosse possível uma relação genuína entre pessoas com uma diferença etária significativa. E eu me refiro aqui não apenas aos relacionamentos amorosos, mas às amizades e aos times montados por muitos gestores.
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Começo por dizer que amar e se relacionar dá trabalho e não seria diferente com um casal em que a distância etária é maior. Entretanto, alguns aspectos dessa relação podem ser mais desafiadores.
Um deles diz respeito à cultura em que vivemos, que tende a valorizar a parceria como aquela que é duradoura, que leva ao casamento e à criação de filhos. Relacionamentos que fogem a esse padrão muitas vezes são estigmatizados (embora isso já venha mudando).
Um estudo mostrou que no Irã, por exemplo, a satisfação dos casais com gap etário maior com o casamento não foi diferente daquela em que o par tinha mais ou menos a mesma idade, porque naquela cultura a diferença de idade numa relação amorosa é mais aceita.
Outro desafio diz respeito às referências e expectativas, que podem ser bem distintos. Isso não quer dizer, no entanto, que cada um não possa aprender a respeitar e valorizar os gostos e valores do outro e, com isso, ampliar o próprio repertório de referências. Aliás, isso vale até para casais em que não há muita distinção etária.
Um outro ponto é que, quase sempre (senão sempre), encaramos duas pessoas que estão em fases de vida significativamente diferentes como uma delas tendo uma forma de poder sobre a outra, não importa se a pessoa mais velha é o homem ou a mulher.
Não podemos negar que existam relacionamentos intergeracionais que passam por isso ou que o mais velho queira tirar alguma vantagem do mais novo por meio da relação, mas também é possível pensar que dois adultos maduros, independentemente de qual seja a diferença de idade entre eles, possam ter um relacionamento saudável.
Idade afetiva, ou seja, a maturidade que temos para encarar a vida e as dificuldades que ela nos traz, conta mais do que idade cronológica.
Eu diria que, qualquer que seja a diferença de idade entre o casal, o mais importante é que haja respeito pelos desejos do outro e que eles conversem franca e diretamente sobre o que cada um quer e o que cada um é capaz de dar. Penso que assim, qualquer relação seja capaz de florescer.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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