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O economista Antônio Delfim Netto morreu na madrugada desta segunda-feira (12) em São Paulo, aos 96 anos. Ele estava internado há uma semana no Hospital Israelita Albert Einstein. A causa da morte não foi divulgada. Segundo a assessoria de Delfim Netto, ele faleceu devido a “decorrências de complicações no seu quadro de saúde”.
Durante sua longa trajetória, Delfim Netto foi Ministro da Fazenda e do Planejamento durante boa parte da ditadura militar. Foi embaixador do Brasil na França e foi eleito para cinco mandatos como deputado federal após a redemocratização.
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Foi o idealizador do chamado “milagre econômico”, um período de crescimento acelerado da economia na década de 1970, baseada na atração de capital externo e em pesados investimentos estatais. As taxas de crescimento registradas naquela época eram superiores a 9% ao ano.
Foi a época de grandes obras como a Ponte Rio-Niterói e a Transamazônica, além das usinas nucleares. Delfim ficou marcado também por ter sido um dos signatários do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), de dezembro de 1968, que endureceu o regime militar e permitiu a perseguição a rivais políticos do governo.
Logo ao assumir o cargo, no governo de Arthur da Costa e Silva (1966-1969), Delfim anunciou o tabelamento e a redução da taxa de juros e a ampliação do crédito para combater a inflação e acelerar o crescimento. Também aumentou o gasto público e incentivou o investimento privado nas indústrias. Delfim permaneceria no cargo até 1974, fim do governo de Emílio Garrastazu Medici.
Apelidado de “czar da economia”, Delfim aproveitou as medidas de exceção para mandar na economia. “Usei as condições dadas pelo AI-5 para baixar um decreto-lei com praticamente toda a reforma tributária que eu queria fazer e mais uma porção de medidas importantes”, disse ele durante uma entrevista em 1998.
Após a redemocratização, Delfim se reinventou. Dizia em vida ter sido três: o primeiro, um socialista fabiano, que defendia reformas e ações pacíficas para se chegar ao socialismo. O segundo, o ministro todo-poderoso do governo militar. E o terceiro, o que contribuiu com as políticas sociais dos dois primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).
Trajetória
Antônio Delfim Neto teve origem humilde. Nasceu no baixo operário paulistano do Cambuci em 1º de maio de 1928, filho de imigrantes italianos, um condutor de bondes da CMTC e de uma costureira. Graças a um erro do escrevente durante a imigração, o sobrenome Delfini tornou-se Delfim.
Perdeu o pai cedo e por isso começou a trabalhar aos 14 anos como contínuo (ou mensageiro) da Unilever do Brasil, então chamada Gessy Lever. A mãe viúva cobrava o desempenho escolar do menino com rigor. Estudou contabilidade e pensou em ser engenheiro. “Mas o curso levava muito tempo e eu precisava me formar logo para me sustentar. Acabei virando economista”, contou numa entrevista.
A então recém-formada Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo aplicava um exame rigoroso, que incluía provas orais. A decana da faculdade, a professora Alice Piffer Canabrava (1911-2003) quase reprovou o jovem candidato. “Você não entende nada de economia, mas vou te aprovar porque você é bom de matemática”, disse ela.
Aprovado no curso em 1948, passou a trabalhar como escriturário no DER (Departamento de Estradas de Rodagem). Formou-se em 1951 e logo tornou-se professor assistente. Entre 1952 e 1959 foi professor de estatística econômica. Com a tese “O Problema do Café no Brasil”, iria se tornar em 1958 professor titular (ou catedrático, como se dizia na época) de economia brasileira.
Em 1966 teria seu primeiro cargo público. Laudo Natel, governador indicado para o Estado de São Paulo, procurou na USP um “garoto bom de matemática” para a Secretaria da Fazenda. Delfim foi o indicado. Além da competência técnica, era um negociador habilidoso e bem-humorado.
O trabalho em São Paulo deu-lhe visibilidade. Em 1967, aos 38 anos, tornou-se o ministro da Fazenda mais jovem da história. Assumiu a pasta durante o governo Costa e Silva para só deixá-la em 1974, no fim do governo Médici. Comandaria a economia em 13 dos 21 anos de ditadura.
O crescimento econômico foi baseado em capital externo. No início dos anos 1980, a alta dos juros nos Estados Unidos levaria à crise da dívida. Delfim capitaneou medidas duras de ajuste, que levariam a uma recessão pesada entre 1982 e 1983.
Redemocratização
Depois de ter comandado a campanha vitoriosa de Jânio Quadros para a Prefeitura de São Paulo em 1985, Delfim foi eleito em 1986 deputado federal pelo PDS, partido do governo. Na época, defendia o bipartidarismo e o voto distrital. Até 2007, atravessaria os governos Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula em cinco mandatos consecutivos pelos partidos PDS, PPR, PPB, PP e PMDB.
Foi crítico do governo Sarney e do plano Cruzado. Em 1992, votou a favor da abertura do processo de impeachment do presidente Collor. No governo Itamar, considerou eleitoreiro o lançamento do plano Real. Chegou a elogiar as políticas de privatização de FHC num primeiro momento, mas criticava a política de juros altos e chamou o tucano de o “Exterminador do Presente”.
Também manteve relação próxima com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, embora tenha sido filiado ao Partido Progressista (PP) e ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), à época conhecido como PMDB. Na década de 70, foi embaixador do Brasil na França por três anos.
Vida pessoal
Leitor voraz, Delfim chegou a ter uma biblioteca de 250 mil livros. Doou tudo para a USP em 2011. “Estou velho e a USP vai durar mais do que eu”, disse ele.
Delfim foi um grande frasista e se caracterizou por um humor cáustico. “Dvida não se paga, se administra”, dizia ele. Porém, sempre negou ser o autor da frase que mais lhe atribuíram: “Primeiro é preciso fazer crescer o bolo, para depois reparti-lo.”
Ligeiramente estrábico, baixo e gordo, Delfim era vítima fácil dos cartunistas. Levava o tema com bom humor. Desde 1967, colecionava charges que o representavam e mantinha algumas na parede do escritório de sua consultoria, em uma casa no bairro do Pacaembu, em São Paulo.
Foi casado com Mercedes Saporski Delfim, morta em 19 de maio de 2011, aos 93 anos. Teve uma filha, Fabiana Delfim, e um neto, Rafael.
Escolhas do editor
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