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Todas as moedas emergentes vêm sofrendo os impactos da política monetária apertada do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Os juros nos Estados Unidos estão na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano desde meados de 2023. Esse é o maior percentual em 23 anos, desde 2001. A alta dos juros drena recursos dos países emergentes, eleva a demanda por dólares e faz as demais moedas perderem valor.
Entretanto, a desvalorização do real foi mais acentuada que a de outras moedas. Mesmo com uma taxa de juros alta no Brasil, a percepção de risco faz com que muitos investidores optem por ganhos mais seguros em outras economias.
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No começo de julho a moeda brasileira estava em sétimo lugar entre as que mais perderam valor frente ao dólar, com queda de 9,5%. Além dos juros nos EUA, as declarações do presidente Lula mostrando pouca convicção da necessidade de manter o orçamento público equilibrado contribuíram para a alta do dólar.
Para Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, se o real tivesse se comportado de maneira similar às demais moedas de países emergentes, a taxa de câmbio teria finalizado o primeiro semestre ao redor de R$ 5,10 e não nos atuais R$ 5,60. “Sem as declarações de Lula teríamos uma taxa de câmbio mais baixa, pouco acima de R$ 5,00”, afirma.
No dia 22 de julho de 2024, o governo anunciou um déficit de R$ 28 bilhões, contrariando a promessa anterior de déficit zero, prometida na aprovação do arcabouço fiscal, que substituiu o teto de gastos aprovado em 2016.
Para Rica Mello, economista e fundador do grupo BCBF, empresa de administração de negócios, o equilíbrio das contas públicas é essencial para evitar a fuga de capital. “A falta de clareza das autoridades faz com que investidores se afastem, preferindo aplicar nos Estados Unidos”, diz.
As expectativas dos investidores com as políticas fiscal (que trata dos gastos públicos) e da política monetária (a definição dos juros pelo Banco Central) têm um impacto direto no câmbio. Nos últimos seis meses o Brasil vem se destacando pela saída de recursos de investidores internacionais. No primeiro semestre houve uma perda de cerca de R$ 41 bilhões só na renda variável.
De acordo com Leandro Sobrinho, especialista em investimentos e sócio da Davila Finance, as declarações de Lula sugerem um aumento nos gastos públicos sem uma contrapartida clara em termos de receitas. Isso pode ser visto como uma tolerância do governo com relação à inflação, o que leva os investidores a buscarem proteção no dólar, tradicionalmente visto como um porto seguro.
Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, outro fator para a apreciação do dólar é a chance de Trump ser eleito nos EUA. “Sabemos que a postura fiscal dele nos Estados Unidos acaba favorecendo o consumo e, consequentemente, uma alta da inflação por lá.
Esse aumento faz com que os juros não caiam. E com eles altos, o dólar se fortalece no mundo”, diz. Ainda, Cohen palpita sobre a perspectiva da moeda americana. “Se a Europa tivesse reduzido os juros com as empresas aqui gerando resultados bons, acredito que o dólar estaria abaixo de R$ 5,00”, afirma.
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Além disso, a economista Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, diz que mesmo que o Lula não tivesse declarações polêmicas, seria difícil ver o dólar baixando. “Temos um cenário de câmbio depreciado, já que as projeções para as contas públicas são ruins”, afirma. O câmbio até meados de abril estava abaixo dos R$ 5,00 pelo fato da questão fiscal não estar em evidência.
“Quando começamos a acompanhar os temas relacionados às contas públicas, o governo admitiu que não entregaria um déficit zero em 2024. Logo, as autoridades adequaram o seu discurso e a moeda americana voltou um pouco abaixo dos R$ 5,50, mas nada igual ao começo do ano”, diz Abdelmalack.
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