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Na véspera do encerramento da Olimpíada de Paris, no dia 10 de agosto, 20 mil atletas amadores vão participar da inédita Maratona Para Todos (Marathon Pour Tous), concluindo o mesmo trajeto dos profissionais.
Entre os quase 200 brasileiros selecionados, está a executiva Ana Karina Scarlato, VP de Produtos e Inovação da Mastercard, que vai correr os 42km da prova completa. “Pela primeira vez na história das Olimpíadas, a corrida profissional vai se juntar com a corrida amadora”, diz.
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Para ser selecionada, ela se inscreveu e cumpriu as metas de treinos propostas no aplicativo do programa. “Eram desafios de todos os tipos, como correr 40km em uma semana, 5km em 20 minutos ou correr por 2 horas seguidas”, lembra. As metas também a ajudaram a treinar para um Ironman que fez no Havaí no ano passado. Foram 3,8km de natação no mar, 180km de bicicleta em estradas íngremes e 42km de corrida em mais de 11 horas de prova, que ela completou emocionada.
Mesmo sem muita expectativa de ser chamada para a Olimpíada, a executiva já estava com as passagens compradas e tudo agendado para assistir aos Jogos em Paris. Mas em fevereiro deste ano, foi surpreendida com um email dizendo que havia sido sorteada para correr a maratona. “Maravilhoso, agora bora treinar.”
Esporte e mundo corporativo
Ana Karina adotou esse estilo de vida há 8 anos – quase o mesmo tempo em que está no cargo atual. Desde que colocou o esporte na sua vida, notou uma mudança radical em todo o resto. “O dia é muito mais produtivo se eu começo fazendo minha atividade física. O esporte ajuda a manter meu nível de energia.”
Para conciliar uma rotina intensa de treinos e a vida corporativa agitada, ela organiza cada minuto do seu dia. Acorda cedo, às 5h, e às 6h já está na piscina. São dois treinos por dia e, aos finais de semana, pode chegar a treinar 8 horas seguidas para simular um Ironman. “Ser atleta amador exige muita disciplina e organização porque você não vive do esporte, você encaixa o esporte na sua vida no meio de tantas outras coisas.”
A rotina é corrida, mas ela não se imagina vivendo de outra forma. “Chegar ao final do dia e saber que consegui fazer algo por mim e também produzir no trabalho é muito gratificante.”
Mas nem sempre foi assim. Com 20 anos de carreira na indústria de pagamentos, sendo 10 deles na Mastercard, Ana Karina começou a correr buscando uma sensação de bem-estar quando parou de fumar. Além dos benefícios físicos, o esporte também ajudou na parte mental, que é essencial para um executivo e também para outras áreas da vida além do profissional. “Treinos muito longos vão além do físico, é um exercício mental.”
Inovação na veia
O esporte trouxe planejamento e disciplina para uma profissional que lidera grandes negócios para a empresa e tem interlocução com diferentes setores, do marketing à tecnologia.
Hoje, Ana Karina é responsável pelas áreas de core business, toda parte de cartões de crédito, débito e pré-pago para o mundo de consumer, ou pessoa física, e pela parte de PJ, com as soluções voltadas para empresas. Além disso, também está à frente da área de soluções digitais, que, segundo ela, diz respeito a “tudo aquilo que vai por trás da transação”.
Como seu cargo leva “inovação” no nome, também precisa estar atenta a diferentes mercados para trazer as experiências para o Brasil. “A pandemia acelerou o movimento de digitalização, o que tem tudo a ver com a minha área. Com isso, a gente trouxe soluções para o mercado que facilitam a jornada do consumidor.”
A executiva cita cases como o click to pay (solução para e-commerce em que o cartão é tokenizado e os pagamentos são feitos com um único clique). As primeiras operações foram habilitadas no Brasil este ano e, segundo a Mastercard, as transações globais com click to pay cresceram mais de 60% em 2023, em comparação com o ano anterior.
A implementação do débito online e de pagamentos por aproximação (NFC – Near Field Communication) também estão nessa agenda. “Na Austrália, quase 100% das transações já são por aproximação. O Brasil ainda tem muito potencial de crescimento”, afirma. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços mostram que no primeiro trimestre de 2024, o crescimento dessa tecnologia foi de 56,8% em relação ao mesmo período de 2023, com mais de R$ 305 bilhões pagos por aproximação. Foram, em média, mais de 2 milhões de pagamentos por aproximação por hora.
Construção de carreira e estilo de liderança
Economista de formação, Ana Karina levou skills analíticas que desenvolveu na universidade por onde passou. Trabalhou no BankBoston, Credicard e no Santander, onde viveu um dos momentos mais importantes da sua carreira.
Em oito anos de banco, passou por mais de cinco áreas diferentes, de inteligência comercial ao segmento de alta renda, e liderou o lançamento do Select no Brasil. “Foi muito legal porque envolveu todas as áreas e o banco parou para fazer o lançamento”, lembra. O projeto deu visibilidade e projeção à executiva, que era responsável por todos os detalhes do novo segmento voltado para clientes de alta renda – desde a definição do portfólio de produtos e o perfil do gerente que faria o atendimento até a decoração da agência.
Ao longo da sua trajetória, teve referências femininas importantes e pessoas que a apoiaram e ajudaram a formar seu próprio estilo de liderança. “Tive pessoas ao meu redor que me deram exemplos positivos e negativos, o que também é importante.”
Para ela, seu diferencial é gostar de resolver problemas (e lidar muito bem com eles). “Diria que é uma qualidade minha”, diz. Ana Karina acredita numa gestão transparente e direta: “As pessoas sempre vão saber aquilo que eu estou pensando”, diz. Talvez por isso nunca tenha havido espaço para desrespeitos ao longo da carreira. “Melhorou muito, mas não é fácil ser mulher no mundo corporativo.”
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A trajetória de Ana Karina Scarlato, VP de produtos e inovação da Mastercard
Primeiro cargo de liderança
“No Santander como gerente de produtos. Foi difícil, a primeira coisa que a gente tem que aprender é ter empatia. As pessoas são muito diferentes e a gente precisa saber respeitá-las. E conseguir criar uma relação de confiança e de troca que é tão necessária para fazer gestão de pessoas. Eu amadureci muito como gestora, à medida que o time cresce e você tem contato com diferentes perfis, backgrounds e situações de vida. Isso contribui para você aprender lidar e hoje eu adoro. Tento me colocar bastante acessível, sou mentora e adoro fazer conversas de discussão de carreira.”
Quem me ajudou
“Graças a Deus eu tive pessoas que olharam por mim e me ajudaram a desenvolver. Tenho uma ex-chefe do Santander que foi uma pessoa muito importante para mim, uma aqui na Mastercard também que hoje é minha amiga pessoal. Pessoas que realmente me ajudaram no meu desenvolvimento, me deram exposição, foram justas. Meu chefe atual também é fantástico, eu agradeço e espero continuar com pessoas me dando suporte até o último dia.”
Turning point
“O lançamento do Select no Brasil foi um dos projetos mais interessantes que eu toquei porque envolveu o banco inteiro. O banco parou para fazer o lançamento do do Select e liderar o projeto foi muito enriquecedor porque eu tive que ter contato com todas as áreas do varejo, desde o RH para definir o perfil do gerente que faria o atendimento, descobrir a agência, então toda a parte de logística, a decoração da agência, tudo no mínimo detalhe, o portfólio de produtos desde o produto de crédito ao produto de investimento, cobrança porque o cliente alta renda também vai para a cobrança e como a gente trataria esse cliente de forma diferenciada. Então foi muito legal. Muita exposição e muito aprendizado, desde como liderar um grande projeto a conhecimento técnico de produto, relacionamentos.”
O que ainda quero fazer
“No trabalho ainda tenho como ambição fazer uma carreira internacional. A Mastercard realmente valoriza essa troca entre países e abre caminhos que possibilitam essas experiências para os funcionários. Então é algo que realmente eu busco a médio prazo. Talvez conhecer outros produtos também, tem um pilar muito forte na Mastercard que é toda parte de cibersegurança que eu também acho que é muito interessante, uma tecnologia que está crescendo muito e cada vez ganhando mais peso e importância. No pessoal, eu diria que quero conseguir continuar saudável para praticar meus esportes. Realizei um grande sonho que foi fazer o Ironman no Havaí, e gostaria de ir de novo.”
Causas que abraço
“Eu gosto muito de um tema que está diretamente ligado comigo, que é a inclusão financeira. Não só inclusão, mas educação também. Porque não basta incluir, no mínimo você precisa ter um pouco de conhecimento financeiro para conseguir lidar com instrumentos de pagamento. A gente precisa realmente capacitar as pessoas a conseguirem gerir sua vida financeira porque consequentemente outros benefícios virão. Na vida pessoal, eu busco ajudar atletas amadores a também terem seu lado esportivo. Faço doações de materiais esportivos e coisas que não uso mais, principalmente para jovens.”
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