Rota do Bode: conheça o movimento liderado por povos de raiz africana no semiárido do Brasil

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Marcelino_RibeiroEmbrapa

Criação sustentável de caprinos faz parte das metas da Rota do Bode

O semiárido brasileiro é uma região que abarca 1,129 milhão de km² nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. A criação de caprinos é uma atividade de peso nesse espaço. São cerca de 90% do rebanho caprino do país, do total de 9 milhões de animais.

Na semana passada, por quatro dias um grupo importante de especialistas se reuniu em Jaguarari, no semiárido Baiano, para o 1º Encontro do Comitê da Rota do Bode, uma articulação entre o Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matrizes Africanas (FONSANPOTMA) e Comunidades Tradicionais Fundo de Pasto.

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O objetivo do grupo é criar canais de comercialização seguros visando os povos de matriz africana. Esses povos tem em sua cultura alimentar a sacralização dos caprinos e sua carne como a principal fonte de proteína animal.

O FONSANPOTMA representa esses povos em diferentes conselhos nacionais, como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF), órgãos do governo, e também a Embrapa por meio da unidade Embrapa Alimentos e Territórios, localizada em Maceió (AL).

Um dos alvos da Rota do Bode é melhorar as condições sanitárias dos animais, principalmente em função do transporte inadequado e ilícito, além do alto valor cobrado pelos atravessadores. A comercialização justa e solidária é um canal que pode mudar esse quadro.

Embrapa

Grupo de produtores de raiz africana estão entre as lideranças do Rota do Bode

“Entendemos que é viável desenvolver a caprinovinocultura na região sem deixar de se preocupar com a garantia da existência da nossa Caatinga”, diz Érica Daiane, do Coletivo Enxame, de Juazeiro (BA), grupo que reúne pessoas de diferentes segmentos em pautas como defesa do meio ambiente, educação, cultura, juventude, mulheres e convivência com o semiárido.

No caso da Embrapa, as primeiras reuniões com o FONSANPOTMA ocorreram em janeiro de 2023, durante o 8º Fórum Social Mundial. À ela caberia pensar uma estratégia de trabalhar a qualidade de alguns alimentos-chave para os povos e comunidades de matriz africana.

“A Rota do Bode deve ser o de garantir o bem estar dos animais, desde sua criação tradicional e agroecológica em áreas extensivas na Caatinga, ao seu transporte e descanso em veredas, até o seu abate e consumo nas Unidades Territoriais Tradicionais (UTTs), além de garantir o preço justo na perspectiva da sociobio economia solidária”, disse Fabrício Bianchini, analista da Embrapa.

Ricardo Elesbão, chefe de pesquisa e desenvolvimento desta unidade da Embrapa Alimentos e Territórios disse, também, que “além do suporte ao comitê, iniciamos uma discussão sobre a possibilidade de formatação de um projeto FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) que, a princípio, envolveria também as Embrapas Caprinos, Semiárido e Alimentos e Territórios, além do IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), a Central da Caatinga, o Governo do Estado da Bahia e Consórcio Nordeste.”

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Ao final do evento saiu a Carta de Jaguari, com pontos de atenção. O documento afirma que está em curso a articulação e implementação de uma Teia Nacional das Rotas do Bode, uma construção coletiva que deve se tornar política pública de Estado.

A Carta de Jaguarari afirma que é determinante a participação ativa dos governos com providências e investimentos para o suprimento de demandas específicas, a fim de assegurar que os povos tradicionais de matriz africana e comunidades de terreiros sejam beneficiados, tanto quanto os/as fornecedores/as dos animais.

“Os diversos atores presentes compreenderam que trata-se não apenas de uma política de reparação histórica, mas uma estratégia de garantia da segurança e soberania alimentar e nutricional destes povos, bem como a preservação da tradição, o que inclui seus sistemas alimentares. Nesse sentido, é essencial o engajamento dos diversos povos tradicionais de matriz africana e comunidades de terreiro, inclusive fortalecendo a criação do FONSANPOTMA nos municípios e regiões”, diz um trecho do documento. (Com Embrapa)

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